quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

EM DISCUSSÃO A IMPLANTAÇÃO DE AEROGERADORES NA LAGUNA DOS PATOS - Lucio de Almeida Hecktheuer (*)

 


O governo do Estado, por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) abriu ontem a consulta pública para o futuro edital de concessão de uso de áreas da Lagoa dos Patos.

O objetivo seria implantar aerogeradores de energia elétrica (parque eólico)

Em tese a proposta permitiria oferecer soluções de médio e longo prazo para a geração de energia renovável e limpa.

Cabe salientar que a proposta, neste momento, é apenas especulativa dependendo para sua implementação de superar várias etapas que atentem não só para aspectos que possam ser de interesse imediatamente economicos mas, de forma muito importante, para as implicações ambientais.

O futuro da implantação de novos parques eólicos no Rio Grande do Sul

 A energia eólica no Brasil vem crescendo nos últimos anos e hoje já abastece milhões de residências. Em solo brasileiro temos mais de 520 parques eólicos totalizando 17,131 GW de potência instalada que produziu 57.051 GWh de energia elétrica no ano de 2020, energia essa equivalente a 9,18 % de toda energia elétrica gerada em 2020 segundo dados fornecidos pelo Balanço Energético Nacional de 2021. Atualmente 80% dos parques eólicos estão na região nordeste, sendo o Rio Grande do Norte e a Bahia os maiores Estados produtores. Desse total de parques eólicos brasileiros, apenas quatro deles são offshore (parques eólicos com as suas turbinas eólicas instaladas dentro dágua). São eles (offshore) o de Caucaia, o de Asa Branca, o de Jangada (Força Eólica do Brasil) e o de Camocim (Camocim Eireli). O maior deles é o Jangada, tanto em potência quanto em quantidade de turbinas. Os demais parques eólicos são onshore (turbinas eólicas instaladas em terra).


Dentre os principais parques eólicos no Brasil temos o Parque Eólico Giribatu localizado em Santa Vitória do Palmar (RS) com uma potência instalada de 258 MW; o Complexo Eólico do Alto do Sertão I localizado em Caetité, Guanambi e Igaporã (BA) com capacidade instalada de 293,6 MW e o de Osório (RS) com capacidade instalada de 300 MW.

Nesse contexto de geração de energia elétrica o Estado do Rio Grande do Sul, através da sua Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SEMA) está abrindo audiência pública para futuro processo de licitação de concessão da Laguna dos Patos para fins de geração de energia elétrica através de parques eólicos offshore. A SEME espera que, em fevereiro próximo, o processo licitatório já esteja ocorrendo.

Quanto a esse processo de concessão, cabe alguns questionamentos:

a)      Qual o potencial eólico da Laguna dos Patos?

Segundo o Atlas Eólico do Rio Grande do Sul, editado em 2014, o potencial eólico da Laguna dos Patos, com uma área de 9.427 km2, é de 24,5 GW. Para a elaboração do Atlas foram realizadas medições de ventos em 70 localidades do Estado com um período médio de medição de 2 anos mas nenhuma torre de medição foi instalada offshore na Laguna dos Patos o que adia a instalação de parques eólicos nesta laguna por 3 anos devido a exigências da ANEEL de medição de vento no local de instalação dos parques.


b)     Onde existem redes de transmissão próximas da Laguna dos Patos para futuras conexões dos Parques eólicos a serem instalados?



               A maior partes das redes de transmissão existentes perto da Laguna dos Patos estão localizadas no lado oeste. Essas redes poderão ser utilizadas para a conexão dos parques no sistema nacional de energia elétrica.

c)      Quais os impactos ambientais que poderão advir com a implantação de parques eólicos na Laguna e como podemos mitigá-los. O principal impacto é uma possível mortandade de pássaros mas esse fato deve ser melhor estudado e pesquisado a fim de quantifica-lo com maior acuracidade.

d)     Parques eólicos offshore têm suas instalações e manutenção necessitando mais cuidados e gastos que os onshore.

e)     Quais os custos de manutenção, operação e conexão na rede dos parques eólicos offshore? Com certeza são maiores que nos onshore.

f)       Quais as fontes de financiamento e condições serão oferecidas para a implantação desses parques eólicos pela iniciativa privada ?

g)      Por que parque eólicos offshore na Laguna dos Patos? Porque o bem do Estado a ser concedido é a Laguna e não as terras que a margeiam. Daí a concessão para a implantação das turbinas em água.

h)     Quais os benefícios da implantação de parques eólicos na Laguna? Incrementar atividades econômicas nas proximidades da Laguna. Hoje, nessa região, quase não existe atividade econômica. Além disso, o Estado contará com um acréscimo de geração de energia elétrica proveniente de uma fonte limpa que é a eólica, diversificando assim a matriz energética.

i)      Quais as vantagens de parques eólicos offshore em relação aos instalados em terra (onshore) ? Os parques offshore possibilitam, com um mesmo equipamento, gerar até 30% mais energia elétrica que os instalados em terra em função da não incidência de obstáculos e regime de ventos em alto mar. Normalmente esses parques offshore são instalados em oceanos distantes das margens.

j)      Quais as desvantagens de parques eólicos offshore em relação aos instalados em terra (onshore) ? Os custos de instalação, conexão a redes de energia, operação e manutenção mais elevados.

 Com base nos questionamentos abordadas, cabe agora esperar o processo de licitações e verificar se haverá empresas interessadas em investirem em parques eólicos offshore na Laguna dos Patos. A intenção do Estado em propiciar a concessão da Laguna dos Patos é boa, mas, com a falta de dados de ventos hoje existente e empreendedores sem condições de realizarem estudos de viabilidade econômica realista fica a pergunta: será que despertará interesse de algum empreendedor para essa atividade?

(*) Doutor em Energias Renováveis - UFRGS , Professor do IFSul, Campus Pelotas

      

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