quarta-feira, 31 de outubro de 2018

BOULOS EM ATO PÚBLICO

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Três dias após as eleições em algumas cidades do Brasil houve atos públicos para manifestar inconformidade com a escolha de Bolsonaro
A mensagem que se procurou transmitir, segundo os organizadores, é que vai ter resistência.
Um refrão que muito se ouviu foi " oô Bolsonaro presta atenção, a sua casa vai virar ocupação"

DISCURSO DE BOULOS NO SEGUNDO TURNO
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domingo, 28 de outubro de 2018

O BURGUÊS SEGUNDO SARTRE

O Burguês, segundo Sartre
do livro "O século de Sartre" de Bernard-Henri  Lévy (ed. Nova Fronteira)

Burguês é aquele que acredita que existe um “papel”e que encena a comédia do seu próprio papel, à custa dessa incessante e maravilhosa invenção de si. É o estado de espírito daquele que acredita que este papel existe, que ele tem um sentido, que o mundo é feito de um repertório de máscaras, bem ajustadas, em concordância: é alguém que “crê no mundo”, fecha-se às experiências da contingência e da náusea e vive na ilusão de que a sociedade é uma bela e boa máquina da qual ele seria um dos pistons e passará a maior parte de seu tempo na manutenção de seu piston.

Antes de sair de um dicionário das virtudes e de se aplicar, por exemplo, a um torturador, um assassino, um fascista no sentido corrente, um pervertido, é uma categoria metafísica que designa um cara q não duvida de nada e sobretudo de sua própria existenciazinha nessa grande e vasta sociedade, em que encontrou seu papel e seu lugar, acha natural que haja Ser em vez de Nada e que por causa disso, por causa deste não-espanto primeiro, pela falta de questionamento e de senso filosófico, não vê por que se inquietar com o estilo da sociedade em que vive, nem com a natureza do regime que a governa, nem finalmente com a posição que ocupa nela. É alguém que vê o mundo como uma ordem e sua posição neste mundo como uma absoluta necessidade e vai considerar seus privilégios como de fato privilégios de direito e esmagar, muito logicamente, quem quer que pretenda atacar este direito.

O que é mesmo um burguês? Não exatamente uma categoria política, nem uma classe social. É um modo de instalação no ser. É a parte que em cada homem conjuga a gravidade do espírito de seriedade e a ausência da dúvida. É burguês aquele que, achando necessária e legítima a ordem presente das coisas, dedica-se a traçar a dinastia dessa ordem. É burguês aquele que procura fundar sua certeza de que “bem antes de seu nascimento” estava o “seu lugar marcado, ao sol” de que “o mundo o esperava”, senão desde sempre, pelo menos há algumas gerações. É o lado “herdeiro” do burguês. É esse insuportável laço sucessorial.

É burguês aquele que nunca duvidando da ordem instituída das coisas, nunca hesitando, por um segundo sequer, quanto a sua tenebrosa e profunda legitimidade, dedica-se a perenizá-la. Garantido pela certeza ser o mundo essa bela e boa máquina em que ele tem seu lugar bem marcado, vai naturalmente escorar-se para que nada mude e que seja conjurado qualquer eventual surgimento de alteralidade que possa vir a tudo revirar. É o lado “conservador” dos burgueses.

É tendência deles perpetuar o que existe e, se possível, eternizá-lo. É burguês aquele que mesmo trabalhador ou proletário, sente-se enraizado, não apenas na sociedade, mas no mundo, não somente no mundo, mas no Ser. É burguesa a visão de um ser pleno, opaco, sem falha nem brecha, em que se teria, qualquer que seja seu estatuto social. “É burguês aquele que se dá o tempo de olhar bem o seu interior, para “o maciço granítico de seus gostos”. Tipo de existência do rochedo, a consistência, a inércia, a opacidade do ser-no-meio-do-mundo. Este que não tem a menor dúvida da natureza de seus gostos assim como a qualidade de sua inscrição neste mundo e pode responder com bom timbre “eis os meus gostos, eis o que sou, isto sou eu, eu sou o fulano de tal por inteiro”.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

QUE ABISMO?

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Que abismo?, perguntava um passageiro, distraído numa festa no bar do navio, a um outro que falava do perigo..
A charge explora a ideia de uma indecisão diante do abismo quando, na realidade, não podemos esquecer de procurar entender como se chegou até ele quando avisos tão claros vinham sendo dados..

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

PREFEITURA DE PELOTAS INOVA COM A PPP DO ASFALTO


A Prefeitura de Pelotas já implantou a sua primeira PPP. Trata-se da PPP do asfalto constituída pela própria Prefeitura, empresas de ônibus e munícipes condutores de veículos a fim de erradicar os buracos nas vias públicas de Pelotas. A Prefeitura coloca nos buracos das ruas o asfalto e as empresas de ônibus e munícipes realizam o trabalho de compactação do mesmo.
O trabalho de tapa buracos é realizado rapidamente pela PPP e, em menos de 30 minutos já pode-se perceber até a compactação do asfalto. Pena que os remendos realizado tornem-se, também rapidamente, banheiras onde a água empoça e faz com que reaparecerem os buracos recém tapados.
A Prefeitura, olhando sempre para o futuro, já planeja novas PPPs, dentre elas a da iluminação pública e a do saneamento. Um grande passo para a modernidade e para a solução de problemas antigos com a chancela da Prefeitura Municipal de Pelotas. Uma pequena ressalva a ser feita é que a Prefeitura deve exigir dos agentes que atuam na PPP o uso de equipamentos de proteção (EPI), equipamentos esses que não estavam sendo usados neste momento.
As imagens ilustram bem o trabalho realizado pela PPP!!!




quarta-feira, 24 de outubro de 2018

FIGUEIRA VIRA LENHA

.O Loteamento "Figueiras da Marina" ironicamente está tratando de extirpar umas poucas figueiras que restavam no acesso.
Esta perdeu no temporal recente a parte superior o que pareceu justificar a extinção completa da árvore que está virando lenha.
Retrata com exatidão o pensamento de algumas loteadoras reproduzindo o fato recentemente ocorrido no Laranjal com devastação de mato nativo.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

BOULOS - O DEDO DE LULA

As eleições de 2018 trouxeram mais uma vez uma candidatura presidencial do PSol. Vencendo a disputa interna para a indicação o candidato apresentado foi Guilherme Boulos, muito jovem ( 36 anos) , de classe média ( o pai é professor de Medicina) muito pouco conhecido até então nacionalmente.a não ser por episódios relacionados a ocupações promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores sem Teto.
Embora a militancia e a atenção que chamou de alguns eleitores  o resultado eleitoral de sua candidatura foi o pior dos anteriores do PSol com apenas 617 115 votos (0.58%)

O PSOL foi fundado em 6 de junho de 2004, após a expulsão traumática dos parlamentares Heloísa Helena, Babá, João Fontes e Luciana Genro do Partido dos Trabalhadores (PT). Recebeu apoio de intelectuais socialistas famosos, como Fabio Konder Comparato, do geógrafo Aziz Ab'Saber, do jornalista e ex-deputado Milton Temer, dos sociólogos Francisco de Oliveira e Ricardo Antunes, do economista João Machado, da economista Leda Paulani, dos filósofos Leandro Konder e Paulo Arantes e do cientista político Carlos Nelson Coutinho.

