terça-feira, 31 de março de 2015

Só a idéia sobrou

Mino Carta
Mino Carta

" Errou quem pensou que o partido de Lula pudesse ser revolucionário e anticapitalista. 
Difícil teria sido imaginar o PT de hoje
Atingido o poder, o ensaio do desastre deu-se quase de imediato. Explícita, a incapacidade de recorrer à imaginação para sair por tangentes renovadoras. 
Nada sobrou, além da imitação das experiências tradicionais, do poder pelo poder. 
Sem contar a postura provinciana, recalcada, pequeno burguesa que impregna a sociedade brasileira, os mais ricos inclusive, a proporem um tema que encantaria Balzac. 
E, a bem da compreensão do reparo, não me refiro àquele que “acertou na pinta” ao recomendar “mulher só depois dos trinta”.

Nem por isso, Lula deixou de realizar o melhor governo de todos os tempos. Mesmo aos primeiros sinais da crise, falar em marola não foi descabido. A rebordosa veio depois e pegou Dilma, que não sabe surfar. Nem sei se as atuais lideranças petistas se dão conta da responsabilidade que, inexoravelmente, recaem sobre elas e as tornam, aos olhos da turba, responsáveis por todos os pecados do país imaturo, medieval, vincado por um desequilíbrio social insuportável, dominado por uma elite tão predadora quanto incompetente "

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terça-feira, 24 de março de 2015

As muralhas de Israel

 O Muro da Cisjordânia é uma barreira física construída pelo Estado de Israel, passando em torno e por dentro dos Territórios Palestinos Ocupados (Cisjordânia e Jerusalém Oriental). A barreira tem uma extensão aproximada de 760 km, ou seja, duas vezes o comprimento da Linha do Armistício de 1949 (Green Line) entre a Cisjordânia e Israel.
O muro é ladeado por uma faixa de 60 metros de largura (área de exclusão) em 90% da sua extensão, e a muralha de concreto chega a 8 metros de altura em 10% da sua extensão.1 A maior parte da barreira foi construída na Cisjordânia, e uma parte menor segue a Linha do Armistício de 1949. 12% da área da Cisjordânia ficaram no lado israelense da barreira.
A barreira também é chamada de "Cerca de Separação" ou "Cerca de Segurança", pelo governo israelense, segundo o qual, o propósito da construção seria o de evitar a infiltração de terroristas em Israel . Enquanto os palestinos geralmente se referem à barreira como Muro de Segregação Racial, e alguns oponentes como Muro do Apartheid. Para a Autoridade Nacional Palestina, o muro visa criar fatos consumados na incorporação de partes dos Territórios Palestinos ao Estado Israel.
A existência e o traçado da construção, são contestados sob os aspectos políticos, humanitários e legais. O Tribunal Internacional de Justiça de Haia o declarou ilegal em 2004, pois a barreira corta terras palestinas e isola cerca de 450.000 pessoas. Israel não acatou o parecer da Corte Internacional, e a construção da barreira prossegue.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA - sigla em inglês), a maioria das barreiras físicas ou burocráticas impostas atualmente à mobilidade e acessibilidade dos palestinos visa proteger os 500 mil colonos judeus que ocupam assentamentos na Cisjordânia - em contravenção à lei internacional -, bem como garantir uma reserva de terras para a expansão futura desses assentamentos e melhorar as ligações viárias entre esses assentamentos e Israel.
Duas outras barreiras do mesmo tipo, também construídas pelo governo israelense, são igualmente controversas: a que separa Israel e a Faixa de Gaza e a que separa a Faixa de Gaza e o Egito, atualmente sob controle egípcio.

sábado, 21 de março de 2015

Forças Armadas darão apoio logístico ao Mais Médicos

.O ministro da Defesa do Brasil, Jaques Wagner, autorizou o emprego das Forças Armadas em apoio logístico ao programa Mais Médicos do governo federal. A decisão foi publicada hoje (19) no Diário Oficial da União e atende a uma determinação da presidenta Dilma Rousseff.O texto estabelece que comandantes da Marinha e do Exército acionem os meios logísticos necessários para a recepção, a hospedagem, o transporte urbano e a distribuição dos médicos intercambistas e supervisores nos municípios.Um oficial deverá ser designado para promover a ligação com os órgãos governamentais. Os comandantes deverão informar ao Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas as necessidades financeiras exigidas para o apoio ao programa.De acordo com a publicação, o comandante da Aeronáutica deverá acionar os meios logísticos pessoais e materiais necessários para o transporte aéreo dos médicos intercambistas e supervisores.O Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, por sua vez, deverá promover a ligação e a coordenação com as demais autoridades envolvidas no programa e acompanhar a execução das ações de apoio, mantendo o ministro informado sobre as principais tarefas executadas.O programa Mais Médicos faz parte de um pacto de melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde e prevê a convocação de profissionais para atuar na atenção básica de municípios com maior vulnerabilidade social.Leia mais >>> 

