quarta-feira, 17 de julho de 2024

PATRIMÔNIO EM PELOTAS , GENTRIFICAÇÃO - Alexandre Bandeira

 


Em Pelotas, o que se denomina de "gentrificação", tem peculiaridades. Primeiramente,  a primeira elite rica de Pelotas, morou e construiu seu patrimônio dos grandes casarões coloniais nas suas "charqueadas". Depois, com a pujança e diversificação de negócios, patrimônios, a segunda elite resolveu que era europeia e assim construiu todo o grande quadrilátero que nós pelotenses conhecemos como o Centro.  Isso se deu do século XIX à primeira metade do século XX. Depois,  essa elite novamente se renova em geração e se "moderniza", abandonando paulatinamente o centro,  em direção ao norte do centro,  onde pudessem, na segunda metade do século XX implantar casarões não mais do estilo europeu,  mas americanos com seus novos confortos modernistas. Foi assim até a década de 80/90. Até aqui, as formas de autoreferência da elite eram as residências no bairro central e à mostra,  seus clubes sociais e equipamentos de conforto social. A partir das últimas décadas,  fortemente no século XXI,  uma nova geração da elite resolveu esconder-se, não ostentar como fazia antigamente; as formas autoreferentes e autopromotoras modificaram-se; agora se faz necessário esconder a opulência, há um retorno ao espaço das velhas charqueadas, onde ressurgem ao longo do  arroio Pelotas novas exuberantes e recônditas mansões,  longe dos olhares populares; surgem também na forma de condomínios fechados os locais e as moradas modernos da nova classe média alta,  imitando o padrão da velha elite endinheirada renovada nos padrões de riqueza e poder. As festas agora não são msis nos clubes e estes entram em decadência, as piscinas estão nas residências, a convivencia com o espaço público é mais restrito aos ricos; isso apenas em certas circunstâncias,  há outros meios e sujeitos para os ostentarem. Além de toda a lástima que esse processo mostra, está também um detalhe da nova elite e que comentei no início: a gentrificação aqui, faz abandonar, desprezar e destruir o construído,  para, depois que sucumba à degradação completa e desaparecimento seja inexorável,  re-incorporar o espaço como "nova" possibilidade de especulação imobiliária,  retroalimentando as novas elites de muita riqueza e poder. Não nos esqueçamos dos interesses que governam nossa sociedade/cidade....

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