Desde então foi permanentemente um opositor dos governos do PT praticando o que se denominou crítica pela esquerda.

Boulos ingressou no PSOL em 2018 como pré-candidato à Presidência da República, com Sônia Guajajara como vice. Houve polêmica interna quanto à sua candidatura, especialmente devido ao fato da ausência de debate entre os candidatos e a um vídeo gravado por Lula, o qual diz que "seria a última pessoa do mundo a pedir para que Boulos não seja candidato". Ou seja o dedo de Lula teve influência na sua indicação 


 P.R.Baptista


Referencia -
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,candidatura-de-boulos-irrita-demais-pre-candidatos-do-psol,70002217751

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

PARA DERROTAR O FASCISMO - Marcos Rolim

O inominável estará no 2º turno, zombando da democracia e oferecendo a morte como seu verdadeiro programa de governo. É preciso derrotá-lo politicamente. Para tanto, há uma escolha a fazer, por sobre os partidos e seus pequenos discursos.
Há, efetivamente, a possibilidade de um agrupamento do lumpesinato político brasileiro, de perfil fascista, vencer as eleições. Desiludidos com a política tradicional, indignados com a corrupção, vitimados pelo crime, pela violência e pela incapacidade de diferentes governos em garantir sua segurança, atormentados por preconceitos e dogmas religiosos e inoculados pelo ódio, milhões de eleitores de todas as classes sociais estão firmemente dispostos a eleger um projeto fundado na promessa da morte, cujos heróis são torturadores e assassinos. Nunca antes na história desse País estivemos diante de circunstância tão grave.
Se o fascismo vencer, não haverá governo, mas um ópera bufa que nos conduzirá, em curto intervalo, à antessala de um golpe militar. Um golpe no sentido mais preciso dessa expressão, como ato fundador de uma nova ordem, arbitrária e excludente, onde os direitos são pulverizados e os opositores podem ser eliminados. Esse poderá ser o desfecho, porque um eventual governo Bolsonaro tende a agravar rapidamente a crise econômica e social; a produzir um surto de violência sem precedentes e, ao mesmo tempo, uma ampla resistência política e social. Em um ambiente marcado pela ausência de consensos mínimos, com um governo disposto a impor pela violência sua agenda intolerante, teremos as condições propícias para uma ruptura com a democracia. A eventual eleição de Bolsonaro com a assunção às posições de mando de uma seleção de incapazes, entre eles vários “profissionais da violência”, irá fraturar o Brasil de forma irremediável. A ignorância do primeiro mandatário e sua fixação em fuzilar pessoas se encarregarão do resto.
Trata-se, portanto, de impedir a vitória do fascismo. Qualquer outra alternativa será muitas vezes preferível. Por isso, no 2º turno, votarei contra Bolsonaro, marcando o número de seu adversário, seja ele Ciro, Haddad, Marina ou Alckmin (para citar aqueles que, efetivamente, disputam essa vaga).
Nesse momento, entretanto, importa selecionar a melhor opção para o Brasil e aquela que seja, também, a mais capacitada para vencer o fascismo de uma forma que ele seja não apenas eleitoralmente superado, mas politicamente derrotado. Antes de alinhar meu argumento, quero sublinhar que admiro muito a trajetória política e pessoal de Marina Silva; que Fernando Haddad me parece um quadro político capacitado e que considero Geraldo Alckmin um político coerente e experiente. Tenho diferenças políticas importantes com cada um deles e com seus partidos, assim com as tenho com o PDT e com Ciro, aquele que, a meu juízo, é o candidato mais preparado para assumir a Presidência e iniciar um ciclo virtuoso de reformas.
Para situar minha opção, lembro que a esquerda brasileira esteve, até há pouco, absolutamente alheia ao crescimento da alternativa representada por Bolsonaro (de certa forma, ainda está). Tenho escrito sobre Bolsonaro e a ameaça fascista no Brasil há alguns anos. A cada artigo publicado, o que colhi como comentários na esquerda era que eu estava exagerando os riscos. “Bolsonaro não têm fôlego”, “ele irá se desconstituir assim que os debates começarem”, “não tem estrutura partidária, nem trânsito entre a burguesia”, foram as observações típicas. Muito recentemente, amigos petistas ainda insistiam comigo que o “adversário real” seria Alckmin. Em alguns debates que participei, militantes chegaram a defender que Alckmin era o “fascismo dissimulado”, algo mais perigoso do que o “fascismo escrachado” do Coiso. Estavam redondamente enganados.
Por que se enganaram? Primeiro, porque não perceberam a dimensão e a natureza da crise política atual. Para a esquerda, a crise é, basicamente, o governo Temer e suas reformas antipopulares, o que é uma simplificação obtusa. A crise política real, cujos sinais estavam já nas mobilizações de 2013, diz respeito à ausência de uma alternativa política para o Brasil e ao descolamento da sociedade de qualquer referência nas instituições tradicionais, a começar pelos partidos. Ela surge da exaustão de um sistema político que promove corrupção, desperdício e ineficiência em escala industrial. Esses resultados se tornaram mais claramente perceptíveis quando veio a público o envolvimento (prática + conivência) do PT com a corrupção, primeiro com o “mensalão”, depois com os desvios bilionários na Petrobrás. O fato do partido nunca ter conseguido “acertar as contas” com os responsáveis por esse e outros ilícitos acentuou a desmoralização pública de um projeto que representou, por quase três décadas, o sonho de milhões de pessoas. O impeachment foi a consequência dessa desmoralização, mas só ocorreu porque os caciques partidários implicados na Lava Jato perceberam que Dilma não seria capaz de “estancar a sangria” e que Temer, o aliado preferido de Lula, seria o nome indicado para costurar um acordo “com o Supremo, como todos”.
O PT poderia ter cortado em sua carne e aberto, como o sugeriu Noam Chomsky, uma ”Comissão da Verdade” a respeito de seus erros (veja aqui: https://goo.gl/hMZYK2 ). Ao invés de enfrentar seus limites, entretanto, o partido produziu uma versão para o público. Como de costume, optou pela rima, não pela solução. Seu discurso foi o de que havia ocorrido um “golpe de Estado” e que a democracia tinha sido desconstituída. Em 2 de setembro de 2016, nota oficial da direção do PT (veja aqui: https://goo.gl/j2Fbm3 ) afirmou que o impeachment “violou a Constituição e provocou a ruptura do regime democrático”. A causa desse processo foi identificada nos seguintes termos: “Esta foi a saída encontrada pelos setores hegemônicos do capitalismo brasileiro para interromper e reverter o processo de mudanças iniciado em 2003”. Curioso que foi exatamente ao setor hegemônico do capitalismo brasileiro que o comando da economia havia sido entregue pelos governos Lula (Meirelles) e Dilma (Joaquim Levy). Ao mesmo tempo, as instituições democráticas seguiram operando nos marcos anteriores ao impeachment e todas as questões jurídicas ou políticas polêmicas se dão no quadro comum dos limites anteriores. Assim, por exemplo, sequer a nova jurisprudência do STF em relação ao início do cumprimento da pena aos condenados em 2ª instância assinala verdadeira ruptura em uma ordem legal que convive historicamente e sem contradições com 40% de encarcerados sem condenação em 1ª instância. Um fato que, assinale-se, nunca mobilizou a atenção da esquerda.
