JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, DANIEL BRAMATTI, DANIEL TRIELLI, DIEGO RABATONE, LUCAS DE ABREU MAIA E RODRIGO BURGARELLI
Mais perenes do que qualquer partido ou movimento político, algumas idéias sobre o que move os eleitores se repetem a cada eleição.
No entanto, dados e detalhamentos das votações desafiam esse senso comum.
O Estadão Dados analisou 7 erros mais repetidos
Mito 1
Foi o Nordeste que elegeu Dilma
Petista não teve menos de 40% dos votos em nenhuma das 5 regiões do Brasil
É claro que o desempenho de Dilma Rousseff (PT) no Nordeste foi crucial para sua vitória: a petista teve 20 milhões de votos no 2.º turno, equivalente a 72% do total de votos válidos na região. Mas a presidente reeleita obteve um apoio razoável em todas as cinco regiões. O menor porcentual de votos válidos foi no Sul: o apoio de 41% dos eleitores que escolheram um candidato.
A impressão de que o Nordeste sozinho é o grande responsável pela reeleição de Dilma é fortalecida quando se vê o mapa eleitoral dos Estados pintados com a cor de quem teve o maior porcentual de votos ali. Nesse mapa, metade do Brasil aparece pintado de azul, como se esse território tivesse ido em direção totalmente oposta à outra metade, vermelha.
O deputado estadual eleito Coronel Telhada (PSDB-SP) chegou a defender a independência do Sul e do Sudeste por causa disso. Mas, na verdade, dos dez Estados em que Dilma obteve menor votação, apenas três estão nessas regiões: Santa Catarina, São Paulo e Paraná. Todos os outros estão no Norte ou no Centro-Oeste. Visualmente, é possível ver como o apoio a Dilma se espalha pelo Brasil pelo gráfico de relevo ao lado – nenhuma das duas maiores “montanhas” que representam o número absoluto de votos está no Nordeste.
Mito 2
Palanque estadual influencia eleitores
Resultados e pesquisas mostram desconexão entre opção para governador e presidente
Pesquisas e resultados eleitorais voltaram a demonstrar que a maioria dos eleitores não faz conexão entre o voto para presidente e o para governador. Apesar da prática tradicional dos presidenciáveis de buscar “palanques fortes” nos Estados – alianças com candidatos a governador –, não há evidências de que isso renda votos.
Apoiado por praticamente toda a cúpula do PMDB fluminense, Aécio Neves (PSDB) buscou popularizar no Rio a chamada “chapa Aezão”, na esperança de que os eleitores de Luiz Fernando Pezão (PMDB) votassem também nele. Os mapas de votação de ambos, porém, mostram que não houve sintonia eleitoral.
Pesquisa Ibope divulgada pouco antes do 2.º turno mostrou que, dos eleitores de Pezão, seis em cada dez pretendiam votar em Dilma Rousseff. Marcelo Crivella, adversário do peemedebista, fez campanha explícita para Dilma – mas isso não impediu que cerca de 40% de seus eleitores manifestassem intenção de votar em Aécio.
Mito 3
Pesquisas erram resultado da urna
Ibope e Datafolha acertam votação do 2º turno dentro da margem de erro;
números exatos importam menos para institutos
Embora alguns insistam que as pesquisas de intenção de voto consistentemente erram o resultado das urnas, não é o que mostram os dados – tanto os das eleições de domingo quanto os históricos. A vitória de Dilma Rousseff (PT) na disputa pela Presidência foi prevista pelo Ibope, que lhe atribuía 53% da preferência do eleitorado. Dilma recebeu 52% dos votos válidos, portanto dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos porcentuais.
O Datafolha também atribuía favoritismo à petista, embora Dilma estivesse no limite do empate técnico com Aécio Neves (PSDB). Ambos os institutos descreveram, por meio dos números, a campanha do 2.º turno: Aécio começa à frente, carregado pelo embalo do 1.º turno, em que teve votação superior ao esperado. Dilma se recupera na última semana, com uma insuficiente reação de Aécio na véspera do pleito.
Para os institutos de pesquisa, os números exatos importam menos que o movimento descrito pelas curvas de intenção de voto de cada candidato. Sem elas, é impossível analisar qualquer campanha.
Desde 2002, a diferença média da sondagem de véspera do dia da eleição de Ibope e Datafolha para o resultado do 2.º turno é de um ponto porcentual – portanto, dentro da margem de erro. Assim, os institutos acertaram os resultados das eleições em todos os anos, mesmo em 2014, na disputa mais acirrada da história.
