Se você acompanha minimamente o noticiário político deve ter reparado: Lula organiza de dentro de uma cela um motim contra lideranças de esquerda para reforçar o mito em torno de sua imagem.
O cálculo é estratégico. O ex-presidente enxerga que a próxima eleição será a mais polarizada da história do país. Em nome disso, aposta que há um único ticket à disposição para cada campo político na disputa.
E é aqui que mora o perigo. Nesse instante, o principal adversário de Lula nas eleições não é Bolsonaro, mas Ciro Gomes. Lula enfrenta a mais dura concorrência ao controle de mobilização da esquerda que seu clã político já enfrentou desde 1989 - e nada disso está sendo imposto pelo capitão, mas pelo coronel.
A briga é de facção, de tomada de boca: dois caudilhos latino americanos se estapeando nos bastidores para manter a hegemonia do controle de suas clientelas.
Preso, a única opção que resta a Lula é apoiar uma candidatura tampão, concentrando os esforços da sua máquina partidária na eleição de alguém que o mantenha protagonista absoluto do debate. E Ciro definitivamente não é esse nome.
Lula está disposto a eleger Bolsonaro se preciso, entregando aos conservadores o poder, para não assistir numa cela a queda de seu monopólio. É a luta pela sobrevivência do cacique político a que estamos acompanhando nas manchetes dos jornais neste momento.
Este é provavelmente o ponto mais sensível da história recente da esquerda latino-americana. Lula está preparado para implodi-la se preciso, elegendo indiretamente seu maior algoz desde Augusto Pinochet, comprometido exclusivamente com as alegorias religiosas de sua santidade política.
É irresistível cair na tentação de acreditar que a mitologia do golpe, associada a esta sabotagem, convencerá metade mais um do eleitorado. Mas acredite: esta é uma tarefa suicida. Parecerá claro após as eleições, quando os analistas do óbvio proclamarão aquilo que já estava escrito, mas não há outra opção nesse momento: ou a esquerda brasileira se livra do monopólio de Lula, alcançando independência e maioridade política, ou corre o risco de morrer abraçada com ele.
FONTE https://www.facebook.com/operfildorodrigo/posts/10156008934941596
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