quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

OS PASSOS ADIANTE DO GOLPE - P.R.Baptista

Que foi consumado um golpe parece que, a cada dia, a cada instante, foi ficando mais claro.
Um golpe parlamentar como se denominou resultante do conluio de forças políticas, midiáticas e econômicas mobilizadas para tirar do poder um governo democraticamente eleito.
Golpe, no entanto, que não tinha apenas por finalidade mudar o governo, na suposição que tivesse ferido a Constituição, mas promover todo um ideário neoliberal que, por momentos, anuncia avançar para um extremismo de direita..
Sob esse aspecto um clássico golpe como tantos outros, e são tantos!, que foram se promovendo ao longo do tempo na história política da América Latina.
Desta forma um projeto que não venceu nas urnas, é implantado a toque de tambor de forma a dinamitar todos os caminhos que pudessem ter sido construídos a indicar outros destinos.
A indicação de Alexandre de Moraes para ministro do STF passa a ser, nesse contexto, o ato que simboliza todo o processo na sua expressão mais crua, mais aviltante.
É o passo que os tiranos, já seguros, se sentem à vontade de dar para exaltar seu poder e, ao mesmo tempo, demonstrar seu desprezo pelo povo.
Enquanto isto a oposição dá a impressão de que ficou órfã.
Apega-se a uma espécie de guerrilha nas redes sociais, mostrando simpatia, quando não adoração, por alguns nomes que se colocam como pensadores e intérpretes da conjuntura e cujos textos se compartilham mecanicamente como se fossem o anunciar da revolução..
São, os integrantes dessa oposição, em certa parte, antigos participantes de movimentos estudantis durante a ditadura militar transformados, hoje, em mais ou menos bem sucedidos profissionais liberais ou funcionários públicos mais ou menos bem remunerados tendo uma vida, do ponto de vista material e de hábitos e costumes que, aliás frequentemente, muito os aproxima da burguesia, tornados corporativistas, consumistas e afastados da causa da classe trabalhadora e dos que vivem na pobreza e na miséria.
Não vão voltar à militância, a não ser esta das redes sociais, não vão voltar às ruas com o ardor de antes, não vão retornar aos sindicatos, aos partidos, enfim, a formas de participação que possam interferir muito em seu bem-estar mas que poderiam, talvez, representar formas mais diretas e efetivas de participação. 
Em alguns casos orgulham-se de ter transferido aos filhos um pouco desses ideais.
Enquanto isto os que ocupam hoje posições nos sindicatos, nos partidos, nas instâncias políticas com poder de organização, dão a impressão de não terem noção das melhores estratégias a serem adotadas.
Algumas, reiteradamente reproduzidas, tem demonstrado claramente serem ineficazes.
Há quem diga que o caminho deva ser outro, talvez no plano de uma revolta,  mas é um comentário vazio pois quem comenta não consegue apontar como efetiva-lo, apenas se soma ao conjunto crescente de ideias soltas e desconexas. 
Talvez seja necessário rever conceitos, promover uma autocrítica que não se faz,  ou talvez seja assim mesmo, talvez o ser humano seja apenas um laboratório para se tentar, por erro e acerto, alcançar um ser , com muita dificuldade, um pouquinho menos destruidor, rude e selvagem.
Momentos em que a pergunta Que Fazer? volta a ter sentido e urgência, tanto no plano geral dentro do qual, originalmente, a questão foi colocada, quanto no individual a respeito de cada um de nós.

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