quarta-feira, 23 de julho de 2014

Para Nobel de Economia, Banco dos Brics desafia controle dos EUA sobre economia mundial

 
Foto: columbia.edu
22/jul/2014

Juan Gonzalez e Amy Goodman, 
do Democracy Now *

Banco dos Brics irá financiar projetos de infraestrutura importantes para os países-membros, avalia Stiglitz|Foto: columbia.edu
Juan Gonzalez e Amy Goodman, 
do Democracy Now *
Na última terça-feira (16), um grupo de cinco países lançou seu próprio banco de desenvolvimento para fazer frente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, dominados pelos Estados Unidos. Governantes dos países conhecidos por Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – divulgaram a criação do Novo Banco de Desenvolvimento em reunião de cúpula no Brasil. O banco terá sede em Xangai. Juntos, os Brics têm 40% da população mundial e 25% do PIB global.
Em entrevista aos jornalistas Juan González e Amy Goodman, do Democracy Now, o economista ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, fala sobre o que significa esse fato. Stiglitz é professor da Universidade de Columbia e autor de diversos livros, sendo o mais recente Creating a Learning Society: A New Approach to Growth, Development, and Social Progress (Criando uma Sociedade do Conhecimento: uma Nova Abordagem ao Crescimento, Desenvolvimento e Progresso Social).
Fale sobre o significado desse banco
Ele é muito importante, por várias razões. Primeiro, a necessidade de mais investimentos, globalmente – em especial nos países em desenvolvimento – é da ordem de grandeza de trilhões, algo como dois trilhões de dólares por ano. E as instituições existentes simplesmente não têm recursos suficientes. Eles têm o suficiente para 2% a 4% disso. De modo que a criação desse banco vem somar recursos ao fluxo monetário que irá para financiar infraestrutura, adaptação às mudanças climáticas e outras necessidades muito evidentes nos países mais pobres.
Segundo, ele reflete uma mudança fundamental no poder econômico e político global, e a ideia por trás disso é que os Brics são hoje mais ricos que eram os países desenvolvidos quando o Banco Mundial e o FMI foram fundados. Vivemos em um mundo diferente, mas as velhas instituições não acompanharam as mudanças. O G-20 concordou com uma mudança na governança do FMI e do Banco Mundial, criados em 1944. Houve algumas revisões, mas o Congresso dos EUA recusa-se a implementar esse acordo. Estas instituições não foram capazes de acompanhar a noção básica de que, no século 21, seus líderes deveriam ser escolhidos na base do mérito – não apenas por serem norte-americanos. Na prática os EUA negaram o novo acordo. Por isso, essa nova instituição expressa a assimetria e o déficit democrático na governança global — e tenta repensá-la.
Por fim, houve muitas mudanças na economia global. A nova instituição reflete o conjunto de mandatos, as novas preocupações, os novos instrumentos financeiros que podem ser empregados. Espero que, ao percebendo as deficiências do antigo sistema de governança, esta nova instituição estimule a reforma das instituições existentes. Não se trata apenas de competição. É uma tentativa real de obter mais recursos para os países em desenvolvimento, de maneira consistente com os seus interesses e necessidades.
Qual a importância de países como a China, que tem enormes reservas monetárias, e o Brasil, que criou seu próprio banco de desenvolvimento há um bom tempo, serem peças-chave na nova organização financeira?
