quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

As mulheres e o "Discurso sobre a Felicidade"


Lilian Velleda (*)

A editora Martins Fontes publicou em 2002 um livrinho intitulado "Discurso Sobre a Felicidade", cuja autoria é de Émilie du Châtelet.
Comprado em balaio, de pequeno o volume não tem nada.
Vez em quando volto a ele e sempre me assombro.
As frases de abertura de seu "Discurso" dão bem o calibre daquela mulher, atrevida mulher que ousou dominar o manejo da reflexão e da escrita. Sim, uma pensadora num século dito das "Luzes" masculinas.
Um ser pertencente a metade feminina da humanidade, metade então (e ainda) condenada ao silêncio público e a servir.
E o que nos diz Émilie mais adiante? Ela diz ser o amor pelo estudo a paixão mais necessária para a nossa felicidade, porque com ela evitamos colocar a nossa felicidade na dependência do outro.
Mas isso é outra história.
Por enquanto, quero compartilhar o início, o fio que se desprende da pena de Madame du Châtelet. Ouçam, porque válidas as palavras escritas entre 1746/1747, e inútil a tarefa de (re)dizer o que foi tão bem posto:
" Acredita-se comumente que é difícil ser feliz, e tem-se razão mais que suficiente para acreditá-lo; no entanto seria mais fácil ser feliz se entre os homens a reflexão e o plano de conduta precedessem
suas ações.
Somos arrastados pelas circunstâncias, e entregamo-nos às esperanças, que sempre nos restituem apenas em parte o que nela depositamos: enfim, só percebemos com toda a clareza os meios de sermos felizes quando a idade e os entraves que nos conferimos opõem-lhes obstáculos".
Casada com um militar, companheira de Voltaire e aos 42 anos enamorada de um homem dez anos mais novo, de quem teve uma filha,
Madame du Châtelet morreu com os três homens em sua cabeceira.
Demonizada pela sociedade, inscreveu seu nome e rompeu, de certa forma, com a finitude que nos espreita,

(*) advogada e escritora


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