Mito 4
Votos nulos são sinal de protesto
Queda nas taxas entre 1º e 2º turnos indica alta incidência de erros no manejo da urna eletrônica
Após os protestos que tomaram as ruas das principais cidades do País em junho de 2013, analistas e cientistas políticos previram aumento significativo de votos nulos na eleição deste ano. Isso não ocorreu: foram 4,4% de nulos em 2010 e 4,6% em 2014 – a comparação leva em conta o 2.º turno de cada disputa presidencial.
É claro que muitos indivíduos podem anular o voto como forma de protesto. Mas as estatísticas indicam que parcela significativa dos nulos se deve a erros
no momento do voto. Uma evidência disso é a diminuição dos votos anulados entre o 1.º e o 2.º turno das eleições – entre uma e outra etapa,
o número de cargos em disputa cai de cinco para apenas um ou dois, o que reduz a complexidade do manejo da urna eletrônica.
Outro indício é o fato de que a taxa de nulos para deputado estadual – o primeiro cargo na ordem de votação – é sempre mais baixa,
já que são contadas como voto na legenda as tentativas equivocadas de digitar os números de presidenciáveis.
Mito 5
Família Campos transfere votos
Pernambuco vota em Dilma, mesmo após apoio do grupo do ex-governador a Aécio
O tucano Aécio Neves lançou sua campanha no 2.º turno em Pernambuco, onde recebeu o apoio da viúva e dos filhos de Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB até agosto, quando morreu em um acidente aéreo. Os líderes do PSDB esperavam que a família Campos e a máquina local do PSB proporcionassem uma vitória para o tucano em um Estado nordestino, assim como havia ocorrido com Marina Silva, primeira colocada no 1.º turno.
A estratégia não deu resultados. Aécio teve entre os pernambucanos 29,8% dos votos válidos, resultado próximo da média que obteve em todo o Nordeste: 28,3%. O tucano ganhou em apenas uma cidade pernambucana: a pequena Taquaritinga do Norte, onde obteve 7.340 votos, 432 a mais do que a petista Dilma Rousseff. Na capital, Recife, onde Marina havia obtido 63% dos votos no 1.º turno, Dilma venceu na 2.ª rodada da disputa por 60% a 40%.
Mito 6
Minas Gerais elege presidente
Só uma vitória improvavelmente distante no seu Estado natal levaria Aécio ao Planalto
Mesmo se ganhasse seu Estado natal, Aécio Neves (PSDB) ainda teria dificuldade em se eleger. Dilma Rousseff (PT) teve 52,4% no Estado e o adversário, 47,6%. Se o tucano tivesse invertido esse resultado e ganhado os 550.601 votos que a rival ganhou a mais em Minas, ainda faltariam 2,3 milhões de eleitores no resto do Brasil. Na votação total de Aécio, Minas representa 11%, menos que a soma de Santa Catarina e Bahia.
Só uma vitória distante em Minas, de 63% a 37%, daria a Aécio os votos necessários para ganhar de Dilma. Com esse resultado – quase igual ao do Estado de São Paulo (64% a 36%) –, ele chegaria a 52.771.137 de votos em todo o Brasil, um a mais que Dilma. Mas uma vantagem tucana como essa não acontece em eleições presidenciais em Minas desde que Fernando Henrique Cardoso ganhou em 1994, no 1.º turno. Naquele ano, derrotou Lula no Estado por 65% a 22%. Nem em sua segunda vitória de 1.º turno, em 1998, Fernando Henrique repetiu o resultado: o placar foi 56% a 28%.
Mito 7
Abstenção é alta e demonstra apatia
Não comparecimento às urnas é um fato muito mais ligado a falhas de cadastro da Justiça do que a desilusão eleitoral
Ao fim de todas as eleições, analistas correm para declarar que cerca de um quinto da população decidiu não votar. O número se baseia na abstenção divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, os votantes que não foram às seções eleitorais. Historicamente, a abstenção gira em torno de 20% e o número não varia muito de eleição para eleição.
Essa análise é falha porque atribui às abstenções um peso político maior que o que de fato têm. Isso porque o suposto não comparecimento às urnas tem mais a ver com uma falha no cadastro eleitoral do TSE que com a falta de engajamento político.
Conforme revela o gráfico abaixo, a abstenção foi menor em 2014 nos municípios que passaram recentemente pelo recadastramento biométrico — em que os eleitores registram na Justiça Eleitoral suas impressões digitais. O recadastramento remove da lista do TSE eleitores que já morreram, e que, naturalmente, não podem aparecer para votar.
