sábado, 6 de maio de 2023

PALAVRAS - Maria Clara Michels Pinho


Fúcsia. Não sei vocês, mas a mim palavras  assaltam às vezes, ficam martelando em minha cabeça, não descolam, insistem e, quando tento descobrir a razão, nem sempre encontro resposta. Agora é "fúcsia". Há dias  fúcsia me persegue. Badala com um sino nos meus ouvidos, dá flashaço nos meus olhos, por mais que tente dissuadí-la, não me abandona. Lembro, claro, da palavra fúcsia: uma cor com nome já em desuso, pois se dividiu em tantos tons...Mas bastante usada pelos mais antigos, a mãe e a vó gostavam da cor e eu até que usava bastante. E é uma palavra boa de dizer: a gente enrola a língua, distende bem , é suave, é doce, quase cheirosa. O quase cheirosa descobri hoje, procurando saber qual era  o tom exato do fúcsia cor, um vermelho arroxeado, segundo o Google, que transforma mulheres em bailarinas quase voláteis, com longos vestidos de transparências e brilhos. Mas não recordava o fúcsia flor, atribuído  ao nosso brinco de princesa, a flor símbolo do Rio Grande do Sul e que é mais habitual quando ostenta a cor que lhe dá nome.Que, aliás, gosto muito, mas não tive sorte quando plantei, suicidaram-se, talvez com minha ajuda, que não sabia a quantidade de água exata para lhes matar a sede! Por outro lado, talvez seja uma premonição: na mesma página onde encontro longas explicações sobre fúcsia flor e fúcsia cor fico sabendo que será o grande lançamento da moda para esta Primavera-Verão: fúcsia e mais fúcsia. Como não me ligo muito a modismos, só o que não me sai da cabeça é a estranheza. Não li poema, conto ou crônica, não ouvi música, não sonhei com nada que lembrasse a palavra, então não sei porque permeia meu pensamento, ande caminhando por aí ( sem ver nenhum brinco de princesa nem casas ou flores fúcsia), lendo ou  trabalhando no jardim.

Mas se agora é a vez de "fúcsia", isso me acontece seguido. Pirilampo ( essa eu entendi, afinal, há pouco havíamos falado sobre os vagalumes e como, apesar do encantamento que produziam, terem sumido de nossas noites), pintassilgo ( outro que vou pesquisar, não sei bem como é um ), açucena,  madressilva...são outras tantas que, volta e meia, batem no meio da testa e eu não decifro a razão.É assim: estou pensando em coisas bem diferentes e, de repente uma palavra aparece, se fixa, torna-se insistente, martela...E eu lá, abismada, querendo saber de onde saiu. Já notei que tenho uma predileção especial por vocábulos com dois ss, ç, mas também aparecem palavras longas e que soam bem, quase como uma sinetinha, como cristalino, pacífico, maresia, silente ou até soturno.Também aparecem algumas mais escuras, como salafrário,  cafajeste, sardônico ou sinistro, mas essas eu as retiro rapidamente, com um leve sacudir de cabeça, pois, afinal, estão sendo muito empregadas ultimamente.

Mas não são só palavras isoladas que têm este poder estranho sobre minha mente. Nomes inteiros, de personagens mais ou menos celebrados, cientistas, artistas, esportistas, políticos, às vezes despontam.Sem que eu os tenha ouvido, ou lido recentemente. Alguns conheço, admiro ou até detesto. Outros tenho de fazer um grande esforço de memória para lembrar quem são. E, se tiverem vindo ao meu espaço de pensamento à noite, fico irritada porque já sei que pela manhã devo tê-los esquecido e não poderei tentar uma pesquisa que os coloque em um contexto.

Isso também acontece com vocês? Pergunto porque não gostaria de pensar que sou a única louquinha neste espaço. E como acabei de fazer a pesquisa sobre "fúcsia", trago para cá a cor e a flor. Até que valem a pena!

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