sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

CARGA VIVA - Tiago Ribas

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Duas palavras que são um soco no meu estômago.
Na estrada, paro ao lado de um caminhão cheio de porquinhos, e me dou conta de que estão indo para festas nas quais não gostariam de comparecer. Todos reunidos assim, lavados sob os jatos de água que os aliviam do calor fatal da estrada, eles me lembram a que espécie bárbara eu pertenço.

No início, você come simplesmente... carne. Saboreia o bacon, a gordura assada... Que delícia. O prazer, o esquecimento... O acordo tácito com si mesmo para não lembrar.
Um dia então você começa a comer gritos, pânico, medo pavoroso de uma morte matada num corredor em fila, diante do assassino a revolta de quem não quer morrer, a perplexidade, a impotência. Você passa a comer as horas e os dias de viagem amontoados numa carreta, focinho de um no traseiro de outro, no calor insuportável... E aí então, quando você percebe o que você está comendo realmente, começa a ficar difícil digerir...

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