O fato de Dilma ter escondido a gravidade da crise econômica na campanha e de ter aplicado em seu 2º mandato um programa que era o oposto do que ela havia defendido durante as eleições – um caso típico de estelionato eleitoral - foi ignorado pelo PT. O fato de lideranças do partido passarem a ser sistematicamente apontadas como responsáveis por falcatruas de todos os tipos em delações premiadas passou a ser tratado como um subproduto do “golpe”. Assim, por exemplo, a nota oficial referida afirmou que a Operação Lava Jato era “um dos aríetes do movimento golpista”.
Todo o discurso do PT nesse processo se deu contra a Lava Jato. Independentemente dos erros e abusos praticados por policiais federais, promotores ou magistrados, não há dúvida de que os resultados da Lava Jato foram e seguem sendo muito importantes para o Brasil. Sem ela, a Petrobrás continuaria sendo saqueada e todo o esquema de corrupção das empreiteiras com os partidos, montado há décadas, seguiria operando desembaraçadamente. É curioso que a esquerda seja ciosa das garantias fundamentais quando suas lideranças são processadas, mas nunca tenha destacado que a corrupção atenta contra o Estado Democrático de Direito e que eleições estruturadas em esquemas ilegais de financiamento conspiram contra a democracia. Pelo contrário, para além das platitudes com as quais todos reafirmam seus compromissos contra a corrupção, surgiu na esquerda e em uma certa Sociologia prêt-à-porter a tese de que a corrupção é uma “cortina de fumaça”, um tema com o qual as elites brasileiras e a mídia desviam a atenção do povo dos “problemas reais”. Esse discurso, concretamente, protege os corruptos de todos os partidos.
O que a esquerda não percebeu é que esse discurso, funcional e muito operante para recompor sua base, estimulava o antipetismo e era aproveitado pela extrema direita como adubo para Bolsonaro. A alternativa política fascista se cria, então, pela confluência de dois grandes vetores: a) a descrença com a política frente à dimensão acachapante da corrupção revelada e b) o medo disseminado socialmente, inclusive entre os mais pobres, diante das dinâmicas criminais e violentas que degradam o padrão de vida urbana, produzindo cada vez mais sofrimento e desejos de vingança. São essas as principais circunstâncias históricas que viabilizam politicamente um discurso intolerante que oferece às pessoas duas garantias, ainda que, no caso, completamente ilusórias: “honestidade” e “segurança”, exatamente aquelas que os governos Lula e Dilma não conseguiram assegurar.
Se Haddad passar ao 2º turno, não conseguirá atrair o centro político para sua campanha. Aliás, não por culpa dele, mas pelos movimentos realizados por Lula, terá dificuldade de assegurar uma militância efetiva dos grupos situados na centro esquerda. Os riscos de Haddad ser derrotado por Bolsonaro – que irá se nutrir do antipetismo e de toda a nojeira disseminada nas redes sociais em torno do anticomunismo, da homofobia, das incompreensões quanto aos direitos humanos, além de sua própria condição de vítima de um atentado cujo autor teve militância na esquerda, são, por isso mesmo, consideráveis e já foram suficientemente identificados pelas pesquisas eleitorais.
Se Haddad passar ao 2º turno e vencer as eleições, entretanto, enfrentará condições muito mais difíceis do que aquelas com as quais Lula e Dilma se depararam ao início dos seus mandatos. Para compor uma base mínima no Congresso, o PT irá se juntar ao MDB onde estão os aliados de ontem e de hoje. Como todos sabem, o PT já firmou nessas eleições alianças estaduais com uma penca de “golpistas” e, não por acaso, Lula afirmou, antes de ser preso, que havia “perdoado os golpistas” (https://goo.gl/Sqwkjd) . Um governo do PT em aliança com o MDB será um governo contra a Lava Jato, que firmará compromissos para salvar Lula, Temer e os demais. Essa dinâmica irá subtrair legitimidade do governo, acirrando os ânimos ainda mais e impedindo o País de sair da crise. Um eventual governo de Haddad, reforçará os termos da mesma polarização ideológica que intoxica o País e será mais dependente da escumalha da política nacional do que já o foram Lula e Dilma. Sem a força política de Lula, sem condições de exercer liderança sequer sobre o próprio PT, Haddad seria, a par de suas qualidades, um presidente frágil.
Caso Ciro seja conduzido ao 2º turno, teremos uma dinâmica completamente distinta. Primeiro, os indicadores disponíveis mostram que ele pode vencer Bolsonaro por significativa margem. Além de ter baixa rejeição, o discurso de Bolsonaro não “cola” em Ciro. Um governo Ciro, no mais, teria todas as condições para iniciar um novo ciclo na política brasileira, marcado por um projeto nacional de reformas coerentes, de sentido democrático e orientado politicamente pelo objetivo de isolar o MDB e de enfrentar o rentismo que foi, até hoje, preservado por todos os governantes, incluindo Lula e Dilma. O programa de Ciro, “Diretrizes para uma estratégia Nacional de Desenvolvimento para o Brasil” (veja aqui: https://goo.gl/awVqco) registra compromissos avançados, situados muito além da pautas propostas pela esquerda.
Um governo Ciro romperá a polarização PT X PSDB que já se prolonga por 30 anos e que construiu os impasses que estamos vivendo. Ciro terá condições de formar um novo bloco histórico, inclusive com o apoio e a participação do PT e do PSDB. Esse resultado enfraquecerá a extrema direita, tornando muito menos provável que, nas próximas eleições, o fascismo se apresente com força redobrada e seja mesmo imbatível.
Por essas razões, no próximo dia 7 de outubro, votarei em Ciro Gomes (PDT) para presidente. Nunca antes em minha vida, tive tanta convicção em meu voto de 1º turno. Nem mesmo quando votei em Lula (duas vezes) e em Marina (duas vezes). O que há de diferente nesse momento histórico não são as qualidades dos candidatos, mas a radicalidade da ameaça que assombra o Brasil. Chegou o momento da cidadania consciente fazer aquilo que as burocracias partidárias foram incapazes: assegurar a ida ao 2º turno da melhor alternativa política para o Brasil se unindo em torno do candidato com maiores chances de evitar o horror. Ciro Gomes é essa resposta! 