Jornalismo tendencioso ameaça sobrevivência do sistema Globo

 J. Carlos de Assis (*)
A Globo caminha para a quebra. Se isso acontecer será culpa quase exclusiva de seu Departamento de Jornalismo. É que se alguém quiser se aproveitar da situação para comprar aGlobo encontrará a seu favor o mais arrogante, mais pretensioso, mais insolente grupo de “formadores de opinião” como nunca se viu antes na história deste país, e com poderes ilimitados. Isso porque os donos são ausentes ou incompetentes, e nada trava a libertinagem televisiva e jornalística que se enfia goela baixo do cidadão daqui e do exterior, todos os dias, num exercício jamais observado de manipulação política pela via da emoção.
Há dois patamares no caminho da Globo para o fracasso. O primeiro é o Jornal Nacional, ligeiramente mais discreto na sua cruzada diária pela desinformação. Conduzido por William Bonner, que lembra um propagandista de sabonete, traz sempre uma mistura bem preparada de fatos e emoção direcionada para a busca de telespectadores a qualquer custo, mesmo quando esse custo significa subverter a verdade. A distorção a favor dos ricos é limitada apenas pelo medo de perder audiência no horário nobre, na medida em que grande parte dela é de famílias pobres beneficiárias dos programas sociais do PT.
É no Jornal da Globo, contudo, que os noticiaristas e comentaristas da Globo saem do armário. Aí a manipulação da opinião pública passa a ser um jogo aberto. Começa com a figura burlesca de William Waack anunciando todas as pragas do Egito sobre o Brasil. Ele tem, como o JN, prazer em noticiar tragédias, coisas que comovem. Mas, com muitos graus de emoção sobre o Jornal Nacional, despeja na audiência, formada sobretudo por gente de classe média que não tem compromisso com horário no dia seguinte, o que essa audiência enviesada quer ouvir na sua sanha lacerdista de apelos hipócritas contra a corrupção.
Mas William Waack é um casca grossa: manipula o noticiário de acordo com suas preferências pessoais, acrescentando ao sabor da notícia deformada esgares de palhaço de circo. Cabe a Sardenberg um papel aparentemente mais sutil, como me observou Jânio de Freitas, o maior jornalista político do Brasil em atividade, já que ele é mais venenoso por divulgar os conceitos da economia política favoráveis aos ricos dentro de uma carcaça insidiosa de neutralidade técnica, como todo bom charlatão. Ele agrada aos poderosos e ao mesmo tempo engana os pouco pobres que resistem a assistir a tevê até de madrugada.
O Jornal da Globo tem, portanto, uma interação intelectual e moral afetiva com ricos e poderosos. Sua eficácia, conforme Marx, está no fato de que a ideologia da sociedade é a ideologia da classe dominante. Quando a classe dominante dispõe inteiramente da mídia, sem concorrência – porque, no campo da ideologia, a quase totalidade dos maiores jornais, revistas e tevês está do lado e de mãos dada com uma direita sórdida e indiferente aos destinos da sociedade -, o campo político fica inteiramente aberto, inclusive para golpes brancos.
Poderia continuar enchendo laudas e laudas de adjetivos conta a dupla do Jornal da Globo e contra outra dupla igualmente perniciosa para a democracia, os comentaristas do jornal Globo Míriam Leitão e Merval Pereira. Este não merece muita tinta, porque é apenas ignorante – na acepção semântica da palavra. Míriam, porém, como Sardenberg, é astuta. Passa a ideia de que sabe economia, quando o que realmente sabe é identificar economistas de direita, como ela, e dar-lhes espaço franco em sua coluna diária e sórdida Globo News.
O noticiário econômico brasileiro, de jornal e de tevê, está dominado por entrevistas e artigos de economistas de banco. Galbraith, com sua fina ironia, dizia que não se sentia à vontade para acreditar em opiniões econômicas de quem tem interesse próprio em jogo. A rede Globo e os jornalões, assim como as revistas semanais (exceto Carta Capital), apoia seu noticiário econômico em economistas de banco com o maior descaramento. Assim, são os economistas de banco que estão fazendo a cabeça de milhões de brasileiros sobre economia.
Trabalhei anos na editoria econômica do Jornal do Brasil, de que fui subeditor, e jamais entrevistei um economista de banco. Trabalhei anos como repórter econômico da Folha de S. Paulo e jamais entrevistei, para publicação, um único economista de banco. Agora são esses economistas que dominam o noticiário econômico com seus próprios interesses. Acaso é esse tipo de liberdade de expressão e de opinião publicada que interessa ao Brasil? Ou é o momento em que se deve pensar em dividir o monopólio do Globo e fomentar um novo jornal no Rio para o Brasil?
P.S. Não é do meu estilo fazer ataques pessoais. Entretanto, o Sistema Globo foi dividido em três capitanias, uma para cada herdeiro, e as capitanias em sesmarias, cada uma sob o comando de um jornalista no caso do Departamento de Jornalismo. Assim, não adianta falar, quando se trata de formação de ideologia, de um sistema global. É preciso identificar pessoalmente os donos das sesmarias jornalísticas, como procurei fazer. Não fosse tão grande o Sistema Globo, amainaria minhas críticas. Como é grande demais, e eu muito pequeno, pode perfeitamente suportar o choque!
*Jornalista e economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre a Economia Política brasileira, dos quais o último é “A Razão de Deus”.
 (*) J. Carlos de Assis,   é Jornalista e economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre a Economia Política brasileira, dos quais o último é “A Razão de Deus”.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Raiva, ódio e agora estupidez!