É muito grande, e vale lembrar alguns pontos interessantes. A China tem reservas internacionais no valor de 3 trilhões de dólares. Para os chineses, uma das questões centrais é como usar estes fundos melhor do que apenas transformando-os em títulos do Tesouro norte-americano. Meus colegas na China dizem que isto é como colocar a carne na geladeira e desligar a eletricidade – porque o valor real do dinheiro convertido em títulos do Tesouro dos EUA está declinando. Eles dizem, “Precisamos fazer melhor uso desses recursos”, certamente melhor do que aplicá-los na construção de, digamos, casas de má qualidade em meio ao deserto de Nevada. Você sabe, há necessidades sociais reais, e aqueles fundos não têm sido usados com esses propósitos.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem o BNDES – um enorme banco de desenvolvimento, maior que o Banco Mundial. As pessoas não se dão conta disso, mas o Brasil demonstrou na prática como um país pode, sozinho, criar um banco de desenvolvimento muito efetivo. Há um aprendizado sendo feito. E essa noção de como se cria um banco de desenvolvimento efetivo, que promova desenvolvimento real, sem todas as condicionalidades e armadilhas que permeiam as velhas instituições, será uma parte importante da contribuição do Brasil.
E qual a diferença no funcionamento do novo banco, com relação a outros bancos de desenvolvimento do Norte?
Ainda não sabemos, porque ele está apenas começando. O acordo vem sendo construído há algum tempo. As discussões começaram há cerca de três anos. Firmaram um compromisso e, desde então, vêm trabalhando nele com muita firmeza. Havia alguma preocupação de que pudesse haver conflitos de interesses entre os países. Todos queriam sediar o banco, queriam a presidência. Haveria coesão política, solidariedade suficiente para fazer um acordo? A resposta foi: sim, há. A mensagem que está sendo transmitida é que, a despeito de todas as diferenças, os países emergentes podem trabalhar juntos, de maneira até mais efetiva do que alguns países desenvolvidos conseguem.
Você é ex-economista chefe do Banco Mundial. Qual é a sua avaliação do Banco Mundial sob a presidência de Jim Yong Kim? Acabamos de completar o segundo aniversário de seu mandato.
Ainda é muito cedo para dizer. Demora um pouco para alguém tomar pé do Banco Mundial. É como um grande navio. Há um grande interesse em que ele traga uma força muito positiva para o banco – o foco na saúde e a preocupação com outras questões sociais. Mas, para ser bem sucedida nos temas relacionados a desenvolvimento, a instituição terá de continuar a se concentrar em alguns dos velhos temas.
E Kim tem uma experiência um pouco menor nos fundamentos do crescimento econômico. Penso que ele é provavelmente mais sensível a alguns dos problemas que foram o açoite das instituições financeiras internacionais no passado, como as condicionalidades exigidas para a concessão de empréstimos. Mas ele enfrenta um problema de governança. O presidente do Banco Mundial é escolhido pelos EUA, ainda que Washington não desempenhe mais o papel econômico e de liderança que desempenhou no passado. Todos acreditamos em democracia, e a democracia diz que a presidência não deveria ser confiada exclusivamente a um país.
Durante a crise do Leste da Ásia, no final dos anos 1990, um dos altos funcionários do Tesouro dos EUA disse, “Vocês estão reclamando por dizermos aos países o que devem fazer? Mas quem paga a banda, escolhe a música.” E agora, ouço os países em desenvolvimento – a China e os outros – dizendo: “Estamos pagando a banda. Somos os principais atores, agora. Temos os recursos, as reservas. E mesmo assim vocês não querem deixar que desempenhemos, no jogo, um papel que refleta o tamanho de nossa contribuição na economia.” Essa é uma queixa real, e é difícil para uma instituição ser tão eficaz como poderia, quando a governança está tão fora de sintonia com as realidades políticas e econômicas atuais.
Quero lhe fazer uma pergunta sobre imigração. Temos uma situação em que há um esforço para criar barreiras ao fluxo livre do trabalho. Qual o impacto que isso tem na economia mundial?
Há alguns aspectos a serem apreciados. Por um lado, é absolutamente verdadeiro que a livre mobilidade do trabalho teria um impacto maior, sobre as rendas globais, que a livre mobilidade do capital. A agenda que os EUA tem perseguido, a da livre mobilidade do capital, não tem sido impulsionada com base na eficiência econômica global. Trata-se, na verdade, de interesses especiais. São os bancos que querem isso.
* Tradução: Inês Castilho