sábado, 13 de outubro de 2018

ATO PRÓ-CANDIDATURA HADDAD

Na manhã nublada de sábado, ato promovido pela candidatura Haddad tem a presença de Manuela D'Ávila acompanhada no palanque por.Miguel Rosetto, que ficou fora da disputa para governador, e Fernando Marroni recém eleito deputado estadual. Uma corrida contra o tempo na tentativa de alcançar Jair Bolsonaro por enquanto, segundo as pesquisas eleitorais, mantendo vantagem

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

BOLSONARO É UMA AMEAÇA AO MEIO AMBIENTE - Sandro Miranda

BOLSONARO É UMA AMEAÇA AO MEIO AMBIENTE, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E TRATADOS INTERNACIONAIS

Sandro Ari Andrade de Miranda (*) advogado, mestre em ciências sociais.

Quem espera apenas violação aos direitos humanos numa eventual vitória do candidato neofascista brasileiro está enganado. Em todas as suas entrevistas o político do PSL/RJ tem demonstrado a sua rejeição ao meio ambiente, às comunidades tradicionais, ciência, tecnologia e a uma série de tratados e convenções internacionais em que país é signatário, especialmente as que versam sobre o clima.

Se nas últimas décadas o Brasil tem assumido a dianteira na construção de acordos multilaterais em defesa do meio ambiente, uma das primeiras propostas do ex-militar carioca é a renúncia ao Acordo de Paris, de 2015, no qual estão firmadas uma série de medidas para a redução da temperatura da Terra em 1,5º C. Tal postura resultou em pesadas críticas de uma série de organizações internacionais, inclusive de Erik Solheim, responsável pelo tema na ONU.

O Climate Home News, site que acompanha o andamento das políticas voltadas à defesa do clima do planeta foi expresso, em artigo assinado por Megan Derby: “A retirada de um importante país em desenvolvimento, que abriga a maior floresta tropical do mundo, seria um duro golpe para a cooperação climática internacional. Embora não tenha sido confirmado, o Brasil deveria sediar a cúpula climática da ONU em 2019”. O mesmo caminho seguiu o jornal britânico The Guardin, em 09 de outubro, para quem a “Amazonia em Risco Pelo Severo Ataque de Bolsonaro ao Meio Ambiente”.

Bolsonaro, por sinal, também pretende extinguir com o Ministério do Meio Ambiente e submeter o tema à Agricultura, como defende boa parte da bancada ruralista. O líder da União Democrática Ruralista, Luiz Antônio Nabhan Garcia e aliado do carioca, critica o que chama de “indústria de multas” aplicadas pelos órgãos ambientais. No seu entendimento o imenso volume de crimes e condenações pelo desmatamento do Cerrado e da Amazônia Legal seriam derivados de desconhecimento da Lei pelos ruralistas. Outra pauta sustentada pelo candidato e por seus seguidores é o fim do repasse de recursos para as organizações da sociedade civil.

Mas os problemas não param aí, o militar da reserva Oswaldo Ferreira (PSL), cotado para uma eventual pasta dos transportes criticou abertamente a atuação do IBAMA, do Ministério Público e demais órgãos ambientais na defesa do meio ambiente: “Eu fui tenente feliz na vida. Quando eu construí estrada, não tinha nem Ministério Público nem o Ibama. A primeira árvore que nós derrubamos (na abertura da BR-163), eu estava ali… derrubei todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco. Hoje, o cara, para derrubar uma árvore, vem um punhado de gente para encher o saco” [SIC].

Outras vítimas permanentes do candidato do PSL são as comunidades tradicionais, especialmente indígenas e quilombolas. Afirmou em entrevista à Folha de São Paulo nesta semana (09/10/2018) que pretende acabar com o “ativismo ambiental xiita” dentro do Governo Federal e com o que chama de “indústria da demarcação de terras indígenas”.

Quanto aos quilombolas, ele está sendo processado pela Procuradoria Geral da República por racismo, depois que declarou em plenário que os membros da Comunidade de Eldorado (SP), “não servem nem para procriar” e que o menor membro do grupo “pesa no mínimo quinze arrobas”.

Com relação à ciência e tecnologia ele propõe a extinção do Ministério e do pagamento de bolsas aos pesquisadores. No seu projeto as universidades devem se alinhar ao interesse das empresas para formar “futuros empresários”, empresas estas que financiariam as pesquisas. Obviamente, o campo das pesquisas sociais e não mercadológicas seria abandonado. Aliás, ainda no último dia 10 de outubro, o filho do Deputado, eleito Senador pelo Rio de Janeiro, Eduardo Bolsonaro (PSL), propôs abertamente a privatização das Universidades Federais.

Além do radicalismo contra a liberdade científica e a defesa do meio ambiente, o programa de Bolsonaro é cheio de erros grosseiros e desinformação. Ele pretende usar o “potencial inexplorado” do Nordeste para a produção de energias solar e eólica, seguindo modelo de países da Ásia. Ocorre que o Brasil é um dos 30 países que mais geram energia solar no planeta e o 8º em energia eólica e o Nordeste é um dos grandes responsáveis por isto. O Ceará é líder nacional na produção de energia solar distribuída pelo uso de placas locais e a Bahia o vice-líder.

Já com relação à energia eólica, dos 5 maiores produtores do país, apenas o Rio Grande do Sul não está no Nordeste. O primeiro colocado é Rio Grande do Norte, seguido da Bahia, do Ceará e o Piauí é o quinto. Aliás, este é um dos motivos pelo qual esta região tem sido a principal impulsionadora do PIB do país nos últimos 16 anos.

