Um menino sonhador morou no interior até seus 20 anos, dedicando parte de seu tempo-criança para conversar com a lua. Inspirava-se nos seus raios e buscava luzes para seus caminhos, especialmente em noites de lua cheia. Cantarolava a esperança, para aliviar ansiedades. Dividia seu tempo entre o trabalho na roça, os estudos escolares e o acalentar de sonhos, no princípio de muitas noites. Sua família pobre e humilde, com muitas dificuldades, soube arquitetar sonhos e desejos para que todos, mais tarde, pudessem superar sua "miséria minifúndia".
A ansiedade deste menino era descobrir como ser "reconhecido pelos outros". Sua primeira tentativa foi pela fama: alimentou a ilusão de ser um grande cantor. Imaginava palcos, aplausos e muito reconhecimento. Começou a cantar no coral de sua igreja, mas parou por aí. Enquanto estudava, viveu a tensão de ser querido e discriminado. Era muito gago, o que lhe rendia muitos preconceitos e discriminação. Mas como ninguém é zero em tudo, aprendeu cedo a compensar este seu limite de comunicação (falada) com leituras e boa escrita. Escrever tornou-se, então, uma grande necessidade, uma forma de se parecer bonito aos outros.
Depois imaginou superar sua "pequenez" ingressando no seminário. Alimentou por alguns anos o desejo de ser padre, bom comunicador e missionário. Decepcionou-se com alguns religiosos porque estes não souberam ajudá-lo e compreendê-lo.
Embora todas estas experiências fossem insuficientes, o jovem moço descobriu que cada uma delas foi fundamental para constituí-lo forte e capaz. Descobriu-se professor, fazendo das práticas pedagógicas lugar de descobertas e afirmações de suas crenças e experiências. Passou a acreditar muito nos potenciais humanos. Passou a acreditar que não nasceu humano, nem professor e nem escritor, mas que sempre está sendo quem é.
Este menino sonhador hoje tem 41 anos. Conta sua história por reconhecer que a história de todo mundo é feita de superação. Acredita que o maior desafio dos seres humanos é sua humanização. Humanizar-se significa tornar-se um ser humano melhor, mais completo e realizado. Por isso afirma que as escolas podem ser espaços de humanização através do conhecimento, da integração e da convivência que acontecem entre os sujeitos da educação: os professores e os alunos.
Este menino sou eu. Tenho minha história, uma família e um primeiro livro. "Conviver, educar e participar" são importantes verbos da existência humana. Verbos ensejam ação humana. Conviver é importante porque não somos felizes sozinhos, embora muitos desejassem. Educar porque nunca estamos prontos e sempre devemos querer aprender. Participar porque fazemos parte do mundo e podemos contribuir para os rumos que queremos para ele. O grande palco: nossa vida. Na vida nos fazemos gente, seres humanos. No encontro com os outros ampliamos as oportunidades de realização. Convivendo nos percebemos frágeis e incompletos, mas também fortes porque somos interdependentes e nos realizamos a partir do amor, do cuidado, da solidariedade e da compaixão.
Além do livro sou colaborador de diversos revistas e jornais do Rio Grande do Sul e do Brasil, assino colunas em sites e tenho minha própria página: neipies.com Sou professor da rede pública. Além de escrever e publicar, estou disponível para palestras e trocas com grupos de professores ou outros profissionais que trabalhem com cidadania, educação e direitos humanos.
(*) professor e ativista de direitos humanos.
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