Empolgado pela candidatura de Eduardo Campos, o PSB após sua morte enveredou por um caminho determinado por circunstâncias momentâneas. Primeiro a candidatura de Marina que demonstrou uma fragilidade rapidamente percebida pelo próprio eleitorado e, a seguir, o apoio a Aécio Neves no segundo turno que foi o epílogo desta curta e equivocada trajetória que colocou a perigo uma longa e honrosa trajetória política do PSB de Arraes.. Roberto Amaral que discordou desse projeto ao final derrotado expõe sua visão.
P.R.Baptista
Editor de A METADE SUL
Uma das mais belas características da militância de esquerda, na realidade um dos seus valores mais caros, é a solidariedade. Perseguidos em seus países, ameaçados em sua sobrevivência material ou mesmo sua integridade física, socialistas, comunistas, progressistas em geral muitas vezes puderam contar com a imprescindível ajuda dos seus pares. Outras tantas vezes, foram abrigados por gente simples, trabalhadores pobres, camponeses, ignorantes de quase tudo mas não desse valor universal, que antecede e transcende o embate político: a solidariedade humana.
Justiça seja feita, militantes perseguidos pelo ‘crime’ de pensar e opinar encontraram abrigo, inclusive, no seio da burguesia. Durante a última ditadura militar, grupos empresariais os mais poderosos, incluída a emissora de televisão que começava a tornar-se um império em conluio com o regime castrense, contaram com o talento e a criatividade de jornalistas, escritores e artistas de esquerda perseguidos pelo regime. Oduvaldo Viana Filho e Dias Gomes, por exemplo, mantiveram o sustento de suas famílias escrevendo telenovelas para a vênus platinada.
Na França conturbada pela guerra da Argélia, oficiais de seu Estado-Maior pediram ao presidente De Gaulle que perseguisse Jean-Paul Sartre, por incitar os argelinos à luta pela independência. O general reagiu com sabedoria: “- Não se prende Voltaire!”
Faço essas observações para contestar o mais novo gesto lamentável da troika que tomou de assalto o PSB: exonerar funcionários ligados a mim, todos de competência jamais contestada, como forma de punição pelos meus ‘crimes de opinião’. Partem, agora, para destituir os presidentes de regionais provisórias que guardam a independência e a dignidade, que deveriam ser o apanágio de todo presidente. Começaram pelo Rio de Janeiro e pelo deputado Glauber Braga. Em vez do debate, em vez da salutar contraposição de reflexões, de argumentos, que faz a vida de qualquer agremiação digna do nome “Partido” (e muito especialmente dos partidos ditos de esquerda)… em vez disso, a reprimenda obtusa, com ranço de coronelismo.
E assim depõem as respectivas digitais no crime de desconstruir um partido. Quem viver, verá.
Após a surpreendente (fiquemos com o suave adjetivo) guinada do segundo turno da última disputa presidencial (guinada que de há muito vinha sendo costurada pelos setores mais atrasados do partido), em que optou por aliar-se à direita dita social-democrata que sempre combatera – quando sob as lideranças vigorosas de Jamil Haddad e Miguel Arraes –, o ainda PSB encontra-se numa espécie de limbo do qual dificilmente poderá sair. Renegando seu Programa, seu Estatuto, as decisões do seu último congresso, o Partido afastou-se da esquerda, mas reluta em integrar-se, de corpo e alma, às fileiras da oposição reacionária e de direita ao governo Dilma. Tampouco apresentou à sociedade brasileira suas credenciais de catalisador de uma ‘terceira via’ alternativa à dicotomia PT-PSDB. Nessas condições, vai-se assemelhando – e aproximando, como é natural – tanto ao camaleônico PSD quanto ao minguante PPS, melancólica contrafação do PCB, entre outras agremiações do estilo. Agora, o partido que sempre integrou e muitas vezes liderou blocos de esquerda, constitui na Câmara Federal um bloco bem à feição da troika, pois integrado pelo nosso PSB, pelo famigerado Solidariedade do Paulinho da Força e o citado PPS. Isso – pasmem! – sem a devida consulta à bancada atual, e menos ainda à que tomará posse em fevereiro próximo.
O PSB é conhecido do eleitorado pelas administrações municipais e estaduais que comandou, no geral com bom êxito. Mas que projeto defende, hoje, no plano nacional? Que compromissos assume (não se iludam: não se faz política sem assumir compromissos)? Está comprometido com a inovadora emergência das massas, com a superação da estrutura ‘Casa-Grande e Senzala’ que ainda molda a nossa sociedade? Ou, pelo contrário, filia-se ao velho projeto do patronato brasileiro, de fazer as mudanças necessárias para que tudo permaneça como está?
E no plano internacional? O Partido afastar-se-á, doravante, da causa palestina e árabe em geral que tanto empolgava Miguel Arraes, do compromisso com a integração latino-americana e do diálogo com países amaldiçoados pelo Departamento de Estado dos EUA, rasgando de novo toda a sua história?
Tudo isso são questões fundamentais, para as quais é fundamental haver respostas, ainda que tentativas. Trata-se, claro, de um desafio. É pena que a nova direção do ainda PSB se mostre incapaz de enfrentá-lo, e tente intimidar, com exonerações sumárias, quem o propõe.
