domingo, 7 de abril de 2019

BOM DIA LULA, BOA NOITE LULA ! - P.R.Baptista

Foto Francisco Froner
As atenções estão voltadas para tantos acontecimentos que enchem os noticários que parece não ter chamado toda a atenção que poderia merecer o fato da prisão de Lula ter completado 1 ano neste dia 7 de abril.
As manifestações de protesto, ocorridas em alguns pontos, pedindo sua soltura, foram cotejadas por outras que comemoravam a prisão saudando a Lava-Jato.
A prisão de Lula, que durante muito tempo parecia improvável, foi cercada de grande dramaticidade tanto pela sua natureza quanto também, em boa parte, pela resistência oposta por Lula ao refugiar-se durante dois dias na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.
Desde então tem sido permanentes as iniciativas e apelos pela sua soltura, apelos dos mais diferentes tipos, alguns desmentidos como um suposto pedido do Papa, até a mais recente candidatura para o Premio Nobel da Paz.
Os atos, contudo, mais persistentes e consistentes foram os de natureza jurídica promovidos por seus advogados mas estes foram se mostrando, passo a passo, pouco eficazes..
Ao mesmo tempó não se pode dizer que tenha ocorrido pelo país um movimento que tivesse, de forma expressiva, saído substancialmente de manifestações que não alcançam penetrar na mídia nacional e do círculo restrito dos apoios manifestados pelas redes sociais.
Aparenta ser o caso das correntes  hashtag Lula Livre nas quais a militância se sente à vontade para dar vazão à sua indignação, mas sem que nada de substancialmente efetivo disso resulte
O acampamento da liberdade montado em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula se encontra preso, integrou-se ao cenário como um elemento a fazer parte de uma paisagem pois, tampouco, aparenta ter alcançado uma dimensão capaz de alterar o quadro existente por mais que, em algumas ocasiões, os participantes tenham demonstrado muita convicção e emoção como neste momento conduzido por Gleici Hoffmann

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Hoje ainda é difícil prever o que o futuro reserva para Lula.
É um homem com uma liderança e uma capacidade políticas sem dúvida extraordinárias e a não ser pela prisão tinha plenas condições de ter encaminhado sua eleição para presidente.
Já se encontrava com a candidatura assumida e com a campanha na rua promovendo a Caravana da Cidadania  quando sobrevém a condenação em segunda instância e, pouco tempo depois, a prisão.
Lula e a cúpula do PT ainda resistem e registram sua candidatura.
A condenação em segunda instância e a consequente prisão representaram, no entanto, um golpe mortal. que o PT e aliados não souberam avaliar corretamente insistindo numa linha de ação que se mostrou suicida
Haddad, sabe-se, não era o candidato que se tinha pensado. Lula chega a apontar para a candidatura de Boulos para sucedê-lo.
Trago, neste momento, a reforçar minha linha de pensamento, compartida por vários analistas, dois trechos das reflexões que um dos mais importantes cientistas políticos brasileiros,  Wanderley Guilherme dos Santos, elabora a respeito.

Um líder da estatura de Lula, indestrutível encarnação da livre escolha de milhões de brasileiros, não deve permitir a figuras subalternas expropriarem-no de autonomia para decidir. Sair da disputa por acachapante submissão à sentença que o expulsa, seria desastroso. Rebelar-se, tolo e infrutífero. O fantástico cabedal de confiança de que dispõe acabaria abalado, pois não existe derrota vencedora senão na esfarrapada desculpa de perdedores crônicos. Não é próprio de líderes populares transferirem ao empenho dos liderados a responsabilidade pelo sucesso de uma causa; no caso, garantia legal da candidatura Lula à presidência. Especialmente quando se tem por certo que a derrota jurídica é inevitável. O desbloqueio das candidaturas populares ocorrerá, quer por decisão antecipada de Lula, quer por insuperável imposição legal: Lula não será candidato. O amargo de uma causa perdida arrisca atropelar o entusiasmo dos responsabilizados, abandonando aos adversários a arena que mais temem: a competição por votos. E o infeliz refrão de que eleição sem Lula é fraude acompanharia o féretro de uma campanha esquizofrênica, intrinsecamente contraditória (...).

O político Lula, vítima da notória e tácita conspirata do Judiciário, é o mesmo Lula que persegue de maneira implacável como um mouro, togado honoris causa, disposto a cobrir elevadas apostas, sacrificando quadros de seu partido, promovendo acordos clandestinos com PP e PR para destruir oportunidades ao surgimento de outras lideranças populares(...)

A prioridade de Lula e do PT nacional, que é o apelido do PT paulista, era e é a destruição da candidatura Ciro Gomes (ora, um cearense!). Para haver novo candidato paulista era indispensável que só houvesse rebotalho fora do PT paulista. Não é, obviamente, o caso de Ciro Gomes. (...)

Lula mergulha, assim, num erro que talvez em algum momento reconheça mas parece até hoje não dar sinais disto.
Seu papel histórico seria abrir caminho para uma etapa nova de governo democrático, gesto que de forma trágica Getúlio Vargas assumiu.
Seu projeto, no entanto, parece seguir sendo, se possível, voltar a ser candidato.
Isto está entendido na carta que escreve ao completar  um ano de prisão.
Num tom profético em que transparece um pouco o estilo da Carta Testamento de Getúlio, declara

 Hoje está claro que a minha condenação foi parte de um movimento político a partir da reeleição da presidenta Dilma Rousseff, em 2014. Derrotada nas urnas pela quarta vez consecutiva, a oposição escolheu o caminho do golpe para voltar ao poder, retomando o vício autoritário das classes dominantes brasileiras.

Era preciso impedir minha candidatura a qualquer custo. A Lava Jato, que foi pano de fundo no golpe do impeachment, atropelou prazos e prerrogativas da defesa para me condenar antes das eleições. Haviam grampeado ilegalmente minhas conversas, os telefones de meus advogados e até a presidenta da República. Fui alvo de uma condução coercitiva ilegal, verdadeiro sequestro. Vasculharam minha casa, reviraram meu colchão, tomaram celulares e até tablets de meus netos.

E neste momento Lula não muda uma vírgula da linha de discurso que mantém desde que foi candidato pela primeira vez, Não encaminha nada que pudesse apontar para uma nova frente democrática, uma alternativa para o país. Não reconhece nem sinaliza nada que deixe transparecer o mau desempenho que culmina na derrota das eleições. Segue fechado em si mesmo e sob este aspecto, é condenado duas vezes, a primeira judicialmente ainda que num processo que possa ser tendencioso, mas sujeito a ser condenado , também, pela História .
E com ele, prisioneiro de si mesmo,  passam a ser prisioneiros também ,os milhões de simpatizantes que o seguem, muitos fervorosamente, e de certa forma, em última instância, também o próprio Brasil

Referências
https://www.ocafezinho.com/2018/02/15/wanderley-guilherme-dos-santos-lula-nao-sera-candidato/

https://www.viomundo.com.br/politica/wanderley-guilherme-dos-santos-prioridade-de-lula-e-esmagar-ciro.html

.http://midianinja.org/news/luis-inacio-lula-da-silva-por-que-tem-tanto-medo-de-lula-livre/?fbclid=IwAR2qQpJRURTtAI_mMS4VKO-hycFy6ZfmmTNwoqG4Wn7-HTCgTcc0znMgE-0

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