Todos, com mais de quarenta anos, haverão de lembrar-se quando e como iniciou, em nosso país, a “política do denuncismo”. Aconteceu logo após a instalação dos primeiros governos civis, vencida a repressão e o controle da imprensa.
Qualquer conduta menos reta, que proporcionasse pequena dose de suspeição, era motivo para escândalos. Os jornais abriam manchetes, que eram repetidas em programas de rádio, os quais reverberavam palavras dos moralistas de então.
Nos Parlamentos, ouviam-se vozes de iniciantes na atividade política, tidos como imaculados e prenunciadores de ares de renovação no país. Movidos por sentimentos elevados, representantes de diversos segmentos sociais cerravam fileiras pela moralidade.
Despontava, então, como o mais ferrenho adepto do “denuncismo”, um partido que não tinha ligações com a história que até então fora traçada no país.
Sobravam-lhe razões verdadeiras para atacar as velhas raposas da política brasileira, muitas das quais, depois de haverem sido subservientes ao regime militar, reapareciam, então, travestidas de democratas. Não faltava autoridade moral aos novos censores: muitos de seus porta-vozes eram jovens carregados do mais autêntico ardor de construir uma sociedade mais justa, com menos desigualdades e onde não houvesse desvios dos sempre parcos recursos públicos.
A “política do denuncismo” foi, mais e mais, conquistando a população, que passou a clamar por novos tempos e por novas caras na vida política brasileira.
No Congresso Nacional, no dizer do então mais proeminente porta-voz dos novos tempos, havia, pelo menos, “trezentos picaretas” capazes de quaisquer negócios.
O passado era visto como apenas carregado de mazelas.
Urgia recomeçar tudo.
Era imperativo sepultar a “velha política” e, com ela, os personagens responsáveis pelos males que afogavam o país.
A chegada da comemoração do quinto século da “invenção do Brasil” serviu de mote: “Agora, serão novos quinhentos!”
Pois, de denúncia em denúncia, ungidos inclusive por bênçãos eclesiásticas, sem carregar nódoas denunciadoras de atitudes aéticas ou antiéticas, chegaram eles aos mais elevados postos da República (ainda que denunciassem, já por hábito, a falta de democracia em que vivíamos).
O interessante (e absolutamente paradoxal)| é terem vindo junto com eles alguns dos personagens que antes eram tidos, por eles próprios, como verdadeiros símbolos da corrupção.
Mais interessante, ainda, foi virem a ser surpreendidos em “maracutaias” de absoluto ineditismo, com a distribuição orgiástica de cargos ministeriais, voltados a proporcionar “dutos financeiros”, para alimentar as máquinas partidárias dos que lhes fossem fiéis.
Hoje, paradoxalmente, a cada semana, o jornalismo investigativo registra manchetes envolvendo altas figuras da República em “tenebrosas transações” (como o poeta e profeta maior dos novos tempos dizia, antes, dos outros).
...E o que têm eles a dizer da corrupção sistêmica que foi montada no país, por obra deles próprios, os moralistas de ontem?
- Ora, ora, tudo o que os jornais retratam é apenas fruto de uma reles “política antipetista” que se instalou no Brasil!!!
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