Nei Alberto Pies (*)

Raiva, ódio e agora estupidez!
Primeiro estimularam raiva contra um partido e governo que praticavam a inclusão e promoviam distribuição de renda. 
Não nos importamos porque achávamos que não seria contra a maioria dos brasileiros pobres e trabalhadores. 
Pensávamos também que seria algo passageiro e que seríamos poupados do que poderia ser bem pior.
Depois estimularam e disseminaram o ódio contra todos aqueles que, historicamente, demonstraram compromisso com a promoção dos direitos e o exercício da cidadania. 
Suportamos o ódio, mas começamos a nos acordar e nos defender, temendo o pior.
Agora atentam contra a integridade de pessoas, ameaçando todos aqueles que continuam acreditando na força do poder popular e na força das ideias progressistas. 
Incitam a violência e não respeitam a vida de quem sempre lutou por mais liberdade, justiça e direitos humanos. 
Agora, antes tarde que mais tarde, chegou a hora de reagir para preservar o que de mais sagrado existe na democracia: a liberdade de pensar, sem ameaças.
Sejamos, mais uma vez, protagonistas de uma história sem fundamentalismos: "os lutadores sociais deste país merecem respeito". 
A paz e a democracia neste país não se faz por guerras. 
Por isso mesmo, continuemos acreditando no diálogo como a melhor mediação para a democracia. Antídoto contra estupidez não é estupidez!

(*) professor e ativista de direitos humanos

quarta-feira, 18 de março de 2015

Opinião - Surto Coletivo

P.R.Baptista

Sou, por natureza, ponderado sempre procurando observar os vários aspectos envolvidos numa questão. 
Nos recentes acontecimentos nacionais, por exemplo, em que se defrontam simpatizantes do governo Dilma e opositores, posso perceber muitas medidas acertadas do governo mas também alguns erros, muitos talvez.
Os erros que constato, no entanto, não seriam os mesmos dos quais o governo é acusado pela oposição nem vejo em que , pelo menos com base no que se tem conhecimento até esse momento, poderiam justificar um impedimento ou levar a uma renúncia.
Entendo, portanto, que essa bandeira da manifestação do dia 15 de março é descabida.
Ela é, contudo, a mais destacada e que mais apareceu.
Este fato,penso eu, já descredencia a manifestação.
Mas isto seria apenas , talvez, um detalhe diante do quadro que, pouco a pouco, se desvenda através dos registros e depoimentos feitos durante a manifestação.
O primarismo, o radicalismo, a violência que afloram nas palavras e nos gestos registrados comprometem as melhores intenções que pudessem haver por parte dos idealizadores mais bem intencionados ou dos próprios participantes menos avisados.
Por outro lado fica documentado , por parte de muitos manifestantes, uma ingenuidade, um desconhecimento político estarrecedores.
Podemos , assim, claramente verificar que houve duas manifestações no dia 15.
Uma registrada pela Rede Globo distanciada do que efetivamente estava acontecendo ou explicitamente procurando fazer passar a sua versão dos fatos.
A outra revelada através de dezenas, talvez centenas de registros feitos de perto , dentro das manifestações.
Em alguns momentos,aliás, o ódio, a disposição para um confronto inclusive violento, é tão explícito que acabo quase concordando, hipoteticamente, com outra bandeira muito presente na manifestação , a da intervenção militar.

Seria uma forma de conter, pela coerção, esse surto de histeria coletiva, do tipo provar do próprio veneno.
Felizmente, no entanto, não estamos mais nessa época e basta esperar que o surto desapareça pela própria fragilidade.

