foto P.R.Baptista |
A redação foi iniciada em agosto de 2017 e passou pela mão de 12 pesquisadores e professores que tocam em frente um trabalho de duas décadas em torno da preservação dos polinizadores, entre os quais se destacam as abelhas melíferas europeias e as abelhas nativas sem ferrão.
Para conhecer o documento, de 93 páginas, basta entrar no site www.bpbes.net.br. A quem não tiver tempo para chegar nesse endereço eletrônico, basta ler o parágrafo que, logo nas primeiras páginas do documento, resume a dependência dos vegetais aos polinizadores:
“A maioria das plantas, cultivadas ou nativas, é polinizada por animais e depende destes para sua reprodução (Klein et al. 2007; Ollerton et al. 2011; Roubik 2018).
Nas comunidades tropicais, 94% das plantas são polinizadas por animais (Ol – lerton et al. 2011).
Os animais polinizadores são em sua maioria insetos, tais como abelhas, moscas, borboletas, mariposas, vespas, besouros e tripes (insetos diminutos com 1 mm de comprimento ou menos, de corpo delgado e asas franjadas), mas também há polinizadores vertebrados, como aves, morcegos, mamíferos não voadores e lagartos.
As abelhas são o grupo de polinizadores mais abundante na agricultura, pois visitam mais de 90% dos 107 principais cultivos agrícolas já estudados no mundo (Klein et al. 2007).
Considerando-se apenas as plantas cultivadas polinizadas por animais, 70% do total de 1.330 cultivos nas regiões tropicais produzem frutos e sementes em maior quantidade e/ou com melhor qualidade quando polinizadas adequadamente (Roubik 2018)”.
O que falta compreender – autoridades, agricultores e consumidores – é que a polinização dos vegetais está sendo sufocada pelo uso abusivo de venenos agrícolas em lavouras, de onde esses produtos altamente tóxicos (herbicidas, inseticidas, acaricidas, fungicidas) se espalham, tocados pela deriva (do vento), para pastagens, matas e cursos d’água.
No pampa sulriograndense, além das abelhas que aparecem mortas nas caixas de coleta de mel, os agrotóxicos provocaram no final de 2018 danos em vinhedos mantidos por fazendeiros emergentes ou tradicionais.
Embora os danos ambientais sejam importantes, os cientistas vêm se preocupando em demonstrar o impacto econômico-financeiro negativo da não-polinização. É de ressaltar o trecho sobre os valores envolvidos na interação insetos-plantas:
“O potencial da polinização como serviço ecossistêmico pode ser ressaltado quando associado à produção de alimentos. A primeira valoração econômica global do serviço ecossistêmico da polinização apontou o montante de US$ 70 bilhões/ano (Costanza et al. 1997). Mais recentemente, esse serviço ecossistêmico foi avaliado em € 153 bilhões (Gallai et al. 2009). Esse número foi atualizado no Relatório de Avaliação sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos da IPBES, sendo estimado entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões (IPBES 2016). No Brasil, calcula-se que a polinização relacionada à produção agrícola tem um valor anual de US$ 12 bilhões (Giannini et al. 2015b).”
Entre os fatores que concorrem para ameaçar os polinizadores e a polinização, o documento destaca:
+ mudanças no uso da terra,
+ agricultura intensiva e de larga escala,
+ uso indiscriminado de agrotóxicos,
+ poluição ambiental,
+ mudanças climáticas globais e
+ alterações biológicas recorrentes, como
+ o surgimento de espécies invasoras,
+ os efeitos indiretos do uso de organismos geneticamente modificados, pragas e patógenos, e, ainda, a interação entre eles (IPBES 2016).”
Continuar ignorando os problemas da polinização por interferência dos agrotóxicos e outras causas é tão grave quanto fechar os olhos para as mudanças climáticas.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Nós fomos fundados em 1905 com o fim específico de salvar uma espécie ameaçada, a garça, que está sendo exterminada pelos caçadores de plumas. Ainda é nossa intenção salvar uma espécie ameaçada, só que hoje esta espécie ameaçada é o próprio homem”.
Gene Setzer, presidente do National Audubon Society, com sede em Nova York – citado por José Lutzenberger em artigo publicado em 29/8/1971 no Correio do Povo de Porto Alegre.
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