terça-feira, 25 de janeiro de 2022
sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
A QUESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO EM PELOTAS - Lúcio Almeida Hecktheur (*)
Segundo dados
da Confederação Nacional da Indústria, com a universalização dos serviços de
água e esgoto, tem-se uma expectativa na redução dos custos anuais com saúde em
até R$ 1,45 bilhão e, segundo a Organização Mundial da Saúde, para cada R$ 1,00
investido em saneamento, economiza-se R$ 4,00 na área da saúde.
Em Pelotas,
segundo os últimos dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento, referentes ao ano de 2020, temos 99,99% da população atendida com
água potável e 59,91% com redes de esgoto. Do volume total de esgoto coletado através
das redes nada é tratado no município em função de que Pelotas não tem hoje
nenhuma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em
funcionamento, ou seja, as ETE do Porto e do Laranjal estão inativas a bastante
tempo e a do Novo Mundo ainda em construção. Cabe aqui uma pergunta: Desde
quando Pelotas, o quarto município mais populoso do Rio Grande do Sul e o
septuagésimo nono do Brasil (de 5.570 municípios) não tem nenhuma ETE em
funcionamento?
Os gráficos
abaixo mostram as séries históricas do percentual de perda de água potável em
sua distribuição e a extensão de redes de esgoto em Pelotas.
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Como pode-se
observar, a eficiência na distribuição de água potável em Pelotas é muito baixa
chegando-se a ter mais de 60% de perdas em 2020. Com uma média anual de perdas
de 47,26% podemos afirmar que quase metade da água tratada em Pelotas no
período de 2001 a 2020 foi jogada fora.
No que se
refere ao sistema de redes de esgoto, de 1996 a 2020 (25 anos) tivemos um
acréscimo de 47,29% em sua extensão com uma taxa média anual de crescimento de
apenas 1,63%. Considerando que Pelotas ainda tem 40,09% da sua população sem
acesso ao serviço de esgoto, pode-se concluir que os investimentos nesta área
ao longo dos anos são inexpressíveis.
O Poder Público
Municipal de Pelotas começou a tentar melhorar as condições do saneamento
básico na Gestão Bernardo/Fetter quando começaram as obras da ETE Laranjal e
consequentes construções de redes coletoras; aprovou-se projeto e recursos para
a construção da Estação de Tratamento de Água (ETA) São
Gonçalo e ETE Novo Mundo. A Gestão Municipal 2009-2012 finalizou e vieram os
governos de Eduardo Leite e Paula Mascarenhas o qual perdura até hoje. Neste
período de aproximadamente 09 anos de Governo Tucano, o que foi feito de obras
de saneamento? Não conseguiram finalizar nenhuma das obras ou projetos que herdaram
mesmo declarando em suas campanhas eleitorais municipais que tinham o meio
ambiente e saneamento básico como prioridades.
As
consequências da inoperância governamental com o saneamento básico acarreta
problemas graves. Hoje, passamos novamente a correr o risco do desabastecimento
de água potável em função da seca que incide no nosso Estado e temos uma praia,
a do Laranjal, com muitos pontos impróprios para banho.
Em junho de
2020, mais precisamente no dia 11, o abastecimento de água potável em Pelotas
quase chegou ao colapso. Nesta data o nível da barragem Santa Bárbara chegou a
ficar 4,40 m abaixo da sua cota zero. Essa grande estiagem (2019-2020) começou
a afetar a cota da barragem em 21 de novembro de 2019 (cota -2 cm) indo até 11
de junho de 2020 (cota -4,40 m) perfazendo um total de 203 dias de estiagem. Nesse
período, a cota da barragem Santa Bárbara teve uma taxa de variação negativa de
2,16 cm por dia. Na atual estiagem que já perdura 77 dias, a taxa de variação
negativa da cota da barragem é de 1,51 cm por dia.
Os gráficos
abaixo mostram o avanço da seca, refletido nas cotas do nível da Barragem Santa
Bárbara, para o período de 2019-2020 e para o período atual.
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No tocante a
balneabilidade das nossas praias do Laranjal, de acordo com o Boletim de
Balneabilidade da Temporada 2021-2022, divulgado em 24 de dezembro de 2021 pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), dos 90 pontos monitorados, 06
apresentam condição imprópria. Destes 06 pontos impróprios em todo o Rio Grande
do Sul, 03 deles encontram-se na praia do Laranjal. Confira em https://estado.rs.gov.br/relatorio-balneabilidade-divulga-pontos-proprios-para-banho-no-rs.