Reforma Política e as propostas das entidades

Clóvis Veronez (*)
A partir desta publicação o Observatório Pelotas passa a divulgar, de forma sistemática, as principais propostas para a reforma politica oriundas de entidades organizadas da sociedade e nos partidos políticos. Assim, tentamos instrumentalizar uma discussão que é, segundo nosso ponto de vista, fundamental ao aperfeiçoamento da democracia e importante definidor dos mecanismos de controle da corrupção, que produz incontestável indignação da sociedade brasileira.
A CNBB, OAB e mais de cem entidades se uniram em defesa do projeto da reforma política democrática.
A proposta é baseada em quatro principais pontos: Proibição do financiamento de campanha por empresas e adoção do Financiamento Democrático de Campanha; eleições proporcionais em dois turnos; paridade de sexo na lista pré-ordenada e fortalecimento dos mecanismos da democracia direta com a participação da sociedade em decisões nacionais importantes.
A seguir síntese da proposta apresentada ao senado pela OAB:
Sistema Partidário
O objetivo, aqui, não é criar pela lei partidos fortes e autênticos – o que seria puramente artificial -, mas minorar, tanto quanto possível, a predominância do caciquismo interno, da instrumentalização dos partidos pelo poder econômico privado, da disputa negocial por posições de poder e do oportunismo indiividualista. Propõem-se, com esse objetivo, as seguintes medidas mínimas:
Proibição de o parlamentar eleito mudar de partido, a partir da data da eleição e durante toda a legislatura (alterar a redação do art. 26 da Lei nº 9.096/2005).
Proibição de os partidos receberem doações, devendo manter-se exclusivamente com as contribuições de seus filiados e os recursos do Fundo Partidário (mudança do Código Eleitoral).
Sistema Eleitoral
Financiamento das campanhas eleitorais (alteração do Código Eleitoral)
Propõe-se aqui adotar, basicamente, o sistema francês.
A Justiça Eleitoral terá o poder de fixar um limite máximo de despesas de campanha dos candidatos, em cada eleição, bem como de pagar, a título de reembolso, uma quantia determinada, variável conforme a eleição, a cada candidato cujo patrimônio e cuja renda tributável não sejam superiores a determinado montante, desde que o candidato tenha recebido, na eleição, pelo menos 5% (cinco por cento) da totalidade dos votos válidos no distrito.
A Justiça Eleitoral fixará, para cada eleição, o montante máximo de doações que cada candidato está autorizado a receber. A infração a essas disposições impedirá o candidato eleito de tomar posse no cargo e, se já tiver sido empossado, acarretará a perda do mandato.
Com a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 52, de 8 de março de 2006, que deu nova redação ao § 1º do art.17 da Constituição Federal, admitindo que os partidos políticos façam coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas de âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, é indispensável, como medida de elementar coerência, quebrar a verticalização partidária no tempo de ocupação do rádio e da televisão pelos partidos políticos, nas eleições estaduais, distritais e municipais. Ou seja, o tempo de ocupação gratuita de rádio e de televisão, nessas eleições, será computado com base na distribuição de cadeiras entre os partidos em cada Casa Legislativa, estadual, distrital ou municipal.
Coligações partidárias
(regra a ser inscrita no Código Eleitoral, porque não conflita com a norma geral do art. 17§ 1º, da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda nº 52).
Elas devem ser abolidas nas eleições proporcionais (para a composição da Câmara dos Deputados, das Assembléias Legislativas dos Estados, da Câmara Legislativa do Distrito Federal e das Câmaras Municipais), a fim de se evitar que os votos dos eleitores sejam computados promiscuamente para todos os partidos da coligação, o que fere o princípio da votação proporcional.
6) Prestação de contas de campanha eleitoral
Propõe-se seja dado apoio ao Projeto de Lei nº 391, de 2005, elaborado por comissão de juristas presidida pelo então Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ministro Carlos Mário Velloso.
Eleição e duração do mandato dos Senadores (mudança constitucional):
O mandato dos Senadores passa a ser de quatro anos.
Devem ser abolidos os suplentes de Senador.

(*) sociólogo

segunda-feira, 16 de março de 2015

Raiva, ódio e agora estupidez!

Nei Alberto Pies (*)

Raiva, ódio e agora estupidez!
Primeiro estimularam raiva contra um partido e governo que praticavam a inclusão e promoviam distribuição de renda.
Não nos importamos porque achávamos que não seria contra a maioria dos brasileiros pobres e trabalhadores. 
Pensávamos também que seria algo passageiro e que seríamos poupados do que poderia ser bem pior.
Depois estimularam e disseminaram o ódio contra todos aqueles que, historicamente, demonstraram compromisso com a promoção dos direitos e o exercício da cidadania. 
Suportamos o ódio, mas começamos a nos acordar e nos defender, temendo o pior.
Agora atentam contra a integridade de pessoas, ameaçando todos aqueles que continuam acreditando na força do poder popular e na força das ideias progressistas. 

Incitam a violência e não respeitam a vida de quem sempre lutou por mais liberdade, justiça e direitos humanos. 
Agora, antes tarde que mais tarde, chegou a hora de reagir para preservar o que de mais sagrado existe na democracia: a liberdade de pensar, sem ameaças.
Sejamos, mais uma vez, protagonistas de uma história sem fundamentalismos. os lutadores sociais deste país merecem respeito". 

A paz e a democracia neste país não se faz por guerras. Por isso mesmo, continuemos acreditando no diálogo como a melhor mediação para a democracia.,

(*) professor e ativista de direitos humanos

Madame Bovary

Lilian Velleda

Dizem ser os temas da Literatura o amor, a morte, o poder. 
Tudo o mais seriam derivações dos três grandes, tratados com maior ou menor competência pelo escritor, conforme sua capacidade de articular formalmente a linguagem. 
E esta é a primeira grande virtude de Gustave Flaubert ao escrever – e reescrever -, durante cinco anos, a obra "Madame Bovary", cujo resumo pode ser assim anotado: menina cresce solitária, faz um casamento de conveniência e depois de algumas desventuras, encontra a morte pelo suicídio. 
Flaubert recorta a temática do adultério – banal, para dizer o mínimo -, e faz dela a sua grande obra (quem lembra de Salambô ou Memórias de Um Louco?). 
Mas acontece que Flaubert foi escritor comprometido até a raiz no ato de escrever, e para ele, o tema deveria desaparecer sob o estilo "que é toda uma maneira absoluta de ver as coisas".

