domingo, 19 de abril de 2020

PANDEMIA & PROFISIONAIS DE SAÚDE & MITO DO HERÓI - Luciana Dadalto



A mídia e as redes sociais tem nos incutido a ideia de que os profissionais de saúde são nossos heróis no combate ao COVID-19, mas você sabia que esses profissionais não têm se sentido lisonjeados com essa “homenagem”?
O mito do herói foi difundido pelo antropólogo Joseph Campbell, em 1949, no livro “O Herói de Mil Faces”. Segundo Campbell, o arquétipo do herói possui a seguinte estrutura: chamado à aventura, primeiramente recusa, depois recebe ajuda de um mentor ou um ser sobrenatural, aproxima-se de sua própria sombra, recebe uma provação suprema, ganha uma recompensa e retorna ressuscitado com um elixir para ajudar a coletividade. Como exemplo, temos Prometeu, Buda e Jesus Cristo. A jornada do herói foi usada para construir histórias ficcionais como Cinderela e Harry Potter.
E agora retorna como “elogio” aos profissionais de saúde. Confesso que eu mesma já usei o stick do instagram “agradeço aos heróis de saúde” e após receber vários directs de profissionais de saúde, decidi que não mais o usarei. Explico:
Carl Jung entendia que a compreensão dos símbolos era crucial para o entendimento da natureza humana e, a partir disso, sugeriu a existência de um inconsciente pessoal e um inconsciente coletivo. Sob essa perspectiva, se introjetarmos no inconsciente coletivo a ideia de que os profissionais de saúde são heróis, corremos o risco de desumanizá-los e, por conseguinte, esquecermos que eles têm fragilidades, família, necessidades individuais e que não operam milagres.
Precisamos sim, valorizar esses profissionais, mas estou convencida de que chamá-los de heróis não é a melhor maneira. Você conhece o projeto “Mais do que Palmas”? Essa iniciativa propõe que o Congresso Nacional crie e aprove um projeto de lei para amparar e prestar auxílio aos profissionais de saúde, nos seguintes termos:
1.Instituir um auxílio para os familiares de profissionais que perecerem de Covid-19 durante a pandemia, válido para todos os seus dependentes menores de idade até que os mesmos completem 24 anos.
2. Determinar que as grandes redes de hotel disponibilizem unidades em todos os centros urbanos para profissionais de saúde que precisem ficar isolados de seus familiares como forma de protegê-los do contágio, mediante apoio financeiro do governo.
3. Garantir um tempo de descanso a todos os profissionais de saúde, mesmo durante a pandemia, para que não sejam submetidos a jornadas de trabalho tão exaustivas e não coloquem ainda mais em risco a própria imunidade.
4. Tomar medidas que facilitem a reconversão do parque industrial brasileiro para fábricas produzirem os itens necessários que garantam a segurança de nossos profissionais e pacientes como: máscaras, luvas, respiradores e demais equipamentos de proteção e de saúde.
Entendeu porque os profissionais de saúde estão incomodados de serem chamados de heróis?
Fonte: https://www.bostonglobe.com/…/trouble-with-calling-health-…/
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: editora Pensamento, 1997.
JUNG, Carl G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1998.

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