terça-feira, 25 de agosto de 2015

Palmira e Dresden, Bárbarie e Civilização: onde está a fronteira?

Desden após o bombardeio
Visto de Samira antes do controle pelo Estado Islâmico
O Estado Islâmico, grupo insurgente que controla vasto território entre a Síria e o Iraque, continua sua guerra contra a História. Seguindo uma versão extremista do Islã que defende que o patrimônio arqueológico "leva à idolatria", os insurgentes já destruíram:

- O túmulo do profeta Jonas, de 700 anos;
- As ruínas da cidade de Hatra, de 2.300 anos;
- Relíquias da cidade de Nínive, de 2.700 anos;
- A cidade assíria de Nimrud, de 3 mil anos.

Nesta segunda-feira (24 de agosto), novas evidências mostraram a destruíção de mais um patrimônio arqueológico da humanidade: o templo de Baal-Shamin, na cidade antiga de Palmira.

Vista geral de Dresden após o bombardeio
O Estado Islâmico conquistou Palmira, conhecida localmente como Tadmur, em maio deste ano, em uma grande ofensiva tanto na Síria quanto no Iraque. Tadmur é um ponto estratégico na guerra porque é o local de vários campos de produção de gás e geração de energia elétrica. Ao mesmo tempo, abriga um dos mais importantes patrimonios históricos da região, a cidade antiga de Palmira, com ruínas de edificações e templos do período do Império Romano.

O temor de que o Estado Islâmico pudesse destruir as ruínas surgiu já com o cerco a Tadmur. Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos, grupo com sede em Londres que faz oposição ao EI e ao regime de Bashar al-Assad, inicialmente os militantes estavam preocupados em encontrar tesouros arqueológicos para venda. Na semana passada, no entanto, a ONG divulgou que o EI executou o arqueólogo Khaled al-Asaad, que cuidava do patrimônio de Palmira, o que indicava que o grupo poderia começar a destruição os templos.

O diretor-geral de antiguidades da Síria, Maamoun Abdulkarim, confirmou que o Estado Islâmico destruiu o templo. Abdulkarim trabalha em Damasco, Síria, e não tem acesso a Palmira. Ele soube da explosão por meio de fontes que estão na região. Ainda há dúvidas sobre quando ocorreu a detonação. Segundo Abdulkarim, isso ocorreu no domingo (23). O Observatório Sírio indica que o templo pode ter sido destruído no mês passado, e as informações só vieram a público agora.

Cadáver em meio às ruínas de Dresden
Em nota, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, classificou o ato do Estado Islâmico de "crime de guerra". "Essa destruição é um crime de guerra e uma imensa perda para o povo sírio e para a humanidade", disse. "Deash (uma das siglas do Estado Islâmico) está matando pessoas e destruindo construções, mas não poderá silenciar a história e fracassará em apagar a cultura da memória do nosso mundo".

Nesse momento da condenação justificada da qual esses atos são merecedores por parte do mundo que consideramos civilizado, cabe, no entanto, lembrar que a linha entre civilização e barbárie às vezes pode ser muito tênue ou, também, bastante contraditória.

Onde situaríamos, por exemplo, entre centenas de atos de igual barbárie, cometidos pelo mundo "civilizado", o bombardeio aéreo de Dresden? Ele foi efetuado durante a Segunda Guerra Mundial pelos aliados da Força Aérea Real (RAF) e a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos entre 13 e 15 de fevereiro de 1945. Em quatro ataques-surpresa, 1 300 bombardeiros pesados lançaram mais de 3 900 toneladas de dispositivos incendiários e bombas altamente explosivas na cidade, a capital barroca do estado alemão de Saxônia. A tempestade de fogo resultante destruiu 39 quilômetros quadrados do centro da cidade.
Corpos amontoados de vítimas do bombardeio
Um relatório da Força Aérea dos Estados Unidos escrito em 1953 por Joseph W. Angell defendeu a operação como o bombardeio justificado de um alvo militar, industrial e centro importante de transportes e comunicação, sediando 110 fábricas e 50 000 trabalhadores em apoio aos esforços nazistas. Em contrapartida, diversos pesquisadores argumentaram que nem toda a infraestrutura comunicacional, como pontes, foram de fato alvo do bombardeio, assim como extensas áreas industriais distantes do centro da cidade. Alega-se que Dresden era um marco cultural de pouca ou nenhuma significância militar, uma "Florença do Elba", como era conhecida, e que os ataques foram um bombardeio indiscriminado e desproporcional aos comensuráveis ganhos militares.

Nas primeiras décadas após a guerra, estimativas de mortos chegavam a 250 000, número atualmente considerado absurdo. Uma investigação independente encomendada pelo conselho municipal de Dresden em 2010 chegou a um total mínimo de 22 700 vítimas, com um número máximo de mortos em torno de 25 000 pessoas.

Em comparação direta com o bombardeio sobre a cidade alemã de Hamburgo em 1943, onde se registrou uma das maiores operações aéreas de bombardeio realizadas pela Força Aérea Real conjuntamente com a Força Aérea dos Estados Unidos, matando, aproximadamente, 50 000 civis e destruíndo praticamente toda a cidade, e ao bombardeio de Pforzheim em 1945, que matou aproximadamente 18 000 civis, os ataques aéreos em Dresden não podem ser considerados os mais graves da Segunda Guerra Mundial. No entanto, eles continuam conhecidos como um dos piores exemplos de sacrifício civil provocado por bombardeio estratégico, ocupando lugar de destaque entre as causas célebres morais da guerra. Discussões pós-guerra, lendas populares, revisionismo histórico e propagandismo da Guerra Fria levantaram debates entre comentaristas, oficiais e historiadores a respeito da fundamentação ou não do bombardeio, e se sua realização teria constituído um crime de guerra.
Apesar de nenhum dos envolvidos no bombardeio de Dresden jamais ter sido acusado de crime de guerra, muitos defendem que o bombardeio foi,sim, um crime de guerra.
Ou a guerra justifica atos como bombardeio de Dresden e outros tantos ocorridos?
Na Síria, há também uma guerra.


Fonte: pesquisa

Um comentário:

Ed.Londero disse...

Oswald Spengler não saudou a chegada da grande imprensa como algo bom, pois com ela as massas se tornaram facilmente influenciáveis à entrarem em guerra.
http://www.fnac.pt/O-Homem-e-a-Tecnica-Oswald-Spengler/a573806