terça-feira, 22 de julho de 2014

Apesar de viés imperialista, Brasil precisa dos vizinhos, diz Mujica

Fernando Rodrigues
Do UOL, em Brasília 19/07/201406h00

O presidente do Uruguai, José Mujica, 79 anos, afirma que persiste na América Latina uma sensação sobre o Brasil ser um país imperialista. "A atitude imperial do Brasil pode ter sido consequência de sua história", afirma.

Em entrevista ao programa Poder e Política, do UOL e da "Folha", ele explica que "o mais inteligente do Brasil é que percebe que, embora seja grande, precisa de um todo para acompanhá-lo na tentativa de fazer algo na negociação mundial". O problema é que falta de integração brasileira interna prejudicaria a posição do país em foros internacionais. E ajudaria a manter a imagem de imperialista.

"Quando há a colheita do arroz no Uruguai, os caminhões começam a passar [em direção ao Brasil]. Há uma parte do Rio Grande do Sul que não gosta. Eles [os brasileiros] estão certos", diz Mujica, que falou na quinta-feira (17), na embaixada do Uruguai, em Brasília.

Mais conhecido por suas posições liberais na área de costumes –como o projeto que legalizou o plantio, venda e consumo de maconha–, Mujica é também a favor de mais integração comercial na América Latina.

Só que o Mercosul está "estagnado". Seus "organismos de arbitragem não funcionam", e tudo tem de ser feito via "chancelarias presidenciais". Para o uruguaio, "os interesses empresariais nacionais são muito fortes e não priorizam a busca da integração. O que existe de mais forte economicamente é a burguesia paulista".

Para ele, "o papel da burguesia paulista deveria ser unir aliados, tentar construir um sistema de empresas transnacionais latino-americanas. Pelo seu tamanho, tem a responsabilidade de conduzir. Mas comete um erro se quiser fagocitar porque, em vez de ganhar aliados, ganha inimigos que se opõem à integração".

"Fagocitar" é um termo emprestado da biologia. Trata-se do processo no qual ocorre a "ingestão e destruição de partículas", na definição do dicionário Houaiss –uma das funções da fagocitose seria a proteção do organismo contra infecções.

Há também a relação entre o Brasil e Argentina. "A Argentina se fecha demais. O Brasil tem paciência estratégica. Mas tudo tem o seu limite", diz Mujica. Para ele, o vizinho passa por uma situação "muito explosiva" por causa da crise com credores externos. "Somos obrigados a defender a Argentina. Se a Argentina entra em crise, todos vamos sentir (...) É uma questão estratégica".

A dificuldade da atualidade, diz Mujica, é que o mundo atravessa uma crise na política. "Não é um problema do Brasil. É um problema global. A política não governa. O processo de globalização anda solto, sem governança. E aqui as forças da economia e da política estão um pouco divorciadas". Ele diz entender os empresários, que precisam "se preocupar com todo fim de mês", mas "há necessidade de ir construindo coisas complementares".

Conhecido como Pepe Mujica, o uruguaio termina seu mandato no início de 2015, quando assumirá o presidente a ser eleito em novembro. Mujica cita o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como responsável pela maior presença do Brasil no plano externo. Diz ter sugerido uma vez ao brasileiro que comandasse a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), mas ouviu um não como resposta.

"O Lula, que é muito astuto e inteligente, dizia-me: 'Olhe, Pepe, se eu for, eles vão dizer... o imperialismo brasileiro' ", relata Mujica. Há diferenças entre Lula e Dilma Rousseff? "Dilma é uma mulher muito trabalhadora, tenaz. Provavelmente, uma boa administradora. Não tem a personalidade política do Lula. E por algum motivo foi eleita pelo Lula, por algo foi eleita".

Se Dilma não for reeleita neste ano, Mujica não acredita "em qualquer cataclismo da política externa" ou que "signifique jogar fora todo o processo de integração".

Neste mês, ele anunciou que a implantação completa da lei que permite plantar, vender e consumir maconha será apenas em 2015, já durante o mandato de seu sucessor no comando do Uruguai. Ele não crê em recuo, mesmo se um opositor vencer.

E por que não colocar em vigor já? Por causa de uma questão agrícola: "É necessário plantá-la [a maconha] e produzi-la. As plantas têm o seu próprio ciclo. É necessário fazer estufas. Estamos fazendo as mudas. Fazendo a reprodução vegetativa. Poderão começar a florescer em janeiro, fevereiro".

Sobre o jogador de futebol Luis Suárez, suspenso depois de ter mordido um atleta da Itália durante um jogo da Copa do Mundo, Mujica se mostra compadecido.

 "Esse menino tem algum problema aqui [apontando para a cabeça]. Vem de um lar muito pobre. Tem a inteligência nas canelas. É brilhante nas pernas. A raiva o enfurece e ele não se domina. Era o caso de levá-lo a um hospital para tratá-lo com psiquiatra. É um problema que não se soluciona com sanções".

Acesse a transcrição completa e videos da entrevista em português ou espanhol.

