quarta-feira, 5 de maio de 2021

A PAVIMENTAÇÃO DE PEDRAS VAI DESAPARECER? - P.R.Baptista




À medida que numa ponta da Gen. Teles o movimento pela REQUALIFICAÇÃO COM PRESERVAÇÃO DO ENTORNO DO CAFÉ LAMEGO vai avançando com as virtudes e as dificuldades próprias de uma mobilização surgida da participação espontânea de diversos segmentos entre os quais se incluem artistas, escritores, moradores, proprietários e apoiadores os mais diversos não só de Pelotas mas, neste momento, de outras cidades especialmente Porto Alegre, na outra ponta  têm início as obras de asfaltamento

Neste processo  alguns pontos vão se evidenciando. 

A meu ver, neste momento um dos mais importantes, é a distração da nossa comunidade cultural e acadêmica para lidar com uma questão que envolve diretamente o papel e o lugar  da pavimentação de pedras no contexto histórico e  patrimonial de Pelotas.

Isto parece estar evidenciado pelo avanço que o asfalto na zona central foi tendo por meio de um trecho aqui, um outro ali, sobre a maior parte da zona adjacente à praça , tida como o  núcleo com  os casarões, o Teatro 7 de abril, Teatro Guarany, Grande Hotel, Prefeitura, Biblioteca, Mercado Público, antigo Banco do Brasil ou seja, basicamente o entorno da praça Pedro Osório. 

Isto porque mal nos afastamos um pouco e basta ser alguns poucos passos , o  asfaltamento é predominante mesmo em pequeninos trechos nos quais o tráfego de veículos é pequeno e, portanto, não se poderia invocar nem mesmo o argumento da imperiosidade de escoamento do trânsito 

Os casos do asfaltamento dos trechos na rua Anchieta entre o Grande Hotel e a rua Tiradentes e, igualmente, entre a Avenida Bento Gonçalves a Catedral apresentam-se como de muito difícil justificativa.

Enquanto isto, ao mesmo tempo, começa a ser também muito evidente o fato de que a pavimentação de pedras não parece estar resguardada por uma legislação como ocorre, por exemplo, com as casas inventariadas por mais simples que sejam , nem  mesmo quando esta pavimentação devesse ser considerada como integrante e até parte também essencial do ambiente  em que as casas se encontram o que, aliás, é a tese que levantamos com relação ao ENTORNO DO CAFÉ LAMEGO no qual se encontram nove(09) casas inventariadas..

O que está muito claro é que já não é  mais quase possível na cidade distinguir trechos em que a pavimentação de pedras tenha destaque para compor um ambiente de preservação que tanto se procura destacar.

Recentemente o asfaltamento, como já se destacou em outra oportunidade, já chegou às  portas do Grande Hotel num avanço que começa, muitos anos antes, com o asfaltamento do entorno da praça em frente ao Teatro 7 de Abril. Aliás, este caso, como também na mesma rua Anchieta o do asfaltamento  entre a Avenida Bento Gonçalves e a Catedral apresentam-se como de muito difícil justificativa e , a ser dada por alguém, ajudaria em muito o entendimento da questão que se está analisando.  


Entendemos assim que o movimento ENTORNO DO CAFÉ LAMEGO  surge se propondo a ser um  alerta  para a necessidade de que se defina qual o papel da pavimentação de pedra na composição e Pelotas de um ambiente preservado de forma integral  histórica e patrimonialmente, e aponta para que se caminhe para se ter respostas neste sentido

O que se constata através do diagrama bem simples que apresentamos acima dá bem uma ideia do quadro que se tem. A  pavimentação remanescente com paralelepípedos na zona central ( em azul) se mostra já bem pequena em relação à pavimentação asfáltica ( em preto) e se mostra recortada, secundária, dando a exata ideia de que ficou à margem sem pouca ou nenhum relação ou interação com o entorno do qual parece não fazer parte mesmo quando constituído por prédios inventariados ou até tombados .

Como consequência a cidade se vê desfigurada cada vez mais impossibilitada de explorar características tão especiais para aprofundar o conhecimento que tem de si própria e aproveitar este conhecimento não só pela riqueza cultural e intelectual que possa proporcionar mas, também , fato que entendemos de relevante importância,  igualmente pelo recurso que oferece para sua exploração turística e econômica.

   


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