(*) Doutor em Energias Renováveis - UFRGS , Professor do IFSul, Campus Pelotas
sexta-feira, 14 de janeiro de 2022
quinta-feira, 13 de janeiro de 2022
TAILLEUR - Enio Andrade
em minha vida. Fui transferida há pouco, foram cinco anos de exílio
voluntário no interior do estado. Não é que eu não gostasse da vida mais
tranquila e previsível, eu até gosto, questão de temperamento. Poder ser
quem você é, pelo menos para mim. Desfrutar de uma certa proximidade
entre as pessoas, poder vestir-se sem querer impressionar ninguém, o ponto
mais próximo da informalidade que é possível de ser atingido.
Minha semana foi só atribulação, fiquei perdida entre a mudança e a
transferência de tudo o que eu estava fazendo ao meu substituto. O único
dia que sobrou foi o sábado. Decidi passar a tarde no shopping procurando
alguma coisa que eu pudesse vestir nos primeiros dias. Meu guarda roupas
estava entre roupas de festa, descobri cedo que teria poucas oportunidades
de usá-las, e roupas do dia a dia, minha Mãe as chamava “uniformes”,
essas com as quais a gente se acostuma.
Todo o meu esforço transformou-se em uma única roupa. Podia não
parecer, mas aquele tailleur sintetizava tudo o que eu precisava, pelo menos
era o que eu estava pensando, transmitia toda uma formalidade e era
discreto. Ainda mais naquela cor, se alguém não quer ser notado o cinza é a
cor perfeita.
Mesmo tendo acordado cerca de uma hora antes estava atrasada,
perdi um tempo precioso alisando meu cabelo, às vezes ele se revolta. Ah
que saudade, mas o que é isso, mal saí de lá e já quero voltar. Tentei pensar
que é pra frente que se anda, essas coisas de autossugestão que a gente usa
pra se convencer de que o pior pode ser bom pra gente.
O táxi me deixou aos pés da escadaria que conduzia ao foro. A
subida foi penosa, a falta de costume com aquele salto alto começava a
apresentar a sua conta. O caminho até o elevador foi de sofrimento e
estupefação, o prédio novo do foro não ficava devendo nada a nenhum
palácio. Em todos esses anos confesso que vim pouco a capital.
Cheguei ao elevador exausta, o sapato me matando, já nem
conseguia raciocinar direito. Mal entrei e me deparei com o lugar destinado
a ascensorista vazio. Aquele banquinho minúsculo nunca me pareceu tão
confortável, nem pestanejei, sentei logo e uma sensação de alívio me
envolveu. Nem pude aproveitar muito, logo apareceu um gaiato que sem
sequer me dirigir um olhar falou como um mandatário:
Oitavo !!
Que coincidência pensei, o mesmo andar, apertei o botão sem
pestanejar, afinal de contas também estava indo para lá e não custava nada.
Não pude deixar de notar que o homem estava vestido com esmero. Em
seguida entrou outro homem com o mesmo padrão e cumprimentou o outro
com um sorriso entre dentes e simplesmente falou:
Oitavo !!
A capacidade do elevador era para cerca de doze pessoas, foram entrando e
repetindo:
Oitavo !!
O que me surpreendeu não foi a forma breve em que se deu a
lotação, mas, a maneira como as pessoas se dirigiam a mim. Depois da
primeira vez em que apertei o botão do oitavo andar não achei que fosse
necessário repetir o gesto. No entanto, todos que entraram no elevador se
dirigiram a mim sem ao menos se dignarem a me lançarem um olhar. Que
gente mal educada pensei, alguns até demonstravam certa contrariedade ao
acharem que eu não apertara o botão. Ficaram cochichando entre si,
provavelmente reclamando da minha morosidade.
Mal chegamos ao nosso destino, assim que a porta abriu, e as pessoas
se evadiram em um tropel. Deu até medo de tentar sair e ser atropelada. Ao
passar pela porta da sala de audiências pude notar que metade daquelas
pessoas estava sentada ali, provavelmente esperando a sua vez de
testemunhar. Entrei por uma porta lateral e após me identificar para o
secretário de audiências me dirigi ao meu lugar. Assim que sentei na
cadeira dei um bom dia a todos e declarei aberta a audiência. Precisei
repetir a minha fala pois notei que todas aquelas pessoas estavam atônitas
me olhando. Não pude deixar de pensar que graças àquele tailleur pude
perceber que a minha vida de Juíza naquela cidade não seria nada fácil.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2022
EM DISCUSSÃO A IMPLANTAÇÃO DE AEROGERADORES NA LAGUNA DOS PATOS - Lucio de Almeida Hecktheuer (*)
O governo do Estado, por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) abriu ontem a consulta pública para o futuro edital de concessão de uso de áreas da Lagoa dos Patos.