Pelotas, capital da Zona Sul

Fotografia de Roberto Heiden de cena do entardecer em Pelotas, no entorno da praça central vendo-se em primeiro plano o antigo Grande Hotel e, mais ao fundo à esquerda, a cúpula da antiga sede do Banco do Brasil e, à direita, uma parte da fachada do prédio da Prefeitura Municipal. 
Em realce a pavimentação de paralelepípedos que tem sido agredida, em alguns pontos desnecessariamente, pela pavimentação asfáltica.
Segundo o Wikipedia, Pelotas é um município da região sul do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. Considerado uma das capitais regionais do Brasil, possui uma população de 327 778 habitantes e é a terceira cidade mais populosa do estado.

Está localizado às margens do Canal São Gonçalo que liga as Lagoas dos Patos e Mirim, as maiores do Brasil, no estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, ocupando uma área de 1 609 km² e com cerca de 92% da população total residindo na zona urbana do município. Pelotas está localizada a 250 quilômetros de Porto Alegre, a capital do estado.

Na história econômica do município, destaca-se a produção do charque, que era enviado para todo o Brasil e que fez a riqueza de Pelotas em tempos passados.

O município conta com cinco instituições de ensino superior, quatro grandes escolas técnicas, dois teatros, uma biblioteca pública, vinte e três museus, dois jornais de circulação diária, três emissoras de televisão, um aeroporto e um porto flúvio-lacustre localizado às margens do Canal São Gonçalo.

Tanto a zona urbana quanto a rural de Pelotas conta com monumentos, paisagens e belas vistas, que levaram a televisão brasileira a escolher o município já por três vezes como cenário para suas produções: Incidente em Antares, cuja locação foi feita na zona do porto; A Casa das Sete Mulheres, gravada numa charqueada na zona rural, e do filme O Tempo e o Vento, cujas filmagens ocorreram no fim de abril de 2012.

Em Pelotas, é realizada, todos os anos, a tradicional Fenadoce - Feira Nacional do Doce, festa de eventos ancorada pelos famosos doces de origem portuguesa que fazem a fama de Pelotas.
E neste breve, talvez desatualizado resumo, cabe acrescentar que a 15 km do centro, chega-se a praia do Laranjal junto a Lagoa dos Patos.

Mídia brasileira esconde nascimento de nova ordem mundial

Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul protagonizam principal fato econômico desde a crise de 2009. Criação do Novo Banco de Desenvolvimento e Acordo de Reservas de Contingência fura esquema financeiro global traçado em 1944, em Bretton Woods


Bretton Woods, 1944. Fortaleza, 2014. Setenta anos depois de terem sido traçadas as regras da governança financeira do mundo, um fato capaz de inserir outra cidade no mapa das grandes mudanças econômicas globais aconteceu.
Na capital do Ceará, nesta terça-feira 15, os cinco países que integram a sigla BRICS inauguraram, na prática, uma nova ordem para o mundo. Eles colocaram em prática a constituição de um bloco econômico repleto de afinidades políticas. A partir de agora, já se sabe que Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul terão o seu Novo Banco de Desenvolvimento, com capital inicial de US$ 50 bilhões, mas que poderá ser elevado a US$ 100 bilhões, para fazer frente ao Banco Mundial. E também formarão uma poupança de US$ 100 bilhões no Acordo de Reservas de Contingência, exatamente para não dependerem exclusivamente do Fundo Monetário Internacional para serem socorridos em crises. O jornal inglês Financial Times publicou análise da redação que dá a correta dimensão do conjunto desses fatos: “Notável demonstração de como a ordem econômica está mudando”.
VEJA TAMBÉM: A política econômica dos candidatos à Presidência no Brasil
Na mídia tradicional brasileira, no entanto, o assunto foi publicado, como se diz no jargão do jornalismo, com “má vontade”. A reunião de Fortaleza que impressionou o Financial Times e chama a atenção de todos os líderes mundiais não mereceu, na terça-feira 15, ocupar o espaço da manchete de nenhum dos jornais Folha de S. Paulo, Estado e Globo. Na tevê, a colunista Eliane Cantanhêde, na Globo News, registrou o acontecimento dentro do contexto da sucessão presidencial:
- A Copa acabou, mas a presidente Dilma Rousseff engatou uma segunda e já está de novo nas fotografias, registrou a comentarista. Ao final do comentário, lembrou que nesta quarta-feira, em Brasília, cerca de 20 presidentes do continente americano serão recebidos para ter informações sobre como irá funcionar o banco de desenvolvimento e o fundo de reservas. E pontuou:
- Será mais um momento de badalação e fotografias para a presidente que é candidato à reeleição.
Ideia estudada pela nata dos economistas dos governos dos BRICS há pelo menos dois anos, o Novo Banco de Desenvolvimento poderá emprestar dinheiro para projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento a juros menores que os praticados pelo Banco Mundial. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicou que os recursos dos BRICS poderão ser aplicados em fundos especiais para renderem enquanto aguardam as demandas dos países.
Houve apostas nos jornais brasileiros de que uma briga de última hora entre as delegações da China e da Índia poderia matar a ideia de criação do banco de fomento. Não foi o que ocorreu. Os sócios acordaram rapidamente em que a sede será em Xangai, na China; o primeiro presidente será da Índia, inaugurando o rodízio de cinco anos no cargo; a presidência do conselho de administração será do Brasil; a Rússia ficará com a presidência do conselho de governadores; e a primeira sede regional da instituição ficará na África do Sul.
- A democracia é uma das marcas do BRICS, disse Mantega.
Com um mercado consumidor de 3 bilhões de pessoas e um PIB conjunto que equivale a 20% da riqueza mundial, o BRICS poderá adotar, no futuro, as moedas nacionais para transações comerciais entre seus cinco sócios. Na véspera da cúpula, 700 empresários assinaram carta em que pedem aos líderes políticos a adoção dessa medida, que substituiria o dólar e o euro em compras e vendas.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, estimou no encontro de Fortaleza que a demanda de recursos para projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento chega, hoje, a US$ 800 bilhões. Há, assim, demanda suficiente para o banco do BRICS ter um grande papel na nova ordem mundial que o grupo está criando a olhos vistos – ainda que a mídia brasileira tenha má vontade em enxergar.