Refletindo sobre a dificuldade do ato de criação, ele escreve a Louise Colet, no ano de 1852, dizendo "estar prestes a recopiar, corrigir e rasurar toda a primeira parte de Bovary. Os olhos medoem. Eu gostaria de ler com um só golpe de vista estas cento e cinqüenta e oito páginas e captá-las em todos os seus detalhes com um só pensamento" (...) "Que coisa desgraçada que é a prosa! Não termina nunca; tem-se que refazer sempre. Eu acredito no entanto que podemos dar-lhe a consistência do verso. Uma boa frase deve ser como um bom verso, imutável, tão ritmado quanto sonoro".  

Esse esforço do autor não aparece no texto, não o fratura, exatamente pela capacidade de articular o tema com e na linguagem.
Pois Madame Bovary permanece na comunidade leitora, a cada geração conquista outros e outras amantes. 
E minha amiga Verinha Garcia e eu fazemos parte desta comunidade que lê e ama Bovary. A personagem nos arrebata, em uma suave e afetuosa divergência.
Verinha deita o olhar apaixonado sobre Ema, nela vendo uma mulher que ousou desafiar convenções ao desejar outro homem, razão pela qual foi "morta" pelo autor, que se dobrou aos reclamos da sociedade. 
Ela a vê como heroína.
E é aqui que a paixão que nos une nos separa, pois para mim, Ema não ousou amar outro homem. Ema ama um estilo de vida diferente daquele que o casamento com Charles Bovary – um picolé de chuchu, é verdade -, proporciona. Precisamos penetrar o imaginário de Ema.
Flaubert nos conta que aos treze anos Ema foi para o convento e na solidão do claustro moldou suas expectativas sobre a vida. 
O capítulo 6 deixa entrever a formatação do universo mental de Ema, mediante leitura de romances açucarados, traficados para dentro do convento:

"Era só amores, amantes, damas perseguidas que desmaiavam em pavilhões solitários, postilhões assassinados nas estações de muda, cavalos rebentados em todas as páginas, florestas sombrias, perturbações do coração, juramentos, lágrimas e beijos, barquinhos ao luar, rouxinóis no arvoredo, cavaleiros bravos como leões e mansos como cordeiros " (...) 

O autor segue, ao nos contar:

"Quisera viver em algum velho solar, como aquelas castelãs de corpetes compridos que, sob os ornatos das ogivas, passavam os dias com o cotovelo apoiado ao peitoril e o queixo na mão, à espera de ver surgir no horizonte algum cavaleiro de pluma branca, cavalgando num cavalo preto".

Com essa formação, Ema se vê em um casamento arranjado pelo pai, e espera, na lua de mel, "frissom, frenesi, vertigem de amores copulados em noite de lua cheia". 
E Charles Bovary revela-se, ao longo da obra, medíocre e incapaz de perceber e atender as expectativas de Ema, que vê e interpreta tudo com as chaves que tem – as da literatura romântica, açucarada, a quem Flaubert dirige sua fúria (ele antecipa o Realismo).  Há desalinhamento e Ema, que por sua vez nega a Charles qualquer qualidade, passa a viver uma gangorra emocional nos seus encontros com o mundo:

Ema vai ao baile e se alegra, e aquilo é o que deseja para si: "A música do baile ressoava-lhe ainda nos ouvidos; fazia esforços para se conservar acordada, a fim de prolongar a ilusão daquela vida luxuosa, que em breve teria de abandonar". 
O casal muda para uma cidade maior – Yonville -, e ali, com certeza, será feliz. Outro homem a deixa alegre? Agora sim, será feliz. 
O marido, cirurgião, fará uma operação complexa, da qual poderá advir fama e fortuna e reconhecimento social? Ela crê, isso a fará feliz.
Porém, a cada vez a expectativa é atraiçoada e Ema mergulha no abismo que é a depressão. 
Desgraçada, aprisionada pela literatura romântica, Ema é incapaz de "amar o real como ele é", como vida que vale a pena ser vivida. 
Vitimada pelo idealismo que conforma o Ocidente, Ema é apaixonada pelo estilo de vida que não tem.  Ama não ama outro homem, ela ama a idéia do amor. E no desencontro com o mundo, se mata.
Atualizando o mito, o imaginário da maioria das nossas mulheres é hoje formatado pelas novelas de TV e a leitura de novelas compradas em bancas de revista.
Nelas, a promessa de que as Emas modernas serão sempre salvas pelo homem/herói. 
Mas como não se suicidam, são assassinadas, numa sociedade que não perdoa o desvio. Quanto ao final, minha amiga Verinha tem razão...