O objetivo seria implantar aerogeradores de energia elétrica (parque eólico)
Em tese a proposta permitiria oferecer soluções de médio e longo prazo para a geração de energia renovável e limpa.
Cabe salientar que a proposta, neste momento, é apenas especulativa dependendo para sua implementação de superar várias etapas que atentem não só para aspectos que possam ser de interesse imediatamente economicos mas, de forma muito importante, para as implicações ambientais.
O futuro da
implantação de novos parques eólicos no Rio Grande do Sul
Dentre os principais parques eólicos no Brasil temos o Parque Eólico Giribatu localizado em Santa Vitória do Palmar (RS) com uma potência instalada de 258 MW; o Complexo Eólico do Alto do Sertão I localizado em Caetité, Guanambi e Igaporã (BA) com capacidade instalada de 293,6 MW e o de Osório (RS) com capacidade instalada de 300 MW.
Nesse contexto
de geração de energia elétrica o Estado do Rio Grande do Sul, através da sua
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SEMA) está abrindo audiência
pública para futuro processo de licitação de concessão da Laguna dos Patos para
fins de geração de energia elétrica através de parques eólicos offshore. A SEME
espera que, em fevereiro próximo, o processo licitatório já esteja ocorrendo.
Quanto a esse
processo de concessão, cabe alguns questionamentos:
a) Qual
o potencial eólico da Laguna dos Patos?
Segundo o
Atlas Eólico do Rio Grande do Sul, editado em 2014, o potencial eólico da Laguna
dos Patos, com uma área de 9.427 km2, é de 24,5 GW. Para a elaboração do Atlas
foram realizadas medições de ventos em 70 localidades do Estado com um período
médio de medição de 2 anos mas nenhuma torre de medição foi instalada offshore
na Laguna dos Patos o que adia a instalação de parques eólicos nesta laguna por
3 anos devido a exigências da ANEEL de medição de vento no local de instalação
dos parques.
b) Onde existem redes de transmissão próximas da Laguna dos Patos para futuras conexões dos Parques eólicos a serem instalados?
A maior partes das redes de transmissão existentes perto da Laguna dos Patos estão localizadas no lado oeste. Essas redes poderão ser utilizadas para a conexão dos parques no sistema nacional de energia elétrica.
c) Quais
os impactos ambientais que poderão advir com a implantação de parques eólicos
na Laguna e como podemos mitigá-los. O principal impacto é uma possível
mortandade de pássaros mas esse fato deve ser melhor estudado e pesquisado a
fim de quantifica-lo com maior acuracidade.
d) Parques
eólicos offshore têm suas instalações e manutenção necessitando mais cuidados e
gastos que os onshore.
e) Quais
os custos de manutenção, operação e conexão na rede dos parques eólicos
offshore? Com certeza são maiores que nos onshore.
f) Quais
as fontes de financiamento e condições serão oferecidas para a implantação
desses parques eólicos pela iniciativa privada ?
g) Por
que parque eólicos offshore na Laguna dos Patos? Porque o bem do Estado a ser
concedido é a Laguna e não as terras que a margeiam. Daí a concessão para a
implantação das turbinas em água.
h) Quais
os benefícios da implantação de parques eólicos na Laguna? Incrementar
atividades econômicas nas proximidades da Laguna. Hoje, nessa região, quase não
existe atividade econômica. Além disso, o Estado contará com um acréscimo de
geração de energia elétrica proveniente de uma fonte limpa que é a eólica,
diversificando assim a matriz energética.
i) Quais
as vantagens de parques eólicos offshore em relação aos instalados em terra
(onshore) ? Os parques offshore possibilitam, com um mesmo equipamento, gerar
até 30% mais energia elétrica que os instalados em terra em função da não
incidência de obstáculos e regime de ventos em alto mar. Normalmente esses
parques offshore são instalados em oceanos distantes das margens.
j) Quais
as desvantagens de parques eólicos offshore em relação aos instalados em terra
(onshore) ? Os custos de instalação, conexão a redes de energia, operação e
manutenção mais elevados.
(*) Doutor em Energias Renováveis - UFRGS , Professor do IFSul, Campus Pelotas