A Casa do Capitão -Acrilica s/tela - 40x80 |
É falta de cultura ou preconceito?
Talvez as duas coisas combinadas, tornando a situação ainda mais grave. Explico-me, caros amigos. Hoje à tarde, passando na frente do Instituto João Simões Lopes Neto, resolvi entrar para matar uma saudade. Há cerca de oito anos atrás doei um trabalho à instituição cultural, chamado “A Casa do Capitão”. A tentativa de apaziguar a saudade tornou-se uma frustração. Entrando no casarão, percebi que as paredes estavam entregues a despudorada nudez.
A recepcionista atendeu-me com educação, sorridente. Apresentei-me e logo uma sombra anuviou seu rosto, provavelmente adivinhando o que viria a seguir. Disse-lhe ser autor de um trabalho doado ao instituto e gostaria de vê-lo, para apaziguar o saudosismo. Ela correu os olhos pelas paredes, dizendo que as obras de arte haviam ido para Porto Alegre, para serem mostradas no Memorial RS e no Santander Cultural, como parte das comemorações dos 100 anos de nascimento e morte do maior autor regionalista gaúcho, João Simões Lopes Neto, nascido em Pelotas, cujas comemorações ocorreram de 9 a 14 de junho. Meio aturdida, a jovem dirigiu-se a uma peça na frente do casarão, abrindo a porta. Na sala escura, atrás de um armário, estava minha obra, doada com muito amor e orgulho à casa do citado escritor.
Resumindo, amigos. Meu trabalho foi deixado para trás, como se não merecesse estar no acervo que está na capital gaúcha. Alguém decidiu que minha tela deveria permanecer em Pelotas, escondida a um canto, como se fosse envergonhar a biografia do escritor pelotense. Por isso acredito que a decisão de mantê-la oculta foi por falta de conhecimento ou por puro preconceito. Os “mantenedores” da cultura literária pelotense não sabem que minha obra se insere no gênero naïf, que consagrou Henri-Julien-Félix Rousseau, por assim dizer o “pai” desta categoria de arte. Aliás, devo dizer-lhes que a arte naïf nasceu na França, sendo a obra de Rousseau pouco apreciada pelo público geral e pelos críticos, seus contemporâneos, em função de seu carácter autodidata - inexistência de formação acadêmica no campo artístico, pela recusa dos cânones da arte reconhecida até então e pelo aspecto ingênuo. Preconceito ontem... Preconceito hoje...
Por esta razão, escreverei um requerimento à direção do Instituto, solicitando a devolução do meu trabalho. Se na instituição ele é indigno, em minha casa será muito digno e apreciado. Para finalizar, devo comunicar a quem interessar possa que desenvolvi uma série chamada “No Universo de João Simões Lopes Neto”. E não preciso dizer que as obras foram absolutamente rechaçadas pela intelectualidade pelotense, os quais não podem dizer que não sabiam, pois elas estão nas redes sociais e hoje em dia todos nós transitamos por esses meios de comunicação, inclusive os de nariz empinado, cujas cabeças não são cabeças, mas enciclopédias barças devoradas pelas traças e mofo. Esses precisam saber que das 11 telas que pintei apenas duas ficaram em Pelotas (para pessoas inteligentes, que sabem avaliar seu valor artístico). As demais foram vendidas para Porto Alegre, São Paulo, Lisboa e Paris. Falando em Paris... Pelotas jamais será Paris, por mais que tentemos torná-la sofisticada e culta.
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