Mais perenes do que qualquer partido ou movimento político, algumas idéias sobre o que move os eleitores se repetem a cada eleição.
No entanto, dados e detalhamentos das votações desafiam esse senso comum.
O Estadão Dados analisou 7 erros mais repetidos
Mito 1
Foi o Nordeste que elegeu Dilma
Petista não teve menos de 40% dos votos em nenhuma das 5 regiões do Brasil
É claro que o desempenho de Dilma Rousseff (PT) no Nordeste foi crucial para sua vitória: a petista teve 20 milhões de votos no 2.º turno, equivalente a 72% do total de votos válidos na região. Mas a presidente reeleita obteve um apoio razoável em todas as cinco regiões. O menor porcentual de votos válidos foi no Sul: o apoio de 41% dos eleitores que escolheram um candidato.
A impressão de que o Nordeste sozinho é o grande responsável pela reeleição de Dilma é fortalecida quando se vê o mapa eleitoral dos Estados pintados com a cor de quem teve o maior porcentual de votos ali. Nesse mapa, metade do Brasil aparece pintado de azul, como se esse território tivesse ido em direção totalmente oposta à outra metade, vermelha.
O deputado estadual eleito Coronel Telhada (PSDB-SP) chegou a defender a independência do Sul e do Sudeste por causa disso. Mas, na verdade, dos dez Estados em que Dilma obteve menor votação, apenas três estão nessas regiões: Santa Catarina, São Paulo e Paraná. Todos os outros estão no Norte ou no Centro-Oeste. Visualmente, é possível ver como o apoio a Dilma se espalha pelo Brasil pelo gráfico de relevo ao lado – nenhuma das duas maiores “montanhas” que representam o número absoluto de votos está no Nordeste.
Mito 2
Palanque estadual influencia eleitores
Resultados e pesquisas mostram desconexão entre opção para governador e presidente
Pesquisas e resultados eleitorais voltaram a demonstrar que a maioria dos eleitores não faz conexão entre o voto para presidente e o para governador. Apesar da prática tradicional dos presidenciáveis de buscar “palanques fortes” nos Estados – alianças com candidatos a governador –, não há evidências de que isso renda votos.
Apoiado por praticamente toda a cúpula do PMDB fluminense, Aécio Neves (PSDB) buscou popularizar no Rio a chamada “chapa Aezão”, na esperança de que os eleitores de Luiz Fernando Pezão (PMDB) votassem também nele. Os mapas de votação de ambos, porém, mostram que não houve sintonia eleitoral.
Pesquisa Ibope divulgada pouco antes do 2.º turno mostrou que, dos eleitores de Pezão, seis em cada dez pretendiam votar em Dilma Rousseff. Marcelo Crivella, adversário do peemedebista, fez campanha explícita para Dilma – mas isso não impediu que cerca de 40% de seus eleitores manifestassem intenção de votar em Aécio.
Mito 3
Pesquisas erram resultado da urna
Ibope e Datafolha acertam votação do 2º turno dentro da margem de erro;
números exatos importam menos para institutos
Embora alguns insistam que as pesquisas de intenção de voto consistentemente erram o resultado das urnas, não é o que mostram os dados – tanto os das eleições de domingo quanto os históricos. A vitória de Dilma Rousseff (PT) na disputa pela Presidência foi prevista pelo Ibope, que lhe atribuía 53% da preferência do eleitorado. Dilma recebeu 52% dos votos válidos, portanto dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos porcentuais.
O Datafolha também atribuía favoritismo à petista, embora Dilma estivesse no limite do empate técnico com Aécio Neves (PSDB). Ambos os institutos descreveram, por meio dos números, a campanha do 2.º turno: Aécio começa à frente, carregado pelo embalo do 1.º turno, em que teve votação superior ao esperado. Dilma se recupera na última semana, com uma insuficiente reação de Aécio na véspera do pleito.
Para os institutos de pesquisa, os números exatos importam menos que o movimento descrito pelas curvas de intenção de voto de cada candidato. Sem elas, é impossível analisar qualquer campanha.
Desde 2002, a diferença média da sondagem de véspera do dia da eleição de Ibope e Datafolha para o resultado do 2.º turno é de um ponto porcentual – portanto, dentro da margem de erro. Assim, os institutos acertaram os resultados das eleições em todos os anos, mesmo em 2014, na disputa mais acirrada da história.