(*) advogado, mestre em ciências sociais.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

MANIFESTAÇÃO PRÓ HADDAD

.Manifestação em Pelotas de oposição à candidatura de Bolsonaro e apoio à de Fernando Haddad. Atos semelhantes foram realizados em várias cidades do país.

sábado, 6 de outubro de 2018

DANÇA À BEIRA DO ABISMO? - P.R.Baptista


Vamos relembrar, Hitler começa sua ascenção ao poder na Alemanha através de uma eleição.
O resto da história todos conhecemos.
Atualmente, pelo mundo, a direita tem avançado em países como a própria Alemanha entre outros.
Parece, agora, ter chegado a vez do Brasil.
Com isso Lula não contava quando do alto de sua profunda auto-confiança faz piada sobre o fim da direita e da permanência apenas do que considera como esquerda ou, no máximo, como direita civilizada representada basicamente pelo PSDB
A mesma direita com a qual foi fazendo sucessivos acordos especialmente com os partidos PMDB e PP alojados no governo e que alimentaram o golpe de 2016
Mas baseado na ampla popularidade que disfruta ou disfrutava voltaria, pensou, novamente ao governo
Só que surgiu uma prisão no caminho
As tentativas para que pudesse concorrer foram esgotadas até o último recurso, até o último segundo na realidade..
Finalmente restou correr e, às pressas, para apresentar um candidato.
Mas alguma coisa não está acontecendo exatamente como se pensava dentro da cúpula do  PT
Não pelo candidato mas pelas circunstância gerais que cercam o processo e que não foram, talvez, devidamente analisadas e previstas.
O clima de euforia na manifestação Elenao logo cessou quando, a seguir, a intenção de voto em Bolsonaro cresceu como um efeito imediato.
E não parou de crescer embora o candidato tenha cessado com a campanha de rua.
Este pode ter sido, finalmente, o sinal de alerta até então desconsiderado.
Passou-se a falar, inclusive, em Bolsonaro ganhar no primeiro turno. o que não parece provável
mas no segundo a possibilidade é real não só pelo voto dos que apóiam suas propostas mas, o que é terrível, pelo voto também dos não querem a volta do PT
Chegamos, assim, a uma situação, ao se ter perdido a oportunidade de uma frente de esquerda, cujo desfecho por enquanto imprevisível pode não ser muito agradável.
E o mais irônico é que a corrente democrática dispõe de um candidato, Ciro Gomes, que pode desatar este nó indo para o segundo turno no qual, segundo as análises, sairia vitorioso.
Seria o resgaste da memória de Getúlio Vargas e Leonel Brizola que são as referências mais importantes na política brasileira da defesa dos interesses nacionais e de nossa independencia econômica, social e cultural.
Enfim, os deuses deixaram em nossas mãos decidir se nos afastamos do abismo enquanto resta algum tempo.
Abismo no qual já mergulhamos durante vinte anos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

CHOMSKY PROPÕE QUE PT EXAMINE SEUS ERROS

PT deveria realizar 'comissão da verdade' para examinar seus erros, diz Noam Chomsky
Júlia Dias Carneiro

'Eles (PT) tiveram tremendas oportunidades. Algumas foram usadas em benefício da população, outras foram perdidas. É preciso perguntar por que isso ocorreu, e fazer isso publicamente', diz Chomsky, conhecido pelo ativismo de esquerda
Considerado um dos mais importantes linguistas do mundo, o filósofo e ativista de esquerda americano Noam Chomsky afirma que o PT deveria estabelecer "uma espécie de comissão da verdade" para analisar os erros cometidos pelo partido.

"Eles tiveram tremendas oportunidades. Algumas foram usadas em benefício da população, outras foram perdidas. É preciso perguntar por que isso ocorreu, e fazer isso publicamente. E realizar reformas internas que impeçam que aconteça outra vez", considera Chomsky, em entrevista à BBC News Brasil.

Conhecido por seu forte ativismo de esquerda, Chomsky tem saído em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assinou manifesto a favor do petista e participou, na última sexta-feira, em São Paulo, de um seminário organizado por Celso Amorim, ex-ministro de Relações Exteriores de Lula, na Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.

Por que juristas avaliam ser improvável que Lula seja perdoado e solto pelo próximo presidente
Para mandar no grupo da família: um guia de como checar se uma notícia é falsa
Nesta quinta-feira, ele deve visitar o ex-presidente na prisão em Curitiba.

Professor de linguística na Universidade do Arizona, Chomsky completa 90 anos em dezembro. Ganhou de presente adiantado da esposa brasileira um papagaio amazonense, verde e de cabeça amarela, batizado de Zé Carioca. O casal está ensinando-o a falar, em inglês, duas expressões-chave da teoria linguística de Chomsky: "language is a snowflake" ("a linguagem é um floco de neve") e "merge is basic" ("fundir é básico", em traduções livres).

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil - Lula nomeou Fernando Haddad como seu sucessor. Se ele vencer, terá que lidar com um forte sentimento anti-PT no país, que está muito polarizado. É possível superar essa polarização? É uma questão de diálogo e alianças?

Noam Chomsky - Se o PT reconquistar o poder político - ou mesmo se não chegar lá, de uma forma ou de outra -, uma grande tarefa que deve enfrentar é de estabelecer uma espécie de comissão da verdade para olhar com honestidade para o que ocorreu. Olhar com franqueza para as oportunidades que perderam. Isso teria um grande significado.

Eles tiveram tremendas oportunidades. Algumas foram usadas em benefício da população, outras foram perdidas. É preciso perguntar por que isso ocorreu, e fazer isso publicamente. E realizar reformas internas que impeçam que aconteça outra vez. Isso deveria ser feito independentemente de chegarem ao poder. O mesmo vale para todos os partidos, ninguém está imune a isso.

TRF-4, onde Lula foi condenado em segunda instância; para Chomsky, ex-presidente 'foi sentenciado de uma maneira completamente desproporcional'
BBC News Brasil - O senhor frequentemente elogia o período de crescimento e redução da pobreza na era Lula, mas seu governo incluiu práticas de corrupção, fisiologismo e toma-lá-dá-cá recorrentes na política brasileira, e que Lula antes condenava. Isso levou muitos a se desiludirem com o PT. Na sua visão, a inclusão social prevalece sobre esses problemas?

Chomsky - Houve isso e eu não justifico, não considero correto. Mas foi inevitável já que o PT tinha uma minoria no Congresso. Não poderiam operar sem fazer alianças.