domingo, 15 de março de 2015

Governo do PT não está quebrando o país

"Não dá para acreditar que os que bateram panelas contra Dilma em suas varandas acreditem mais nos boatos das redes sociais, do que no FMI e no Banco Mundial, organizações que podem ser taxadas de tudo, menos de terem sido “aparelhadas” pelo governo brasileiro e seus seguidores"
Mauro Santayana

O jornalista Mauro Santayana faz um alerta aos brasileiros que se preparam para protestar neste domingo, 15, contra a atual situação do Brasil; "Se antes de ficar repetindo os mesmos comentários dos portais, procurassem fontes internacionais em que o mercado financeiro normalmente confia para tomar suas decisões, como o FMI e o Banco Mundial, veriam que a história é bem diferente, que o PIB e a renda per capita caíram, e a dívida pública líquida praticamente dobrou, foi no governo FHC", afirma; Santayana mostra dados oficiais que retratam como era o Brasil em 1994, 2002 e atualmente em relação ao PIB, renda per capita, salário mínimo, investimento estrangeiro direto, reservas internacionais, dívida pública e valorização cambial; "Não dá para acreditar que os que bateram panelas contra Dilma em suas varandas acreditem mais nos boatos das redes sociais, do que no FMI e no Banco Mundial, organizações que podem ser taxadas de tudo, menos de terem sido “aparelhadas” pelo governo brasileiro e seus seguidores", diz

LEIA A MATÉRIA COMPLETA  http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/173187/Santayana-governo-do-PT-n%C3%A3o-est%C3%A1-quebrando-o-pa%C3%ADs.htm

sábado, 14 de março de 2015

Pelotas dos Excluídos



Pelotas dos excluídos (subsídios para uma história do cotidiano), o mais recente livro de A. F. Monquelat, conta uma história à margem dos casarões, dos saraus e das sinhazinhas na Pelotas do século 19.
A apresentação é cronológica, em textos curtos que revelam o cotidiano cruel e doloroso da escravidão na cidade, na contramão da história oficial que mascara contradições e desigualdades. Natural de Pelotas,
A.F. Monquelat é historiador e livreiro.
Com V. Marcolla publicou Desfazendo mitos – notas à História do Continente de São Pedro (2012). Com Guilherme Pinto de Almeida publicou Pelotas no tempo dos chafarizes (2012).
Ambos são edições da Livraria Mundial.
"Pelotas dos excluídos" também é uma publicação da Editora Livraria Mundial.

 Pelotas dos excluídos (subsídios para uma história do cotidiano) A. F. Monquelat 264 p. Editora Livraria Mundial ISBN 978-85-631-3044-0 R$ 39,00

Reforma adminstrativa proposta pelo Executivo eleva em R$ 194,5 mil a folha de pagamento mensal.

 
Vereador Ivan Duarte
Em reunião confusa a Câmara de Vereadores aprovou (12/03/2015) o projeto de lei (PL) que permite a alteração na Estrutura Administrativa da Prefeitura de Pelotas. A proposição havia sido protocolada na Câmara em 25 de fevereiro, pelo prefeito Eduardo Leite e entre as mudanças previstas estão a criação de três novas secretarias: Transporte e Trânsito; Obras e Pavimentação; Habitação e Regularização Fundiária.


 Treze vereadores estavam presentes (aprovaram) - Ademar Ornel (DEM), Anderson Garcia (PTB), Anselmo Rodrigues (PDT), Edmar Campos (Gaúcho - DEM), Idemar Barz (PTB), Luiz Henrique Viana (PSDB), Marcos Ferreira (PT), Professor Adinho (PPS), Rafael Amaral (PP), Ricardo Santos (PDT), Roger Ney (PP), Tenente Bruno (PT) e Waldomiro Lima (PRB).

Cinco vereadores se retiraram (contrários): Antonio Peres (PSB), Beto da Z3 (PT), Ivan Duarte (PT), Marcus Cunha (PDT) e Vitor Paladini (PSB)

Tres vereadores não compareceram à sessão: José Sizenando (PPS), Salvador Ribeiro (PMDB) e Vicente Amaral (PSDB).

Para o vereador Ivan Duarte (PT) a criação de mais três secretarias na prefeitura "aumenta número de cargos, propiciando novas adesões ao governo, com vistas à reeleição de Eduardo Leite".  O petista calculou e concluiu que a reforma proposta pelo Executivo e aprovada por 13 vereadores eleva em R$ 194,5 mil a folha de pagamento mensal.

Parte da discussão estabelecida durante a apreciação do projeto, entremeada de atropelos, pode ser acompanhada no video.


sexta-feira, 13 de março de 2015

Que tal mudar a fita?

Clóvis Veronez

Existe um aspecto pouco relevado pela grande imprensa e até mesmo pela blogsfera, com relação ao que realmente pauta o momento político nacional. Refiro-me a questão, de amplo domínio pelos participantes do jogo político e, que agora, felizmente começa a romper com as fronteiras da arena onde ele é disputado.

