domingo, 13 de setembro de 2020

O SILÊNCIO DOS TIJOLOS - Tiago Ribas

 

Essa semana, foi demolida uma casa histórica em Pelotas. Uma casa que sempre que eu passava na frente, quando morava na cidade, me demorava um pouco pra admirar. Imagino que quem mandou demolir talvez nem more em Pelotas. Certamente não acompanhou a demolição. Estava longe, fazendo seus planos, agindo no seu direito, dentro da lei. Sim. Pode demolir e transformar em uma farmácia? Pode, se a casa não era tombada. E por que uma casa dessas não era tombada? Porque uma sociedade não deu a ela um valor que não fosse imobiliário. Tudo é reflexo do caráter de um povo. Tudo acontece como é.

Fiquei pensando se o proprietário teria coragem de ele mesmo subir na máquina pra demolir. Será que a pessoa que manejou a máquina teve pena de cumprir a tarefa?

Em 2014 visitei a cidade proibida em Beijing. A guia explicou que quando os Manchus invadiram a China, não destruíram as edificações, como era a prática comum na época, destruir o palácio da dinastia vencida e construir outro em cima. Os Manchus não fizeram isso, o imperador Manchu não permitiu. Por que? Porque a cidade era muito bonita pra ser destruída. A beleza salvou a cidade proibida. Bom, não exatamente a beleza, mas antes a civilidade, a educação estética do imperador Manchu, de onde lhe vinha uma ética que não lhe permitia destruir o que é belo. O contrário seria o que os chineses chamam de bárbaro. O bárbaro destrói o que é belo, porque o belo não lhe causa efeito algum.

Somos bárbaros? Não vou responder. Acho que os tijolos hoje espalhados na esquina da Antônio dos Anjos com a General Osório silenciosamente respondem à questão.

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