Fonte Pragmatismo Político
ECONOMIA16/JUL/2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O resultado do jogo vai "sobrar para ela"?

(*) Texto de Manoel Magalhães publicado no blog Cultive-Ler

Fim de Copa.

Fim de festa.

Agora as atenções se voltam para as eleições. O brasileiro vai eleger o presidente e vice-presidente da República, deputados federais, senadores, governadores e vice-governadores, deputados estaduais; o governador e vice-governador do Distrito Federal e os deputados do Distrito Federal.

Bem, as primeiras notícias após a Copa do Mundo realizada no Brasil, a qual não foi a prometida catástrofe anunciada, dão conta de que os políticos da oposição vão aproveita-se do vexame brasileiro na competição para tirar vantagens políticas. O 7 a  1 da Alemanha frente ao Brasil vão pesar na balança política.

A revista Veja, por exemplo, em matéria de capa, pergunta se o resultado do jogo vai "sobrar para ela".

Eu respondo: vai sobrar para todos os presidenciáveis, que antes do jogo apostavam no Brasil.

Repito aqui: não sou PT e por essa razão não estou fechado com Dilma Rousseff.

Entretanto, acho uma baixaria os políticos, sejam eles quais forem, aproveitarem-se do resultado do jogo para auferir lucros eleitorais.

Acho que o eleitorado brasileiro já amadureceu o suficiente para pensar com sua própria cabeça. Não deixar-se-á conduzir por revistas e jornais que estão (e estarão) a serviço dos opositores do governo.

Quem eles pensam que enganam?!

O governo Dilma não é um modelo a ser seguido. Em alguns aspectos, inclusive, assemelha-se a um queijo suíço.

Cabe aqui, entretanto, uma pergunta. Desses presidenciáveis quem merece confiança? Basta olhar para os respectivos jeitos de fazer política para que tenhamos certeza de que não são, realmente, confiáveis.

Não sei se vou votar em Dilma. Mas nesses outros tenho certeza de que não votarei.

sábado, 12 de julho de 2014

Deslumbramento e humilhação: o jogo Brasil e Alemanha

10/07/2014

O jogo para as semi-finais entre Brasil e Alemanha do dia 8 de julho no grande estádio de Belo-Horizonte significou uma justa vitória da seleção alemã e uma arrasadora e vergonhosa derrota brasileira. Milhões estavam nas praças e ruas de todas as cidades. A atmosfera de euforia dos brasileiros, a maioria enfeitados de verde-amarelo, as cores nacionais, não toleraria jamais, sequer por imaginação, semelhante humilhação. E ela caiu como um raio em céu azul.

