"Sei que em todas as multidões há quem sequer saiba por que esta lá e que o direito à manifestação é algo necessário e sagrado". (Sueli Ghelen Frosi)
Vivemos espetáculos e somos midiáticos. Sem escrúpulos e sem vergonha, exibimos, instintivamente, o melhor do que carregamos, do que somos ou do que temos. Vimos, assistimos e acessamos - pelas mídias e redes sociais - conteúdos que não agregam os brasileiros no combate à corrupção como um dever cívico, permanente e sóbrio, respeitando os poderes constituídos e os regramentos da nossa Constituição Federal. Nas mais recentes manifestações de rua pelo Brasil afora, em agosto de 2015, novamente assistimos alguns excessos e radicalismos dos que pretendem apontar mudanças para o país.
Ódio, raiva, estupidez, violência, despudor, arrogância e superioridade marcaram muitas manifestações públicas e midiáticas por este Brasil afora, mas sempre demarcando serem de "pessoas do Bem". "Que triste espetáculo proporcionamos para o mundo! Quero pelo menos alguns metros de distância das pessoas "de bem" que formam a massa crítica atual. Sei que em todas as multidões há quem sequer sabe porque esta lá e que o direito à manifestação é algo necessário e sagrado. Mas é preocupante convivermos com a maldade explicitada nas ruas, na medida em que se pede sangue, se legitima chacinas e enforcamentos. Estou muito mais assustada do que envergonhada. Você não?" (Sueli Ghelen Frosi)
Acredito que o bem e o mal não estão personificados em determinados grupos ou pessoas. Por isso, preciso indagar: a) Quem não quis, não concorda ou não se manifestou é uma pessoa do Mal? b) Pode o Bem estar "encarnado" em alguém ou num grupo de pessoas? c) Combater a corrupção passa, necessariamente, por afirmar um coletivo do Bem? d) Os brasileiros já decidiram que a corrupção é um problema suficientemente sério para ser levado a sério, até as últimas conseqüências e em todas as instâncias e instituições?
Estou lendo a obra "O Maniqueísmo em nossas vidas: a bondade dos maus e a maldade dos bons", do autor Jorge A. Salton, Editora Movimento, lançada no dia 15 de agosto de 2015, em Porto Alegre. O autor joga luzes ao momento histórico que vivemos no Brasil. Em sua introdução, o autor afirma: "o pensar maniqueísta, a divisão entre nós, os bons e eles os maus, é sinal patognomônico do surgimento da maldade – no sentido de sinal ou sintoma que por si só afirma a presença de algo. Ao dissecar o fenômeno, encontraremos, em sua base, o reducionismo, a generalização, a dogmatização, uma forma de pensar que, a partir de uma suspeita qualquer, já salta para a conclusão, a ausência de autocrítica, a inexistência de empatia e a necessidade de inimigos".
O livro sobre o maniqueísmo invoca em mim a revisão de conceitos, atitudes e pensamentos. Está mexendo nos meus modos de ser, pensar e agir no mundo. Estou convencido de que deverei eliminar as tentações maniqueístas de enquadrar, julgar ou condenar os outros, até alcançar um pensar empático e pluralista, para perceber a realidade e construir vivências positivas. Por outro lado, teimo no meu direito de dizer o que penso dos recentes fenômenos públicos que insistem em aplicar um golpe na democracia brasileira, através de um impedimento (impeachment). Pelo respeito à democracia e ao sagrado voto, deixemos a presidenta Dilma governar e respeitemos os princípios democráticos e de direito que a todos são estendidos pela Constituição.
Governar não é tarefa de anjos, é tarefa de pessoas que erram e acertam; que não são inteiramente boas nem inteiramente más. Estes que se denominam "Exército do Bem" e que afirmam carregar consigo os mais nobres desejos de mudança no Brasil valem-se de ideias maniqueístas. Estas ideias não colaboram com o pluralismo e o respeito, essências da democracia.
Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.
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