Tal aspecto não faz parte da ampla e enviesada cobertura da mídia sobre a operação "lava jato", suas repercussões políticas no congresso e que, até mesmo, as manifestações marcadas para os dias 13 e 15 de março relegam a um plano secundário, sendo que a do dia 15 sequer a cita.

Refiro-me questão do financiamento privado das campanhas políticas, tema nevrálgico do debate sobre a reforma do sistema eleitoral que, inevitavelmente, ocupará a pauta na seqüência dos acontecimentos.

O fim da modalidade é o remédio, procedimento com status de prioridade, para a moléstia que infecta a moribunda cultura política brasileira e a sua aprovação vai determinar e nomear os verdadeiros interessados na cura ou aqueles que se valeram de forma oportuna desse momento, mas que na prática, atuam pela continuidade da histórica, infecta e promiscua relação, entre as esferas pública e privada.

Posicionar-se contra ou a favor de tal remédio irá sinalizar a sociedade brasileira quem tem interesse real na superação do quadro de corrupção ostentado na sala de visita das oligarquias culturais, econômicas e políticas que sangram a nação brasileira desde o período colonial.

Como acredito que toda a expectativa golpista seja sepultada nesse fim de semana, de um março histórico, que desfeita a cortina de fumaça, produzida e conduzida ao fracasso, muito especialmente, pelos grupos e pessoas por detrás do protesto do dia 15, meu desejo é de que a apuração da rede de corrupção que envergonha o país deixe de ser tema negativo e sensacionalista que envergonha a sociedade brasileira e a paralisa para transformar-se em objeto de investigação profunda que a orgulhe e aponte um novo paradigma para a nossa democracia. Passemos, pois a discutir o que realmente interessa.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Brasileiros "exilados" em Miami

Um dos fenômenos mais ricos de ensinamentos para se entender o momento político do país, é a disposição dos brasileiros de poder aquisitivo elevado, "emigrarem" para Miami.
Segundo reportagem do The Wall Street Journal “os ricos e poderosos do Brasil têm comprado condomínios de luxo em Miami e se deleitado com surtos de compras em Bal Harbour há décadas.
Mas em meses recentes, muitos brasileiros reagiram à reeleição da Sra. Rousseff procurando fixar raízes de longo prazo na Grande Miami e, em menor grau, em Orlando, Nova York e Boston”,
Esse fluxo, no entanto, é bem diferente de outros momentos de êxodos, como nos anos 1980 e 1990, motivados por desemprego e inflação e mais fortes em classes mais baixas.
São esses brasileiros, que fizeram seu riqueza aqui, que  estão se organizando para fazer um ato no dia 15.
Cerca de um terço dos 3 milhões de brasileiros que vivem fora do país estão nos Estados Unidos. Mais da metade dos turistas em Miami vêm do Brasil.
Detalhe significativo é ter Aécio Neves, nas eleições de 2014, obtido sua maior votação proporcional no pleito justamente em Miami, onde conquistou quase 92% dos votos do eleitorado.
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quarta-feira, 11 de março de 2015

A destruição da Síria

A incrível, inacreditável , impressionante destruição que a guerra na Síria já provocou dá bem a dimensão da barbárie que as guerras representam. 
Cabe ressaltar que o disparador da sequência de conflitos na área começam com a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, um crime hediondo comandado por George Bush que vive tranquilo em seu rancho.

Quatro anos e 220 000 mortos após o início da sublevação anti-Assad, a Síria continua a mergulhar nas trevas. Pesquisadores da Universidade de Wuhan na China constataram com base em imagens de satélites uma diminuição de 83% das luzes visíveis do céu sírio desde março de 2011.
Bush tomando Coca com amigos em seu rancho no Texas
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 http://www.lemonde.fr/proche-orient/article/2015/03/12/quatre-ans-de-conflit-comment-la-syrie-a-ete-plongee-dans-l-obscurite_4591736_3218.html#fBBULlD01bQtCz3Y.99

