sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A QUESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO EM PELOTAS - Lúcio Almeida Hecktheur (*)

 


O novo Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em 15 de julho de 2020 através da Lei 14.026, estabelece o atendimento de 99% da população brasileira com água potável e 90% com tratamento e coleta de esgoto até o dia 31 de dezembro de 2033 (prazo de 13 anos, 5 meses e 17 dias). O Brasil, na data do sancionamento do Marco, tinha 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada e mais de 100 milhões sem coleta de esgoto.

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria, com a universalização dos serviços de água e esgoto, tem-se uma expectativa na redução dos custos anuais com saúde em até R$ 1,45 bilhão e, segundo a Organização Mundial da Saúde, para cada R$ 1,00 investido em saneamento, economiza-se R$ 4,00 na área da saúde.

Em Pelotas, segundo os últimos dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, referentes ao ano de 2020, temos 99,99% da população atendida com água potável e 59,91% com redes de esgoto. Do volume total de esgoto coletado através das redes nada é tratado no município em função de que Pelotas não tem hoje nenhuma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em funcionamento, ou seja, as ETE do Porto e do Laranjal estão inativas a bastante tempo e a do Novo Mundo ainda em construção. Cabe aqui uma pergunta: Desde quando Pelotas, o quarto município mais populoso do Rio Grande do Sul e o septuagésimo nono do Brasil (de 5.570 municípios) não tem nenhuma ETE em funcionamento?

Os gráficos abaixo mostram as séries históricas do percentual de perda de água potável em sua distribuição e a extensão de redes de esgoto em Pelotas.

 



Como pode-se observar, a eficiência na distribuição de água potável em Pelotas é muito baixa chegando-se a ter mais de 60% de perdas em 2020. Com uma média anual de perdas de 47,26% podemos afirmar que quase metade da água tratada em Pelotas no período de 2001 a 2020 foi jogada fora.

No que se refere ao sistema de redes de esgoto, de 1996 a 2020 (25 anos) tivemos um acréscimo de 47,29% em sua extensão com uma taxa média anual de crescimento de apenas 1,63%. Considerando que Pelotas ainda tem 40,09% da sua população sem acesso ao serviço de esgoto, pode-se concluir que os investimentos nesta área ao longo dos anos são inexpressíveis.

O Poder Público Municipal de Pelotas começou a tentar melhorar as condições do saneamento básico na Gestão Bernardo/Fetter quando começaram as obras da ETE Laranjal e consequentes construções de redes coletoras; aprovou-se projeto e recursos para a construção da Estação de Tratamento de Água (ETA) São Gonçalo e ETE Novo Mundo. A Gestão Municipal 2009-2012 finalizou e vieram os governos de Eduardo Leite e Paula Mascarenhas o qual perdura até hoje. Neste período de aproximadamente 09 anos de Governo Tucano, o que foi feito de obras de saneamento? Não conseguiram finalizar nenhuma das obras ou projetos que herdaram mesmo declarando em suas campanhas eleitorais municipais que tinham o meio ambiente e saneamento básico como prioridades.

As consequências da inoperância governamental com o saneamento básico acarreta problemas graves. Hoje, passamos novamente a correr o risco do desabastecimento de água potável em função da seca que incide no nosso Estado e temos uma praia, a do Laranjal, com muitos pontos impróprios para banho.

Em junho de 2020, mais precisamente no dia 11, o abastecimento de água potável em Pelotas quase chegou ao colapso. Nesta data o nível da barragem Santa Bárbara chegou a ficar 4,40 m abaixo da sua cota zero. Essa grande estiagem (2019-2020) começou a afetar a cota da barragem em 21 de novembro de 2019 (cota -2 cm) indo até 11 de junho de 2020 (cota -4,40 m) perfazendo um total de 203 dias de estiagem. Nesse período, a cota da barragem Santa Bárbara teve uma taxa de variação negativa de 2,16 cm por dia. Na atual estiagem que já perdura 77 dias, a taxa de variação negativa da cota da barragem é de 1,51 cm por dia.

Os gráficos abaixo mostram o avanço da seca, refletido nas cotas do nível da Barragem Santa Bárbara, para o período de 2019-2020 e para o período atual.

 



No tocante a balneabilidade das nossas praias do Laranjal, de acordo com o Boletim de Balneabilidade da Temporada 2021-2022, divulgado em 24 de dezembro de 2021 pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), dos 90 pontos monitorados, 06 apresentam condição imprópria. Destes 06 pontos impróprios em todo o Rio Grande do Sul, 03 deles encontram-se na praia do Laranjal. Confira em https://estado.rs.gov.br/relatorio-balneabilidade-divulga-pontos-proprios-para-banho-no-rs.

                Por fim fica o questionamento: saneamento básico é importante ou não? Se entendermos que é importante, por que a demora na conclusão de obras nesta área? Por que as obras da ETA São Gonçalo e ETE Novo Mundo se arrastam por tanto tempo?

(*)  Doutor em Energias Renováveis - UFRGS , Professor do IFSul, Campus Pelotas

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