Vejo duas razões básicas que explicam o resultado final de 7×1 gols em favor da Alemanha. Os alemães, bem como outros times europeus, renovaram as estratégias e as formas de jogar futebol. Investiram, a meu ver, em três pontos básicos: cuidadoso preparo físico dos jogadores para ganharem grande resistência e velocidade; em segundo lugar, preparar craques individuais que pudessem jogar em qualquer posição e correr todo o campo e por fim criar um grande sentido de conjunto. Excelentes jogadores que não pretendem mostrar sua performance individual mas sabem se integrar no grupo formando um grupo coeso, tornam-se fortes favoritos em qualquer competição. Não que sejam invencíveis, pois vimos que, jogando com os USA, a seleção alemã teve grande dificuldade em ganhar. Mas as referidas qualidades foram o segredo da vitória alemã sobre o Brasil.

A grande questão foi a seleção brasileira. Criou-se quase como consenso nacional de que somos a pátria do futebol, que somos ganhadores de 5 copas mundiais, que temos o rei Pelé e craques excepcionais como Neymar e outros. Houve por parte da mídia corporativa e das agências de apoio, a criação do mito do “Jogador da Copa”, elevado a herói e quase a um semideus. Esta atmosfera de euforia que atendia ao marketing das grandes empresas apoiadoras,, acabaram contaminando a mentalidade popular. Poderíamos perder, mas por pouco. Mas, para a grande maioria, a vitória era quase certa, ainda mais que os jogos estavam se realizando no próprio país.

Essa euforia generalizada não preparou a população para aquilo que é próprio do esporte: a vitória ou a derrota ou o empate. A maioria jamais poderia imaginar, nem por sonho, que poderíamos conhecer uma derrota assim humilhante. A vitória era celebrada por antecipação. Grave equívoco, em grande parte, induzido pela mídia do oba-oba e da euforia, orquestrada por uma famosa rede de TV e seus comentaristas.

Mas houve também um penoso erro por parte da comissão técnica brasileira. Pelo nosso passado glorioso, ela julgou-se mestra a ponto de pretender ensinar aos outros como deve ser o futebol. Ficou sentada sobre as glórias do passado. Não se renovou.

Enquanto isso, em outros lugares, na Europa, especialmente na Alemanha e na Espanha mas também na América Latina como na Colômbia e em Costa Rica se desenvolvia uma nova compreensão do futebol, criaram-se novas táticas e formas de distribuir as posições dos jogadores em campo. Nada disso foi aproveitado pela comissão técnica brasileira, especialmente seu treinador Luis Felipe Scolari (chamado de Felipão). É uma figura paternal, severa e terna ao mesmo tempo, amada pelos jogadores e, em geral, respeitado pelo público. Mas é teimoso e persistente em suas fórmulas, boas para o passado, mas inadequadas e questionáveis para o presente. Ele não se deu conta de que o mundo do futebol havia se transformado profundamente, embora tenha trabalhado fora do Brasil.

Não conseguiu duas coisas que permitem entender o fracasso fragoroso da seleção brasileira. Scolari não desestimulou o tradicional e exacerbado individualismo dos jogadores. Cada qual quer mostrar sua boa performance, quer dar o seu show particular, até em vista de eventual contratação por grandes times estrangeiros. Em segundo lugar, não conseguiu criar um grupo coeso com espírito de grupo. Os jogos deveriam colocar  o ênfase no grupo e em seguida nas qualidades específicas de cada jogador. Deixou os jogadores dispersos. Criaram vácuos inadmissíveis no meio do campo. Não souberam marcar os principais craques do time adversário.

Os alemães se deram conta desta fraqueza estrutural da seleção brasileira. Souberam explorá-la com habilidade. Nos primeiros minutos marcaram já o primeiro gol aos 29 minutos do primeiro tempo já era 5 a 0.

Tal desastre futebolístico criou uma espécie de pane na seleção brasileira. Ficou totalmente desnorteada. Faltou-lhe a serenidade diante das dificuldades e deixaram-se tomar pela desorientação. O próprio treinador Felipão Scolari não soube fazer as substituições necessárias. Estas ocorreram apenas no segundo tempo.

O jogo parecia uma disputa de um time suburbano e popular enfrentando uma seleção de nível internacional. Isso não era o futebol que sempre conhecíamos, cujos dirigentes não quiseram aprender nada dos outros, fechados em sua arrogância. Perdemos por arrogantes e ignorantes.

