quarta-feira, 27 de maio de 2015

O fato real e o fato fotográfico



Esta foto, que causa uma impressão muito forte, é plena de aspectos relativos à situação em si, uma abordagem policial, e, de modo mais particular, à sua expressão fotográfica e jornalística.
O fato teria ocorrido em 2013 no Morro do Alemão e seria uma revista feita em moradores à procura de drogas ou armas sob a justificativa de que eles, incluindo crianças, em algumas ocasiões são portadores a mando dos traficantes.
Segundo notícia da época " as crianças que circulam pelo Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, não poderão mais ser revistadas por agentes da Força Nacional de Segurança, se não houver suspeita de que elas estejam carregando armas ou drogas.
A decisão foi tomada hoje (19) em reunião do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), João Tancredo, com o secretário de Segurança Pública do estado, José Mariano Beltrame. Flávia Castro Da Agência Brasil De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública, as crianças não devem mais ser revistadas na saída de escolas.
Mas, segundo ainda a assessoria, o julgamento de suspeita de uma criança vai caber ao agente em atividade. O advogado João Tancredo disse, em entrevista depois da reunião, que o Estado não tem cumprido adequadamente a função de proteger o indivíduo com essa postura [de revistar crianças]. "As crianças estão sendo violentadas por duas vezes. Primeiro quando colocam coisas em suas roupas e depois com a revista policial". Ele afirmou que as revistas são consideradas ilegais pela OAB. "Existe uma regra geral do Código Penal que só se pode proceder revista em qualquer pessoa se for fundada a suspeita. Nessas circunstâncias, todos eram suspeitos", (fonte da notícia: Direitos Humanos)

Seria, portanto, um fato passado o qual, supõe-se, talvez superado.

Voltando à foto, sem dúvida ela causa um impacto muito grande.
Trata-se, tipicamente, do exemplo de imagem que tem o potencial de correr o mundo, de ser premiada nos concursos que costumam ser feitos de fotojornalismo.
A respeito dois aspectos que nos chamam a atenção.
Primeiro a violência visual da imagem na qual  homens fardados, integrantes, portanto, de uma força policial, e, aspecto ainda mais forte, armados com fuzis, revistam moradores, incluindo crianças.
Este seria o aspecto mais evidente.
Já um segundo aspecto passa uma mensagem que pode trazer uma leitura complementar.
As crianças, é observável, estão a caminho da escola, ou seja, estudam, e se apresentam bem vestidas. Supõe-se, portanto, que vivam num ambiente no qual, apesar da violência presente em momentos como esses e, por certo, em vários outros momentos, se tem garantida algum tipo de "normalidade".
Cabe lembrar que revistas podem ser procedimentos mais frequentes do que se possa supor, em muitos casos são feitas inclusive na entrada de escolas para constatar se alunos não estão armados o que tem ocorrido.
Mas, no nosso caso, a abordagem, evidentemente, é mal conduzida.
Não se justifica que se empunhem fuzis numa abordagem com crianças, muito menos que elas sejam dispostas, de costas, com os braços erguidos por mais que isto seja considerado procedimento padrão em casos de revistas.
O que procuro questionar, no entanto, olhando o fato sob o ponto de vista de seu conteúdo fotográfico, é ser a violência de alguma forma alterada no seu conteúdo no momento em que se substancializa como imagem e se perde ou se ignora o contexto no qual ela é produzida.
A violência, nesse instante, se torna também simbólica e se eterniza.
Esta é a força, para o bem ou para o mal, da Fotografia.

P.R.Baptista

(*) Infelizmente não foi possível localizar a autoria da foto.


  

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