A cada poucos dias surge uma discussão nova na mídia e nos grupos sociais.
A mais recente relaciona-se com o texto de Paulo Santana sobre Punta del Este que, em alguns momentos, lembra um anúncio mostrando as vantagens. sob uma ótica muito presente dentro do mercado turístico e imobiliário, de se visitar e, eventualmente, investir no balneário uruguaio.
Ressalta, na verdade, aspectos que frequentemente em nossa sociedade são tidos como positivos e aparecem incorporados, embora não de forma assim , obviamente, tão escrachada, em´propaganda de venda de condomínios, por exemplo.
frequentadoras de Punta del Este |
Também , até agora, já se disse muita coisa, de certa forma praticamente tudo que se podia dizer, sobre a natureza racista e xenófoba do texto.
Quase sempre levantando críticas, críticas fortes, procedentes se diria.
A única defesa com um certo alcance partiu de Marcos Coimbra que afirma, inclusive, ser desafeto de Santana.
Surgiu muito, também, a acusação do cronista estar senil.
Não é de duvidar, embora não seja demais ressaltar que senilidade não é exatamente algo a ser atacado, do ponto de vista médico é um processo ao qual todos nós, sem exceção, podemos estar sujeitos com a idade avançada.
Só não caberia, claro, alguém nessas condições ter o espaço que tem para escrever publicamente.
Hotel e Cassino Conrad, símbolo da cultura de Punta del Este |
No centro de uma polêmica, do tipo falem mal de mim, mas falem.
Até hoje, porque há leitores que apreciam, o estilo deu certo.
Ou seja, para ele e para o jornal que o emprega, parece ter sido um bom negócio.
Temos hoje na imprensa brasileira vários exemplos de jornalistas e de programas que, um dia sim outro não, dão voz a um discurso com diferentes graus de golpismo e racismo , para ficar por aqui, com público certo.
Pelo menos, hoje, os blogs e as redes sociais, criam uma alternativa para a expressão de idéias, um contraponto que tem conseguido neutralizar um pouco os efeitos desse tipo de jornalismo.
Mas, para situar melhor a questão, para quem não leu, transcrevemos ( e vejam, lhe dando mais publicidade) o texto de Paulo Santana.
P.R.Baptista
Paulo Sant'Ana: o céu de Punta
Punta del Este é um paraíso encravado no inferno do Uruguai.
Punta del Este foi erguida pelos argentinos para gozar as delícias da praia, a delicadeza do trânsito e, principalmente, a vantagem enorme de não conviver com os uruguaios. Há gente de todo o mundo em Punta, menos uruguaios. Por isso, os argentinos se refugiaram lá.
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Mas, aos poucos, os argentinos estão cedendo terreno em Punta del Este para os brasileiros, em breve haverá mais brasileiros em Punta do que argentinos.
É que as sucessivas crises financeiras que assolaram a Argentina pós-Perón foram empobrecendo os portenhos e eles passaram a vender suas casas e apartamentos em Punta del Este.
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Não vou a Punta del Este por sua beleza natural e arquitetônica, que é indiscutível. Vou por dois motivos: os cassinos e os pêssegos.
São os pêssegos mais deliciosos do mundo, os de Punta, mais doces que as tâmaras do Líbano e mais suculentos que as laranjas de Taquari.
Pena que os pêssegos de Punta não dão nas quatro estações. Mas na única estação que vicejam já me bastam para comer centenas deles em apenas 60 dias.
Não é preciso dizer que tanto o Oceano Atlântico quanto o Rio da Prata, que banham as duas margens da península em Punta, têm águas geladas, nem sei como alguns turistas se atrevem a mergulhar nelas.
Se Punta del Este tivesse as águas das suas praias quentes como as de Jurerê, seria a cidade mais frequentada do mundo.
Mas a água é gelada, nem pinguim conviveria com ela.
Mas as ruas e avenidas de Punta são limpíssimas, arejadas por árvores inúmeras e têm um trânsito pacífico e convidativo como não há igual em nenhuma cidade do planeta.
Eu nunca vi um acidente de trânsito em Punta del Este. Dizem que já houve, mas eu nunca vi. É de admirar isso, afinal é estreita a península, mas acontece que o trânsito só é intenso no verão. No inverno, parece trânsito destinado exclusivamente aos pedestres, tão suavemente se comportam os motoristas em Punta.
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Finalmente, é incrível, mas não há sequer um negro em Punta del Este. A 150 quilômetros de Punta, em Montevidéu, há milhares de negros.
Mas em Punta nenhum empregado, nenhuma empregada doméstica negra, nem camareiras de hotel.
Foi feita em Punta uma segregação racial pacífica e não violenta.
Há mais negros na Dinamarca e na Noruega do que em Punta del Este.
Ou melhor, não há sequer um só negro ou uma só negra em Punta.
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