O problema real foi outro. O problema real foi ter falhado em diversificar a economia. Naqueles anos, houve uma grande tentação em toda a América Latina de seguir a vocação tradicional de fornecer commodities a consumidores em outras partes do mundo, especialmente para a China, que se tornou uma grande compradora de soja, ferro. Manufaturados chineses baratos passaram a inundar o Brasil, inviabilizando a indústria de manufaturados local. Esse tipo de política não pode levar a um desenvolvimento de sucesso. A Venezuela também continuou dependendo completamente da exportação de energia.

Por outro lado, houve uma acentuada redução da pobreza, mais benefícios na saúde, mais oportunidade de educação. E o Brasil foi lançado para o centro do palco mundial, com as políticas de Lula e de Celso Amorim (o então ministro de Relações Exteriores) tornando-o um dos países mais respeitados do mundo. Então houve erros graves, mas houve também conquistas consideráveis.

BBC News Brasil - Mas essas conquistas começaram a entrar em declínio durante o governo do próprio PT.

Chomsky - Elas colapsaram quando a oportunidade fácil de produzir commodities para o que parecia ser um mercado insaciável se esgotou. E aí houve um grave problema. Que foi causado pela falta de diversificação. Mas a corrupção é real. É endêmica não apenas no Brasil, mas em todo o hemisfério.

BBC News Brasil - Então quando o senhor defende o PT, admite que houve corrupção?

Chomsky - Quem defende o PT?

BBC News Brasil - O senhor fala em defesa do Lula.

Chomsky - Falo em defesa do Lula de uma maneira muito especial. Digo que houve conquistas significativas, mas houve erros. E que ele agora foi condenado de uma maneira completamente desproporcional ao que fez ou deixou de fazer. Isso não é defender o PT, é descrever os fatos.

Embora Lula pareça ter se mantido afastado de corrupção pessoalmente, ele certamente tolerou muita corrupção no PT. Assim como o (Hugo) Chávez tolerou muita corrupção na PDVSA (a estatal de petróleo) na Venezuela. A corrupção no Brasil e em toda a América Latina é chocante, e isso já há muito tempo. É um problema sério, mas difícil de superar. Porque está entranhada no sistema eleitoral. É preciso desmantelar uma estrutura fortemente enraizada.

Chomsky defende que Lula concorra às eleições
BBC News Brasil - O senhor acha que Lula não tem responsabilidade pelos crimes de que foi condenado?

Chomsky - O crime específico pelo qual ele foi condenado foi a alegação de que um apartamento foi dado a ele, no qual ele nunca morou. Mesmo se assumirmos a versão mais extrema de que ele é culpado de todas as acusações, o que eu duvido, a sentença é completamente desproporcional.

O testemunho (do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro) inspira desconfiança por ter sido obtido em delação premiada. É evidente que a sentença é meramente punitiva e não tem relação com a natureza do crime. A negação ao habeas corpus (para que Lula pudesse recorrer em liberdade) reforça isso.

Ele sem dúvida deveria ter o direito de concorrer nas eleições, como recomenda o Comitê de Direitos Humanos da ONU (que em agosto recomendou que o Brasil garantisse os direitos políticos do ex-presidente, mesmo na prisão, como candidato às eleições de 2018).

BBC News Brasil - Mas a sentença a Lula foi confirmada em segunda instância, enquadrando-o na Lei da Ficha Limpa, que ele próprio sancionou durante seu governo.

Chomsky - Sim, é verdade, e uma boa parte da classe política deve ser submetida a essa lei, mas de uma maneira justa e correta. Assim, se vier à tona que um apartamento foi oferecido ao presidente Temer no qual ele nunca viveu, ele nunca deverá ser sentenciado a 12 anos de prisão por isso.

BBC News Brasil - O senhor acha que a sentença seria diferente para membros de outros partidos?

Chomsky - Radicalmente diferente. Acho que seria incomparável. O presidente (Fernando Henrique) Cardoso seria sujeitado a essa sentença de prisão por uma acusação semelhante?

Simpatizantes de Bolsonaro em São Paulo; linguista vê semelhanças entre o candidato brasileiro e Donald Trump
BBC News Brasil - Temos visto o avanço do candidato Jair Bolsonaro, que tem liderado as pesquisas. Há alguma especificidade brasileira nesse avanço da direita?

Chomsky - O mesmo está acontecendo em grande parte do mundo. O caso mais recente foi na Suécia (em eleições recentes, o partido de extrema-direita Democratas da Suécia teve sua maior votação e se firmou como terceiro maior partido do país, com 62 cadeiras no Parlamento). Na Europa, esse fenômeno costuma ser relacionado ao aumento recente da imigração. Entretanto, uma análise cuidadosa feita por cinco economistas suecos demonstrou que os motivos precedem a onda imigratória.

Reflete a imposição de políticas neoliberais que afetaram a profundamente as últimas gerações não só na Suécia mas no mundo todo, acompanhando reformas que decolaram a partir das eras (Ronald) Reagan (presidente norte-americano entre 1981 e 1989) e (Margaret) Thatcher (premiê britânica entre 1979 e 1990). O efeito dessas políticas foi concentrar a renda em círculos muito estreitos, expandir o poder corporativo e aumentar a tendência a monopólios. E deixar de lado a maior parte da população, que sofre com salários que não aumentam, empregos que tendem à precarização e sindicatos enfraquecidos.

Nos EUA, por exemplo, os salários de executivos aumentaram em 1.000% nesse período, mas funcionários sem cargos de supervisão ganham menos hoje do que ganhavam em 1979. Salários ficaram represados e benefícios foram cortados. O mercado de trabalho caminha propositalmente para a precarização, com cargos em meio expediente, sem vínculo empregatício, e assim vai.

Mas de volta à Suécia. O efeito que vemos é que as pessoas se sentem abandonadas, não mais representadas pelo sistema político, e foi isso que levou ao aumento do voto pela extrema-direita. Mas essa população que se sente excluída tem raiva, ressentimento, medo, e busca bodes expiatórios, que são os grupos mais vulneráveis. Na Europa atual, a culpa é colocada nos imigrantes.

BBC News Brasil - Bolsonaro costuma ser comparado a Donald Trump, às vezes chamado de 'Trump brasileiro'. A comparação faz sentido?

Chomsky - Há semelhanças. Até onde percebo, Bolsonaro não parece ter uma política econômica própria. Mas há pessoas ao seu redor que definitivamente têm. Seu economista chefe é um economista ultraliberal de Chicago (referência a Paulo Guedes, que coordena seu programa econômico e tem Ph.D. na Universidade de Chicago, bastião do liberalismo). Ele representa grupos semelhantes àqueles para os quais Trump faz uma espécie de cortina de fumaça nos EUA.