Mito 4
Votos nulos são sinal de protesto
Queda nas taxas entre 1º e 2º turnos indica alta incidência de erros no manejo da urna eletrônica
Após os protestos que tomaram as ruas das principais cidades do País em junho de 2013, analistas e cientistas políticos previram aumento significativo de votos nulos na eleição deste ano. Isso não ocorreu: foram 4,4% de nulos em 2010 e 4,6% em 2014 – a comparação leva em conta o 2.º turno de cada disputa presidencial.
É claro que muitos indivíduos podem anular o voto como forma de protesto. Mas as estatísticas indicam que parcela significativa dos nulos se deve a erros
no momento do voto. Uma evidência disso é a diminuição dos votos anulados entre o 1.º e o 2.º turno das eleições – entre uma e outra etapa,
o número de cargos em disputa cai de cinco para apenas um ou dois, o que reduz a complexidade do manejo da urna eletrônica.
Outro indício é o fato de que a taxa de nulos para deputado estadual – o primeiro cargo na ordem de votação – é sempre mais baixa,
já que são contadas como voto na legenda as tentativas equivocadas de digitar os números de presidenciáveis.
Mito 5
Família Campos transfere votos
Pernambuco vota em Dilma, mesmo após apoio do grupo do ex-governador a Aécio
O tucano Aécio Neves lançou sua campanha no 2.º turno em Pernambuco, onde recebeu o apoio da viúva e dos filhos de Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB até agosto, quando morreu em um acidente aéreo. Os líderes do PSDB esperavam que a família Campos e a máquina local do PSB proporcionassem uma vitória para o tucano em um Estado nordestino, assim como havia ocorrido com Marina Silva, primeira colocada no 1.º turno.
A estratégia não deu resultados. Aécio teve entre os pernambucanos 29,8% dos votos válidos, resultado próximo da média que obteve em todo o Nordeste: 28,3%. O tucano ganhou em apenas uma cidade pernambucana: a pequena Taquaritinga do Norte, onde obteve 7.340 votos, 432 a mais do que a petista Dilma Rousseff. Na capital, Recife, onde Marina havia obtido 63% dos votos no 1.º turno, Dilma venceu na 2.ª rodada da disputa por 60% a 40%.
Mito 6
Minas Gerais elege presidente
Só uma vitória improvavelmente distante no seu Estado natal levaria Aécio ao Planalto
Mesmo se ganhasse seu Estado natal, Aécio Neves (PSDB) ainda teria dificuldade em se eleger. Dilma Rousseff (PT) teve 52,4% no Estado e o adversário, 47,6%. Se o tucano tivesse invertido esse resultado e ganhado os 550.601 votos que a rival ganhou a mais em Minas, ainda faltariam 2,3 milhões de eleitores no resto do Brasil. Na votação total de Aécio, Minas representa 11%, menos que a soma de Santa Catarina e Bahia.
Só uma vitória distante em Minas, de 63% a 37%, daria a Aécio os votos necessários para ganhar de Dilma. Com esse resultado – quase igual ao do Estado de São Paulo (64% a 36%) –, ele chegaria a 52.771.137 de votos em todo o Brasil, um a mais que Dilma. Mas uma vantagem tucana como essa não acontece em eleições presidenciais em Minas desde que Fernando Henrique Cardoso ganhou em 1994, no 1.º turno. Naquele ano, derrotou Lula no Estado por 65% a 22%. Nem em sua segunda vitória de 1.º turno, em 1998, Fernando Henrique repetiu o resultado: o placar foi 56% a 28%.
Mito 7
Abstenção é alta e demonstra apatia
Não comparecimento às urnas é um fato muito mais ligado a falhas de cadastro da Justiça do que a desilusão eleitoral
Ao fim de todas as eleições, analistas correm para declarar que cerca de um quinto da população decidiu não votar. O número se baseia na abstenção divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, os votantes que não foram às seções eleitorais. Historicamente, a abstenção gira em torno de 20% e o número não varia muito de eleição para eleição.
Essa análise é falha porque atribui às abstenções um peso político maior que o que de fato têm. Isso porque o suposto não comparecimento às urnas tem mais a ver com uma falha no cadastro eleitoral do TSE que com a falta de engajamento político.
Conforme revela o gráfico abaixo, a abstenção foi menor em 2014 nos municípios que passaram recentemente pelo recadastramento biométrico — em que os eleitores registram na Justiça Eleitoral suas impressões digitais. O recadastramento remove da lista do TSE eleitores que já morreram, e que, naturalmente, não podem aparecer para votar.
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