Tivéssemos 11 Neymares em campo sem um grupo coeso e ordenado, o resultado não seria tão diferente. Perdemos porque jogamos mal e jogamos mal porque não soubemos nos apropriar do novo que se ensaiou fora do Brasil. E não formamos um grupo articulado e versátil.

Sinto, pessoalmente, grande pena dos “brasileirinhos”  que com entusiasmo torceram pela seleção, como bem escreveu o jornalista André Trigueiro. A maioria agora se sente órfã. Aqui, nesse país pluridiverso, com uma população hospitaleira e lúdica, para ela quase nada funciona bem nem a saúde, nem a educação, nem o transporte e nem a segurança. Tirando o carnaval, não somos bons em quase nada, dizem. Mas pelo menos somos bons no futebol. Isso dava ao simples povo o sentido de autoestima. Agora nem mais podemos apelar para o futebol. Por muitos e muitos anos esta terça-feira sinistra de 8 de julho de 2014 com 7 gols a 1 para a Alemanha nos acompanhará como uma sombra funesta. Mas o povo que suportou já tantas adversidades saberá dar a volta por cima. Ele detém uma resiliência histórica como poucos.

Espero apenas uma coisa: que a elite que, na abertura, vergonhosamente vaiou a Presidenta com palavrões indizíveis não volte a envergonhar o Brasil diante do mundo, quando ela entregar a taça ao vencedor. Como tais elites não costumam  frequentar  os estádios e têm pouco compromisso com o Brasil mas muito mais com seus privilégios serão capazes de renovar este  ato despudorado. Elas apenas mostrariam como se comportam diante do povo e do seu próprio país:com soberano desdém, pois sofrem por não viver em Miami ou em Paris e se sentirem condenadas a  viver acumulando aqui no Sul do mundo.

Menção honrosa merece a seleção alemã que foi discreta na celebração e não se prevaleceu sobre uma vitória tão deslumbrante. E o povo brasileiro soube  entender esta atitude  e  lhe reconheceu a dignidade na vitória aplaudindo-a, pois se mostrou realmente melhor.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Audiência da Copa: o que está em jogo?

 Eduardo Silveira de Menezes (*)

Medir índices de audiência é relativamente fácil. O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) explica, em seu site oficial, que a tecnologia utilizada para saber a média dos aparelhos de TV ligados a uma determinada emissora opera pelo uso dos peoplemeters. Trata-se de um serviço viabilizado pela utilização de um dispositivo eletrônico – o DIB – que, após ser instalado em domicílios dispostos a colaborar com a medição, permite a transferência dos registros da sintonia dos canais para o IBOPE. Com o objetivo de se obter um dado cientificamente válido, utilizam-se os relatórios do Painel Nacional de Televisão (PNT), responsável pela validação dos dados de um grupo fixo de residências ao longo dos anos. Estima-se que 25% da amostra são atualizados anualmente. Mas, sob o ponto de vista democrático, como seria possível medir o nível de confusão ideológica que está sendo provocado pela cobertura midiática da Copa do Mundo no Brasil?

Para início de conversa, é preciso identificar o que tem levado as pessoas a tomarem posicionamentos do tipo “sou contrário à Copa, pois amo o Brasil e quero vê-lo avançar em áreas tão necessitadas, como saúde e educação”, ou ainda “sou a favor da Copa e torço pela Seleção, mas não suporto o país onde vivo e só não tenho vergonha de ser brasileiro dentro de um estádio de futebol” – o conhecido “complexo de vira-latas”, prenunciado por Nelson Rodrigues, na década de 1950, e equivocadamente empregado pelo sociólogo Emir Sader em recente comentário, no Twitter, dirigindo-se ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Final da Copa será nas urnas

Essa confusão encontra respaldo na cobertura do evento. Como resultado, evidencia-se um nacionalismo esquizofrênico; é o tal orgulho de “ser brasileiro com muito orgulho e muito amor” associado ao ódio pela presidenta da República, Dilma Rousseff, e por países vizinhos, como o Chile. E não podia ser diferente. A comoção provocada pela transmissão dos jogos, principalmente na TV Globo, é insuflada pelo mesmo saudosismo dos anos em que o “país do futebol” era, também, o “país das aparências” e, certamente, um “país de poucos”, que procurava histericamente copiar o american way of life. O país dos privilegiados, daqueles que podem fazer e falar o que bem entenderem, pois estão no topo da pirâmide social e julgam-se acima da média.

