Observo, com alguma tristeza, que de um modo geral dá-se muita atenção ao que vem de fora, de preferência de Paris ou Londres, e pouca ao que é local ou até mesmo nacional.
Diria que isto se aplica a Manoel Magalhães, escritor de grande talento, mas que nem sempre recebe a atenção que lhe seria devida.
Até bem pouco mantinha o blog Cultive-Ler, de grande qualidade, mas que optou por encerrar em parte devido exatamente ao aspecto que levantei.
Aproveito para transcrever um texto de sua autoria dentro do espírito de A METADE SUL de criar espaços de contraponto às formas de dependência.
P.R.Baptista
Editor
O silêncio é bom filósofo. E conselheiro.
Em uma sociedade barulhenta como a nossa, a maioria das pessoas sentem-se desconfortáveis com ele. Geralmente deseja comunicar-se com nosso interior, com o intuito de ouvir-nos e recomendar-nos instantes de reflexão.
Entretanto, fechamo-nos a ele, ouvidos atentos ou não aos ruídos característicos da vida contemporânea.
Confesso-lhe, amigo leitor, que gosto muito do silêncio e de estar em silêncio.
Criei-me numa zona da cidade onde à noite ouvia-se claramente o coaxar dos sapos nos charcos, o estalar da madeira da casa, o piar da coruja, o vento confessando mistérios às árvores e outros fenômenos causados pela falta de barulho. Tudo isso reforçado pela luz do lampião a querosene, aumentando o sossego e diminuindo a fronteira entre o visível e o invisível. À noite tudo me parecia mágico.
À cabeça do menino que fui havia a certeza de que a quietude causava a magia que se desenrolava à minha volta. Sem pressa, quase como num ritual, pegava lápis e papel na tentativa de relatar as sensações oriundas do momento.
O relato, em letras praticamente ilegíveis, ia brotando de meu interior, aquecendo-me o peito, tornando o silêncio absurdamente palpável.
Hoje, ao sentir-me sacudido pelas inquietações, fecho os olhos e tento materializar a mesma paz.
Aos poucos sobrevém o sossego, o coração se desacelera e sou capaz de ouvir, de forma tímida inicialmente, a sinfonia dos sapos, o piar da coruja, o segredar do vento às árvores, o estalar de tábuas...
E no fundo dos olhos brilha a chama do lampião.
Manoel Magalhães
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Diria que isto se aplica a Manoel Magalhães, escritor de grande talento, mas que nem sempre recebe a atenção que lhe seria devida.
Até bem pouco mantinha o blog Cultive-Ler, de grande qualidade, mas que optou por encerrar em parte devido exatamente ao aspecto que levantei.
Aproveito para transcrever um texto de sua autoria dentro do espírito de A METADE SUL de criar espaços de contraponto às formas de dependência.
P.R.Baptista
Editor
O silêncio é bom filósofo. E conselheiro.
Em uma sociedade barulhenta como a nossa, a maioria das pessoas sentem-se desconfortáveis com ele. Geralmente deseja comunicar-se com nosso interior, com o intuito de ouvir-nos e recomendar-nos instantes de reflexão.
Entretanto, fechamo-nos a ele, ouvidos atentos ou não aos ruídos característicos da vida contemporânea.
Confesso-lhe, amigo leitor, que gosto muito do silêncio e de estar em silêncio.
Criei-me numa zona da cidade onde à noite ouvia-se claramente o coaxar dos sapos nos charcos, o estalar da madeira da casa, o piar da coruja, o vento confessando mistérios às árvores e outros fenômenos causados pela falta de barulho. Tudo isso reforçado pela luz do lampião a querosene, aumentando o sossego e diminuindo a fronteira entre o visível e o invisível. À noite tudo me parecia mágico.
À cabeça do menino que fui havia a certeza de que a quietude causava a magia que se desenrolava à minha volta. Sem pressa, quase como num ritual, pegava lápis e papel na tentativa de relatar as sensações oriundas do momento.
O relato, em letras praticamente ilegíveis, ia brotando de meu interior, aquecendo-me o peito, tornando o silêncio absurdamente palpável.
Hoje, ao sentir-me sacudido pelas inquietações, fecho os olhos e tento materializar a mesma paz.
Aos poucos sobrevém o sossego, o coração se desacelera e sou capaz de ouvir, de forma tímida inicialmente, a sinfonia dos sapos, o piar da coruja, o segredar do vento às árvores, o estalar de tábuas...
E no fundo dos olhos brilha a chama do lampião.
Manoel Magalhães
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Um comentário:
Li quase tudo deste escritor pelotense. Gosto sobretudo do O homem que brigava com Deus, que considero já um clássico das letras de Pelotas. Dois Textos Marginais é pura poesia, de doer na alma. Senhora do Amor, seu último romance, é de grande delicadeza. Parece haver sido obra de uma fiandeira, tamanha é a sutileza das tramas paralelas. Realmente é um autor que merecia maior atenção. Ótimo lembrança.
Otávio Mesquita
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