Em lugar da Política, em lugar do debate, o gesto espúrio, a iniquidade. Ao invés da grande Política de que nos falava Gramsci, a pequena política, rasteira, pedestre.
Roberto Amaral
P.R.Baptista
Editor de A METADE SUL
Uma das mais belas características da militância de esquerda, na realidade um dos seus valores mais caros, é a solidariedade. Perseguidos em seus países, ameaçados em sua sobrevivência material ou mesmo sua integridade física, socialistas, comunistas, progressistas em geral muitas vezes puderam contar com a imprescindível ajuda dos seus pares. Outras tantas vezes, foram abrigados por gente simples, trabalhadores pobres, camponeses, ignorantes de quase tudo mas não desse valor universal, que antecede e transcende o embate político: a solidariedade humana.
Justiça seja feita, militantes perseguidos pelo ‘crime’ de pensar e opinar encontraram abrigo, inclusive, no seio da burguesia. Durante a última ditadura militar, grupos empresariais os mais poderosos, incluída a emissora de televisão que começava a tornar-se um império em conluio com o regime castrense, contaram com o talento e a criatividade de jornalistas, escritores e artistas de esquerda perseguidos pelo regime. Oduvaldo Viana Filho e Dias Gomes, por exemplo, mantiveram o sustento de suas famílias escrevendo telenovelas para a vênus platinada.
Na França conturbada pela guerra da Argélia, oficiais de seu Estado-Maior pediram ao presidente De Gaulle que perseguisse Jean-Paul Sartre, por incitar os argelinos à luta pela independência. O general reagiu com sabedoria: “- Não se prende Voltaire!”
Faço essas observações para contestar o mais novo gesto lamentável da troika que tomou de assalto o PSB: exonerar funcionários ligados a mim, todos de competência jamais contestada, como forma de punição pelos meus ‘crimes de opinião’. Partem, agora, para destituir os presidentes de regionais provisórias que guardam a independência e a dignidade, que deveriam ser o apanágio de todo presidente. Começaram pelo Rio de Janeiro e pelo deputado Glauber Braga. Em vez do debate, em vez da salutar contraposição de reflexões, de argumentos, que faz a vida de qualquer agremiação digna do nome “Partido” (e muito especialmente dos partidos ditos de esquerda)… em vez disso, a reprimenda obtusa, com ranço de coronelismo.
E assim depõem as respectivas digitais no crime de desconstruir um partido. Quem viver, verá.
Após a surpreendente (fiquemos com o suave adjetivo) guinada do segundo turno da última disputa presidencial (guinada que de há muito vinha sendo costurada pelos setores mais atrasados do partido), em que optou por aliar-se à direita dita social-democrata que sempre combatera – quando sob as lideranças vigorosas de Jamil Haddad e Miguel Arraes –, o ainda PSB encontra-se numa espécie de limbo do qual dificilmente poderá sair. Renegando seu Programa, seu Estatuto, as decisões do seu último congresso, o Partido afastou-se da esquerda, mas reluta em integrar-se, de corpo e alma, às fileiras da oposição reacionária e de direita ao governo Dilma. Tampouco apresentou à sociedade brasileira suas credenciais de catalisador de uma ‘terceira via’ alternativa à dicotomia PT-PSDB. Nessas condições, vai-se assemelhando – e aproximando, como é natural – tanto ao camaleônico PSD quanto ao minguante PPS, melancólica contrafação do PCB, entre outras agremiações do estilo. Agora, o partido que sempre integrou e muitas vezes liderou blocos de esquerda, constitui na Câmara Federal um bloco bem à feição da troika, pois integrado pelo nosso PSB, pelo famigerado Solidariedade do Paulinho da Força e o citado PPS. Isso – pasmem! – sem a devida consulta à bancada atual, e menos ainda à que tomará posse em fevereiro próximo.
O PSB é conhecido do eleitorado pelas administrações municipais e estaduais que comandou, no geral com bom êxito. Mas que projeto defende, hoje, no plano nacional? Que compromissos assume (não se iludam: não se faz política sem assumir compromissos)? Está comprometido com a inovadora emergência das massas, com a superação da estrutura ‘Casa-Grande e Senzala’ que ainda molda a nossa sociedade? Ou, pelo contrário, filia-se ao velho projeto do patronato brasileiro, de fazer as mudanças necessárias para que tudo permaneça como está?
E no plano internacional? O Partido afastar-se-á, doravante, da causa palestina e árabe em geral que tanto empolgava Miguel Arraes, do compromisso com a integração latino-americana e do diálogo com países amaldiçoados pelo Departamento de Estado dos EUA, rasgando de novo toda a sua história?
Tudo isso são questões fundamentais, para as quais é fundamental haver respostas, ainda que tentativas. Trata-se, claro, de um desafio. É pena que a nova direção do ainda PSB se mostre incapaz de enfrentá-lo, e tente intimidar, com exonerações sumárias, quem o propõe.
Em lugar da Política, em lugar do debate, o gesto espúrio, a iniquidade. Ao invés da grande Política de que nos falava Gramsci, a pequena política, rasteira, pedestre.
Roberto Amaral
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