Denuncismo ou antipetismo

José Luís Marasco C. Leite

Todos, com mais de quarenta anos, haverão de lembrar-se quando e como iniciou, em nosso país, a “política do denuncismo”. Aconteceu logo após a instalação dos primeiros governos civis, vencida a repressão e o controle da imprensa.
Qualquer conduta menos reta, que proporcionasse pequena dose de suspeição, era motivo para escândalos. Os jornais abriam manchetes, que eram repetidas em programas de rádio, os quais reverberavam palavras dos moralistas de então.
Nos Parlamentos, ouviam-se vozes de iniciantes na atividade política, tidos como imaculados e prenunciadores de ares de renovação no país. Movidos por sentimentos elevados, representantes de diversos segmentos sociais cerravam fileiras pela moralidade.
Despontava, então, como o mais ferrenho adepto do “denuncismo”, um partido que não tinha ligações com a história que até então fora traçada no país. 
Sobravam-lhe razões verdadeiras para atacar as velhas raposas da política brasileira, muitas das quais, depois de haverem sido subservientes ao regime militar, reapareciam, então, travestidas de democratas. Não faltava autoridade moral aos novos censores: muitos de seus porta-vozes eram jovens carregados do mais autêntico ardor de construir uma sociedade mais justa, com menos desigualdades e onde não houvesse desvios dos sempre parcos recursos públicos.
A “política do denuncismo” foi, mais e mais, conquistando a população, que passou a clamar por novos tempos e por novas caras na vida política brasileira. 
No Congresso Nacional, no dizer do então mais proeminente porta-voz dos novos tempos, havia, pelo menos, “trezentos picaretas” capazes de quaisquer negócios.
O passado era visto como apenas carregado de mazelas. 
Urgia recomeçar tudo.
 Era imperativo sepultar a “velha política” e, com ela, os personagens responsáveis pelos males que afogavam o país.
A chegada da comemoração do quinto século da “invenção do Brasil” serviu de mote: “Agora, serão novos quinhentos!”
Pois, de denúncia em denúncia, ungidos inclusive por bênçãos eclesiásticas, sem carregar nódoas denunciadoras de atitudes aéticas ou antiéticas, chegaram eles aos mais elevados postos da República (ainda que denunciassem, já por hábito, a falta de democracia em que vivíamos). 
O interessante (e absolutamente paradoxal)| é terem vindo junto com eles alguns dos personagens que antes eram tidos, por eles próprios, como verdadeiros símbolos da corrupção. 
Mais interessante, ainda, foi virem a ser surpreendidos em “maracutaias” de absoluto ineditismo, com a distribuição orgiástica de cargos ministeriais, voltados a proporcionar “dutos financeiros”, para alimentar as máquinas partidárias dos que lhes fossem fiéis.
Hoje, paradoxalmente, a cada semana, o jornalismo investigativo registra manchetes envolvendo altas figuras da República em “tenebrosas transações” (como o poeta e profeta maior dos novos tempos dizia, antes, dos outros).
...E o que têm eles a dizer da corrupção sistêmica que foi montada no país, por obra deles próprios, os moralistas de ontem?
- Ora, ora, tudo o que os jornais retratam é apenas fruto de uma reles “política antipetista” que se instalou no Brasil!!!

Cronistas em dias tensos


Nei Alberto Pies



"O silêncio arquiteta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado". (Martha Medeiros)

Mais do que nunca, em tempos revoltos, a realidade é que se impõe aos que escrevem.
 Os cronistas, especialistas em retratar o cotidiano reflexivamente, vêem a realidade superando as suas inspirações. 
Quando a realidade lhes exige opiniões e posicionamentos, obrigam-se a tomar partido: dizer a parte (ou lado) que defendem. 
Precisam externar seus pontos de vista.
Aparentes insignificâncias cedem lugar a temas mais duros e complexos, mais difíceis. 
Mas para a crônica, nada é tão insignificante que não mereça ser apreciado e traduzido para reflexão. 
Reflexão, por sua vez, significa pensar a ação humana, em todas as suas dimensões.
Cronistas vivem dias tensos. 
As crônicas, que emergem do cotidiano, obrigam a posicionar-se. 
Há uma fartura de pautas no atual momento histórico brasileiro: corrupção, descrédito dos políticos, fundamentalismos religiosos e políticos, manifestações de rua, crises na saúde e na educação, falta de diálogo e consensos sobre os destinos do país, juventudes que desafiam os adultos, drogas, ética na política, esperanças desperdiçadas, inércia dos governos, crise mundial, ...
Nestas horas cronistas assumem também uma cidadania ativa. 
Vivem, como todos os brasileiros, um momento de livre manifestação, de confronto acirrado de ideias, de consolidação da democracia. 
Mas em tempos em que nossas instituições estão fortalecidas, funcionando com independência e autonomia e sem afrontas. 
As instituições e poderes da República que alicerçam nossa democracia, felizmente, estão acima das pessoas.
O que falta ao Brasil é um pacto para não paralisarmos nem a economia, nem a produção e nem a política brasileira. 
 Serve a quem paralisar o país?
Neste contexto de crises generalizadas, o bom senso e a governabilidade devem nortear a cabeça de nossos governantes, juízes, lideranças, parlamentares e líderes religiosos. 
O mesmo bom senso recomenda a quem se manifesta e se organiza nas ruas ou nas redes sociais que não use de violência e nem apele para baixarias ou insultos. 
O bom senso, também recomendado a todos nós.
Acredito que palavras tem grande poder de jogar luzes à compreensão de nossa realidade. Associo-me ao pensamento de Martin Luther King que disse em vida: "eu também sou vítima de sonhos adiados, de esperanças dilaceradas, mas, apesar disso, eu ainda tenho um sonho, porque a gente não pode desistir da vida". 
Sim, porque vida é luta. 
E lutar é imprescindível para quem deseja viver melhor.
Tenho lado. 
Milito com aqueles que, desde sempre, lutaram e conquistaram direitos e dignidade para viver. 
Estes mesmos, nem sempre compreendidos, souberam organizar bravamente suas lutas ao longo de nossa história. 
Não são manifestantes oportunistas e sabem o que está em jogo nas recentes e ditas "novas manifestações" do ano 2015.

(*) Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.