O papel de Trump no sistema político econômico é duplo: o de manter a atenção da mídia constantemente focada no que ele faz ou deixa de fazer e sustentar o apoio de seu eleitorado ao aparentar fazer coisas para eles; mas, enquanto isso, dar cobertura para programas republicanos selvagens que estão sendo implementados por pessoas como Paul Ryan (deputado pelo Partido Republicano e presidente da Câmara dos Representantes dos EUA) e Mitch McConnell (senador republicano).

Um bom exemplo é a maior conquista recente dos republicanos, a reforma tributária (aprovada em dezembro do ano passado). Foi um grande presente para o setor corporativo, para os ultra-ricos e para o setor imobiliário. Para o resto da população, o próprio Paul Ryan (presidente da Câmara dos Representantes dos EUA) explicou os efeitos: a reforma cria um déficit enorme e por isso será preciso cortar investimentos sociais. Saúde, educação, vale-alimentação para crianças pobres, essas coisas "irrelevantes".

Enquanto a mídia se concentra nas últimas mentiras ou no comportamento esquisito de Trump, esse tipo de coisa está acontecendo no background.

Com o Bolsonaro, imagino que poderíamos imaginar algo semelhante. Vai depender se ele tiver o mesmo talento de Trump, que está tendo uma atuação impressionante. Enquanto prejudica seu eleitorado de todas as maneiras possíveis, minando segurança social, direitos trabalhistas, ainda consegue se apresentar como seu defensor. E seus eleitores respondem não apenas com apoio, mas com veneração. Isso é um feito tremendo. É uma realização que demagogos alcançam de vez em quando, mas demanda habilidade política.

Militares em homenagem no Rio; 'Se a situação econômica, social e política se deteriorar o suficiente, poderia haver um apelo para que alguém intervenha (militarmente) de modo a preservar a ordem. Mas é muito diferente de 1964', opina Chomsky
BBC News Brasil - Três décadas depois da redemocratização, temos visto grupos publicamente defendendo intervenção militar no Brasil, algo que até pouco tempo atrás seria impensável. O senhor vê uma tendência à militarização na política no Brasil?

Chomsky - Se a situação econômica, social e política se deteriorar o suficiente, poderia haver um apelo para que alguém intervenha de modo a preservar a ordem. Mas é muito diferente de 1964 (ano do golpe militar). Os Estados Unidos tinham uma influência avassaladora sobre a América Latina na época.

O terreno para o golpe no Brasil foi preparado durante o governo Kennedy, e implementado pouco depois de seu assassinato (em 1963), com forte apoio dos EUA. O então embaixador Lincoln Gordon o descreveu como a maior vitória para a democracia em meados do século 20. E depois vieram os golpes no Chile, no Uruguai, na Argentina, o pior de todos, fortemente apoiados pelos EUA.

Hoje, os EUA não têm mais essa influência sobre a região. Um dos efeito das políticas de centro-esquerda foi o de reduzir o controle e a influência americana sobre a região em diversas maneiras. Uma delas, por exemplo, foi expulsar o FMI (Fundo Monetário Internacional).

BBC News Brasil - A influência do Brasil na região também diminuiu. Hoje estamos diante da maior crise de imigração na história recente da América do Sul, com o êxodo da Venezuela, mas não há uma liderança regional clara. Qual é o impacto político dessa crise para a região?

Chomsky - O impacto é sério. As estruturas que começaram a ser desenvolvidas para lidar com tais situações erodiram. A Unasul (a União de Nações Sul-americanas, bloco de 12 países fundado em 2008) mal funciona. A Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, fundada em 2010) não funciona de jeito nenhum.

Os movimentos para adquirir maior independência e desenvolvimento (na região, buscando maior integração entre países da América Latina) foram abortados e regrediram. Mas não acho que tenham sido perdidos. O que foi realizado proporciona um arcabouço para seguir em frente, o que acho que será feito, porque a situação não é tolerável.

BBC News Brasil - A seu ver, está na hora de lideranças da esquerda na região tomarem uma posição mais forte para condenar as violações de direitos humanos do governo Maduro?

Chomsky - Sim, e isso sempre foi necessário. Eu mesmo participei de fortes protestos contra violações de direitos humanos sob o regime de Hugo Chávez. É preciso se posicionar com firmeza contra as violações.

Lembrando, entretanto, que são uma parte muito reduzida das violações de direitos humanos que acontecem no mundo todo. As mais extremas no período moderno partiram dos Estados Unidos e da Inglaterra. A invasão do Iraque é o pior crime do século 21. Nada se compara àquela ação. Teve efeitos terríveis, não apenas destruindo o Iraque, mas alimentando o crescimento do Estado Islâmico e instigando conflitos étnicos que estão estraçalhando a região.

BBC News Brasil - O senhor está prestes a fazer 90 anos agora em dezembro, e acompanhou episódios marcantes da história do último século. O que lhe faz continuar, o que lhe traz esperança?

Chomsky - O que me faz continuar é a gravidade dos problemas. O que dá esperança é o fato de que há muita gente dedicada a fazer algo para resolvê-los. O nível de engajamento que vejo hoje está além do que vi em minha vida toda.

É preciso lembrar que os Estados Unidos tinham leis explícitas contra miscigenação até os anos 1960 - leis que nem os nazistas puderam adotar porque iam longe demais. A Inglaterra praticamente assassinou um grande matemático (Alan Turing) por homossexualidade, herói da Segunda Guerra por ter quebrado o código da Alemanha nazista. Ele foi submetido a um tratamento médico que o levou à morte. Inglaterra, um país avançado. Até 2003, ainda tínhamos leis anti-sodomia nos Estados Unidos.

Houve mudanças tremendas com os anos, e elas não vieram de presente. Vieram de ativismo constante, que está aqui, crescendo, com essas manifestações. Acho que esses são sinais de esperança. Olhando para as diferenças entre ontem e hoje, é um mundo muito diferente.

