segunda-feira, 16 de junho de 2025

IRÃ, o inferno de gays e mulheres

 


                                                              Jina Mahsa Amini

Odireitos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) no Irã não são reconhecidos pelo Estado iraniano, com estes cidadãos enfrentando desafios legais não vivenciados por cidadãos não-LGBTs. Embora pessoas transexuais possam mudar legalmente seu sexo, a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo é ilegal e pode ser punida com a morte. Atualmente, o Irã é o único país que confirmado e abertamente executa homossexuais a nível federal, embora a pena de morte para a homossexualidade também possa ser decretada no Afeganistão.[1]

As autoridades do regime fundamentalista do Irã intensificaram as patrulhas de rua que reprimem as mulheres que se recusam a seguir os rígidos códigos de vestimenta islâmicos. Sob uma nova campanha chamada nour (luz), endossada pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, a "polícia da moralidade" vem assediando e prendendo mulheres que se recusam a usar o hijab, o lenço de cabeça.

Uma mulher de 25 anos, que falou à DW sob anonimato, disse ter sido abordada nas ruas de Teerã quando estava a caminho da universidade em 20 de abril. Ela relatou ter sido cercada por dezenas de policiais que exigiram que ela cobrisse o cabelo. Quando ela resistiu, eles rapidamente recorreram à violência, puxando seu cabelo e assediando-a verbalmente enquanto a arrastavam para uma van.

"Naquele momento, não entendia completamente o que estava acontecendo, só sabia que estavam me batendo. Mais tarde, vi que várias partes do meu corpo estavam machucadas", afirmou.

Enquanto estava sendo espancada e assediada pela polícia, a mulher disse que pensou no movimento Mulheres, Vida, Liberdade, iniciado em setembro de 2022, quando Jina Mahsa Amini, então com 22 anos, morreu após ser levada sob custódia pela "polícia de moralidade" em Teerã por supostamente usar indevidamente um hijab.

A morte de Amini foi seguida pelos maiores protestos que o Irã havia visto em décadas, com milhares de pessoas saindo às ruas em apoio aos direitos das mulheres. As autoridades usaram a força para reprimir os atos, e uma missão de apuração de fatos da ONU estima que 551 manifestantes foram mortos.

"Lembrei-me de Jina Mahsa Amini e de outras mulheres que sacrificaram suas vidas durante o levante das mulheres pela vida e pela liberdade, e disse a mim mesma que tinha de ser forte", disse a mulher.

"Gritei bem alto que meu código de vestimenta é problema meu. Assim que disse isso, começaram os insultos e a violência", disse ela. As policiais a chamaram de prostituta e lhe disseram que, enquanto vivesse no Irã, ela "deveria respeitar as leis do país derivadas dos mandamentos islâmicos".

A mulher disse ter sido levada detida pela polícia, junto com pelo menos outras cinco mulheres que também não usavam lenço de cabeça. Ela foi liberada após várias horas, mas foi forçada a assinar uma carta comprometendo-se a seguir os códigos de vestimenta islâmicos e pode enfrentar um processo judicial.


quarta-feira, 4 de junho de 2025

A RÉGUA ERRADA - Gabriel Medina

Dia desses, trombei com um cara que tinha um carro melhor que o meu. Fiquei olhando pro possante dele como quem olha pra um prato alheio no restaurante e pensa que fez o pedido errado. Ele, claro, não me notou. Devia estar ocupado desejando o carro de outro cara, que por sua vez invejava o helicóptero de um terceiro. E assim seguimos, numa fila invisível de gente sempre um degrau abaixo do que acha que deveria estar.

A real é que você nunca vai ter tudo. Nunca vai comprar tudo. Sempre vai existir um tênis mais caro, uma casa com um cômodo a mais, um relógio que faz até café. Mas se seu termômetro de felicidade estiver calibrado pelo que você tem e não pelo que você é, parabéns: você assinou um contrato vitalício com a frustração.

Afinal, felicidade atrelada a ter coisas é um cavalo encilhado que nunca para. Você sobe, pensa que chegou lá, mas sempre tem outro pasto mais verde logo adiante. Só que o problema não é o pasto. Nem o cavalo. O problema é a régua.

E se, em vez de medir a vida pelo saldo bancário, a gente medisse pelo tanto de dias que terminam com um suspiro satisfeito? Pela quantidade de histórias que rendem risada numa mesa de bar? Pelo tanto de gente que nos quer bem sem motivo aparente?

Porque no fim das contas, a felicidade mesmo não está em ter. Está em saber que, mesmo sem ter tudo, ainda assim se tem o suficiente.