quarta-feira, 4 de junho de 2025

A RÉGUA ERRADA - Gabriel Medina

Dia desses, trombei com um cara que tinha um carro melhor que o meu. Fiquei olhando pro possante dele como quem olha pra um prato alheio no restaurante e pensa que fez o pedido errado. Ele, claro, não me notou. Devia estar ocupado desejando o carro de outro cara, que por sua vez invejava o helicóptero de um terceiro. E assim seguimos, numa fila invisível de gente sempre um degrau abaixo do que acha que deveria estar.

A real é que você nunca vai ter tudo. Nunca vai comprar tudo. Sempre vai existir um tênis mais caro, uma casa com um cômodo a mais, um relógio que faz até café. Mas se seu termômetro de felicidade estiver calibrado pelo que você tem e não pelo que você é, parabéns: você assinou um contrato vitalício com a frustração.

Afinal, felicidade atrelada a ter coisas é um cavalo encilhado que nunca para. Você sobe, pensa que chegou lá, mas sempre tem outro pasto mais verde logo adiante. Só que o problema não é o pasto. Nem o cavalo. O problema é a régua.

E se, em vez de medir a vida pelo saldo bancário, a gente medisse pelo tanto de dias que terminam com um suspiro satisfeito? Pela quantidade de histórias que rendem risada numa mesa de bar? Pelo tanto de gente que nos quer bem sem motivo aparente?

Porque no fim das contas, a felicidade mesmo não está em ter. Está em saber que, mesmo sem ter tudo, ainda assim se tem o suficiente.

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