Em entrevista recente o ex-presidente Lula, procura desacreditar, num tom professoral, a ideia que ganhou algum destaque no noticiário da possibilidade de surgir uma "terceira via" que adotaria o mote "Nem Lula, Nem Bolsonaro".
Lula alega que em muitos países estaria consolidada uma tradição de duas candidaturas fortes que disputam as eleições e citando como exemplo os Estados Unidos, Inglaterra e França, sustenta que este é um processo natural e recomendado. Talvez pudesse ser de interesse lembrar que, nestes casos, a disputa tem mais a ver com a estrutura partidária que confronta, historicamente, dois partidos fortes, o que está longe, muito longe aliás, do caso brasileiro onde, neste momento, o presidente sequer tem partido.
Lula complementa afirmando que nada impede que surjam outras candidaturas, tantas quantas se apresentem e lembra a eleição que disputou com Collor em que havia muitas mas se refere a elas como "avulsas" sem forças, o que ocorreria em 2022, de eventualmente chegar a um segundo turno.
Parece não se dar conta de que foi exatamente o que ocorreu com a sua própria candidatura, mesmo admitindo que não tinha favoritismo, quando acabou disputando o segundo turno com Collor.
Mas se vale de um momento em que a hipótese da terceira via é muito incipiente e sem ter, de momento, o nome de um candidato que representando esta frente pudesse demonstrar força para chegar ao segundo turno. De qualquer modo é bom não perder de vista que, a surgir este candidato, teria boas possibilidades de romper a polaridade que se faz presente.
Enquanto isto sua tese parece lhe dar um grau de autossuficiência que o permite pairar acima das negociações que possam estar se apresentando.
Mas o que Lula não consegue , no entanto, é deixar de transparecer que o avanço de uma terceira via o perturba e, exatamente por isto, corre a impedir que cresça.
Dá a impressão, assim, de procurar convencer a que se aposte numa eleição entre duas candidaturas, de um lado a de Bolsonaro representando como diz o fascismo e, do outro, a dele próprio que se coloca como representante único da democracia.
Parece desconsiderar que até outubro de 2022 muita água pode rolar.
E que o Brasil não precisa ficar refém de candidaturas que já se anunciem como vencedoras em detrimento de todas as demais antes mesmo deste processo ter iniciado a ter plenas condições de prever todos seus desdobramentos e todas suas tendências.
Aliás, considerando o declínio de Bolsonaro, Lula só falta dizer em sua análise política que nem precisa haver eleição pois ele, de antemão, já venceu.
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