Furando o protesto no Globo de Ouro |
Hoje é a noite da grande encenação da entrega do Oscar.
Em transmissão para milhões de espectadores desfilam pelo tapete vermelho grandes astros e grandes estrelas do cinema norte-americano acompanhados por estrelas internacionais.
Com antecedência de vários dias ao serem conhecidos os filmes indicados discute-se em detalhe cada um deles.
Já se sabe quais são os "favoritos" para as diferenrtes categorias de premiações.
Simultaneamente os filmes já estão disponibilizados para exibição pelo mundo inteiro.
De um modo geral , extremamente elaborados sob o aspecto técnico, são produçóes caras com diretores, atores e atrizes que por si só, pela fama , já garantem audiência junto ao grande público.
Mas são , também, filmes de profundidade e valor artístico extremamente discutíveis. Poucos destes filmes se sustentam com o decorrer do tempo como referências cinematográficas.
Apenas para exemplificar, entre dezenas de outros, lembraria o filme Fatal Attraction que se tornou um enorme sucesso de bilheteria, arrecadando US$320.1 milhões com um orçamento de US$14 milhões, alcançando a maior bilheteria de 1987. Nunca foi tão fácil ganhar dinheiro às custas de um público que no mundo inteiro está ávido por se sentir partipante da grande festa hollywoodiana E embora não tenha sido premiado o filme recebeu seis indicações ao Oscar 1988, nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor atriz (Glenn Close), melhor atriz coadjuvante (Anne Archer), melhor roteiro adaptado e melhor edição. Um filme, no entanto, praticamente classe B que não seria nem selecionado para festivais de cinema sérios como os de Veneza e Berlim.
Para amenizar esta fragilidade costumam trazer na categoria destinada a isto, filmes estrangeiros de uma qualidade que o cinema norte- americano, o de Holltwood, não parece ter demonstrado historicamente condições de produzir.
O script da premiação é bem conhecido, closes dos presentes, muito glamor, piadas, interpretações musicais, agradecimentos, atrizes procurando fazer notícia através do estilo da roupa ou, o que tem sido mais frequente, algum tipo de "protesto" para não ficar a ideia de que o evento não tem espaço para política .
Em outra premiação, o Globo de Ouro em 2018, o protesto contra os casos de assédio sexual, consistia em adotar trajes pretos mas houve quem, como Blanca Blanco, que 'furou' o protesto vestindo vermelho. Chamou mais a atenção, o que era o objetivo, do que todas as demais vestidas de negro.
Tudo previsto, tudo encenado, tudo ensaiado.
Enquanto isto, a poucos quilômetros dali, os Estados Unidos lançam os alicerces de uma muralha da China na fronteira com o México.
No Brasil uma mineradora, expropriada do povo brasileiro pela privatização promovida por FHC, é culpada de um crime humano e ambiental de proporção descomunal e encaminha-se para aprovação no Congresso uma proposta de aposentadoria que suprime direitos do trabalhador.
Na Venezuela , sob a pressão de Trump, algumas carretas são usadas, num espetáculo hollywoodiano, como aríetes para desencadear a queda do presidente.
Nada disto, no entanto, vai fazer com que os brasileiros tirem os olhos da premiação.
Alguins atores norte-americanos ,como Marlon Brando, desafiaram o sistema não comparecendo mas até isto funciona como uma espécie de marketing.
Mas o restante, a quase totalidade, não podem perder o espetáculo, não podem se furtar ao close up que talvez a filmagem proporcione, precisam conseguir novos contratos, garantir o emprego que remunera muito bem.
O produto, embalado, acondicionado de forma a atrair o consumidor, vende bem.
O cinema , aliás, é um dos produtos norte-americanos, como a Coca-Cola, o Macdonalds e as guerras de invasão, que mais se espalharam pelo mundo.
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