Mesmo que o Brasil esteja longe de vencer os desafios sociais, fez algo inaceitável aos olhos dos catequizados pela cartilha neoliberal do Consenso de Washington. Na última década, um operário e uma mulher ascenderam ao mais alto cargo da Nação. Para confundir, ainda mais, a média da população não abandonou as regras da política econômica insuflada por seus opositores. Mas foram competentes ao promover algumas políticas sociais. Dado o contexto, a revolta e perturbação mental só poderia dar em choradeira. Afinal, os “chorões” e “entusiasmados” responsáveis pela cobertura da Copa são os cabos eleitorais das forças políticas que torcem pelo fracasso do mundial e, paradoxalmente, pelo sucesso da Seleção Brasileira. O novo comentarista esportivo da Rede Globo Ronaldo Nazário disse “não ter estrutura emocional” para acompanhar um jogo eliminatório definido nos pênaltis, como ocorreu no confronto contra o Chile. Será que manterá essa postura no caso de um processo eleitoral definido em um possível segundo turno?

O troféu mais perseguido

A permanência da Seleção brasileira até a última fase do campeonato representa a possibilidade de índices de audiência ainda maiores e, consequentemente, lucros a perder de vista. De acordo com informações do Ibope, se forem consideradas apenas as duas emissoras de TV aberta, Globo e Band, o percentual de aumento da audiência, em relação ao ano de 2010, é de 29% e 18%, respectivamente. São milhões de pessoas que assistem não apenas a transmissão de um evento esportivo de nível internacional, mas ao sucesso ou fracasso de um governo, de corte keynesiano, cujas tímidas políticas sociais incomodam os que, hoje, podem ter o privilégio – concedido por este mesmo governo, é bom que se diga – de esquentarem um dos assentos dos 12 estádios construídos para atender os interesses comerciais da Federação Internacional de Futebol (Fifa).

O sucesso da Seleção, nos gramados, tem sido associado a um possível sucesso eleitoral do atual governo, nas urnas, até porque as tentativas tresloucadas de manchar a imagem do mundial – como à associação paranoide, promovida por um colunista da revista Veja, entre a utilização da cor vermelha, no logo da Copa, e uma suposta propaganda socialista – foi motivo de escárnio internacional. A principal crítica dos jornais estrangeiros à referida fantasia do periódico brasileiro esteve direcionada à falta de investigação jornalística para opinar sobre como se deu a confecção do emblema. A imagem resulta de um projeto criado pela agência de publicidade África, sendo selecionado por uma equipe escolhida pelo Comitê Local da Copa (COL) – conforme noticiado, recentemente, pela revista Fórum.

É inegável que os muitos séculos de patrimonialismo escravista – processo histórico que perpassa desde o absolutismo ibérico até o advento da liberal democracia – expressando-se, na contemporaneidade, pelo insucesso do neoliberalismo, influencia diretamente nas formas de conceber a informação. Por isso, é preciso saber separar os interesses que estão por trás da construção simbólica promovida pelos grandes grupos de comunicação. A estratégia eleitoral da oposição é antiga. Pretende, exclusivamente, fragmentar as forças políticas progressistas e promover uma sucessão presidencial a qualquer custo.

A visão maniqueísta da Copa, induzida pela fraca cobertura midiática, resulta na utilização de feedbacks confusos e pouco contextualizados, nas redes sociais, cuja aparente antítese dos movimentos ?#‎NãoVaiTerCopa e #VaiTerCopaSim sofre, em sua gênese, a infeliz coincidência de ignorar o quadro complexo das relações culturais, sociais e econômicas responsáveis por condicionar as lutas políticas em uma sociedade globalizada. Embora as urnas devam refletir o entendimento coletivo sobre os “campos” onde são travadas as disputas mais significativas, um “campo” se sobressairá em relação aos demais, tornando-se o único espaço possível para a realização do “jogo decisivo”. Não há dúvidas. O troféu mais perseguido é – e sempre será – o que leva ao poder.



(*) Publicado em 01/07/2014 na edição 805 do Observatório da Imprensa.
Eduardo Silveira de Menezes é jornalista, mestre em Ciências da Comunicação e pesquisador do Laboratório de Estudos em Análise do Discurso