FONTE
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45582040?ocid=socialflow_facebook


GOVERNAR O BRASIL SEM O PT - Jorge Eremites de Oliveira


No debate entre presidenciáveis promovido pelo SBT, no dia 26/09/2018, Ciro Gomes, candidato à presidência da república pelo PDT, disse que se puder prefere governar o país sem o PT. Isso significa administrar o Brasil sem se valer do modus operandi ou habitus do establishment petista, aqui entendido como núcleo duro ou cúpula do Partido dos Trabalhadores.
​Na minha opinião, como etnógrafo que por cerca de vinte anos esteve a observar a legenda, administrar sem o referido establishment é possível, sim. Não obstante a esta ideia, não se pode negar que na legenda há nomes importantes que não estão envolvidos em escândalos de corrupção, como Eduardo Suplicy e Olívio Dutra, respectivamente de São Paulo e do Rio Grande do Sul. No próprio MDB há nomes de respeito, como Roberto Requião, senador pelo estado do Paraná, não envolvido no golpe de 2016. A questão central reside em não deixar que uma coligação, eleita para um mandado de quatro anos, possa ser confundida com o próprio Estado e venha a usar da confiança recebida nas urnas para implementar projetos hegemônicos de poder. A população não mais deseja ver o governo federal envolvido em escândalos de todo tipo: a) denúncias de licitações fraudulentas e malversação do dinheiro público; b) compra da governabilidade por meio de petrolões e outros esquemas espúrios análogos aos mensalões; c) gastos exorbitantes com obras faraônicas e desconexas de um projeto nacional de desenvolvimento, como a construção de arenas em lugares onde estádios desse tipo fazem pouco sentido e oneram os cofres públicos, o que foi feito em detrimento do completo abandono de nossos museus; d) destinação de bilhões do BNDES para beneficiar aliados de última hora, incluindo certo governo desastroso na América do Sul; e) esquemas de caixa dois para financiar campanhas eleitorais e outras coisas; f) compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, sem a conclusão da construção de refinarias de petróleo e outras obras no país; etc.
​Neste momento, o retorno do PT à Presidência da República significa atraso na medida em que não possui um projeto nacional de desenvolvimento (a legenda, aliás, não é nacionalista) e, portanto, não planeja o país para o médio e o longo prazos a partir de possíveis macrocenários políticos e econômicos. Apesar disso tudo, segue a manter alianças estapafúrdias com vários golpistas que atuaram para alijar a presidenta Dilma Rousseff do poder, em 2016. “Não vai ter golpe” e “impeachment meus ovos”, retrucavam nas redes sociais; “Foi golpe, sim”, dissemos amiúde. Mesmo assim, o PT e sua cúpula mostram-se incapazes de promover qualquer autocrítica, ainda que intelectuais como Noam Chomsky tenham vindo à público chamar a atenção para a questão.
​Nesta linha de argumentação, vale lembrar que o PT e o PSDB são, de fato, cabeças de uma mesma serpente, como aponta Mangabeira Unger, e o Brasil não mais aguenta o binarismo maniqueísta nascido no Sudeste. Ambos os partidos costumam implementar gestões neoliberais e antinacionais, com uma diferença básica para o campo progressista: o PT promove a alienação das massas e até mesmo de certa intelectualidade, que se apresenta como “cavalo de santo”, tornando-se a esquerda que a direita gosta, como diria Darcy Ribeiro. Costuma cacarejar para a Senzala e a Aldeia, mas bota os ovos na Casa Grande, parafraseando aqui Leonel Brizola e me inspirando em Gilberto Freire.
​Esse pessoal permaneceu por longuíssimos 14 anos no planalto central, à frente de uma coligação plural de partidos políticos (da qual o PDT fez parte e tem promovido certa autocrítica), e não promoveu as reformas estruturantes de que tanto o Brasil precisa. O que Lula, o ex-presidente encarcerado, fez de bom com uma mão (e fez muito, como verificado no Nordeste e em outras regiões), praticamente desfez com a outra ao indicar uma pessoa sem a necessária experiência para substituí-lo. Por qual motivo não indicou, por exemplo, Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul para a presidência da república? Ora, desde fins do século passado que Tarso percebia o PT gaúcho como bolchevique, ao passo que asseverava que o PT paulista seria menchevique. Além disso, não faz parte do establishment que desviou o partido para outros caminhos a partir da segunda metade dos anos 1990. Por que ele mesmo, Lula, não foi candidato em 2014, haja vista que sabia que aquela eleição presidencial seria marcada pela polarização e à época estava em curso um verdadeiro estelionato eleitoral, com graves consequências para a nação? Não fez isso porque é um articulador pragmático, desde os tempos de sindicalista, a ponto de colocar o projeto hegemônico do establishment que lidera à frente dos interesses nacionais.
​A turma mais sectária do ex-presidente costuma chamar seus desafetos de “direita”, “coxinhas”, “reacionários”, “neoliberais”, “fascistas” etc., mas não é capaz de olhar para o próprio umbigo. Alimenta a polarização com o movimento nazifascista, nutrido pelo antipetismo e representado pela candidatura do inominável e seu “jumento de carga"; brinca de fazer cavalinho de pau no precipício, correndo o risco de jogar o Brasil num abismo profundo.
​Penso ainda que de pouco adianta dizer #EleNão para apenas um candidato, como se o establishment petista (Dilma, Gleisi, Cardozo e outros) não tenha as mãos sujas do sangue de mulheres Guarani e Kaiowá violentadas, torturadas e assassinadas em Mato Grosso do Sul, apenas para citar um exemplo pontual que conheço muito bem como pesquisador. O PT no poder é, sim, anti-indígena e implementa uma política indigenista de natureza genocida, algo que o PDT de Brizola, Darcy e Juruna jamais poderá fazer, sob pena de entrar em profunda contradição. Nesta reta final do primeiro turno das eleições, o mais coerente é bradarmos #ElesNão e escolhermos um nome para votar pelas propostas que defende e sua história de vida pública.
​Neste sentido, vale registrar o que diz a cantora Alcione, a famosa Marrom, sobre Ciro Gomes. Para ela, o candidato trabalhista possui as seguintes qualidades: 1) inteligência (chega de votarmos em idiotas e estúpidos que pensam poder resolver problemas complexos a base de clichês e jargões); 2) experiência (foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro nos governos Itamar Franco e Lula, deputado estadual, deputado federal, secretário de estado de saúde etc., e nunca respondeu por um mal feito à frente desses cargos); 3) amor pelo Brasil (nacionalismo é bom e não pode ser reduzido à ideia de xenofobia ou de homogeneização cultural, mas percebido como sentimento de pertença, orgulho de ser o que somos e postura em defesa da soberania do país); 4) energia (determinação e disposição para governar, e bem, com uma equipe de notáveis, isto é, pessoas que tenham capacidade técnica, científica e administrativa e saibam articular, defender e implementar projetos voltados ao desenvolvimento econômico com sustentabilidade e inclusão social).
​Por tudo isso e outras tantas razões, percebo em Ciro Ferreira Gomes o melhor candidato à presidente da República Federativa do Brasil. Quando o vejo falar em público, relembro do saudoso Brizola e penso assim: Até a vitória trabalhista, sempre!