No debate entre presidenciáveis promovido pelo SBT, no dia 26/09/2018, Ciro Gomes, candidato à presidência da república pelo PDT, disse que se puder prefere governar o país sem o PT. Isso significa administrar o Brasil sem se valer do modus operandi ou habitus do establishment petista, aqui entendido como núcleo duro ou cúpula do Partido dos Trabalhadores.
Na minha opinião, como etnógrafo que por cerca de vinte anos esteve a observar a legenda, administrar sem o referido establishment é possível, sim. Não obstante a esta ideia, não se pode negar que na legenda há nomes importantes que não estão envolvidos em escândalos de corrupção, como Eduardo Suplicy e Olívio Dutra, respectivamente de São Paulo e do Rio Grande do Sul. No próprio MDB há nomes de respeito, como Roberto Requião, senador pelo estado do Paraná, não envolvido no golpe de 2016. A questão central reside em não deixar que uma coligação, eleita para um mandado de quatro anos, possa ser confundida com o próprio Estado e venha a usar da confiança recebida nas urnas para implementar projetos hegemônicos de poder. A população não mais deseja ver o governo federal envolvido em escândalos de todo tipo: a) denúncias de licitações fraudulentas e malversação do dinheiro público; b) compra da governabilidade por meio de petrolões e outros esquemas espúrios análogos aos mensalões; c) gastos exorbitantes com obras faraônicas e desconexas de um projeto nacional de desenvolvimento, como a construção de arenas em lugares onde estádios desse tipo fazem pouco sentido e oneram os cofres públicos, o que foi feito em detrimento do completo abandono de nossos museus; d) destinação de bilhões do BNDES para beneficiar aliados de última hora, incluindo certo governo desastroso na América do Sul; e) esquemas de caixa dois para financiar campanhas eleitorais e outras coisas; f) compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, sem a conclusão da construção de refinarias de petróleo e outras obras no país; etc.
Neste momento, o retorno do PT à Presidência da República significa atraso na medida em que não possui um projeto nacional de desenvolvimento (a legenda, aliás, não é nacionalista) e, portanto, não planeja o país para o médio e o longo prazos a partir de possíveis macrocenários políticos e econômicos. Apesar disso tudo, segue a manter alianças estapafúrdias com vários golpistas que atuaram para alijar a presidenta Dilma Rousseff do poder, em 2016. “Não vai ter golpe” e “impeachment meus ovos”, retrucavam nas redes sociais; “Foi golpe, sim”, dissemos amiúde. Mesmo assim, o PT e sua cúpula mostram-se incapazes de promover qualquer autocrítica, ainda que intelectuais como Noam Chomsky tenham vindo à público chamar a atenção para a questão.
Nesta linha de argumentação, vale lembrar que o PT e o PSDB são, de fato, cabeças de uma mesma serpente, como aponta Mangabeira Unger, e o Brasil não mais aguenta o binarismo maniqueísta nascido no Sudeste. Ambos os partidos costumam implementar gestões neoliberais e antinacionais, com uma diferença básica para o campo progressista: o PT promove a alienação das massas e até mesmo de certa intelectualidade, que se apresenta como “cavalo de santo”, tornando-se a esquerda que a direita gosta, como diria Darcy Ribeiro. Costuma cacarejar para a Senzala e a Aldeia, mas bota os ovos na Casa Grande, parafraseando aqui Leonel Brizola e me inspirando em Gilberto Freire.
Esse pessoal permaneceu por longuíssimos 14 anos no planalto central, à frente de uma coligação plural de partidos políticos (da qual o PDT fez parte e tem promovido certa autocrítica), e não promoveu as reformas estruturantes de que tanto o Brasil precisa. O que Lula, o ex-presidente encarcerado, fez de bom com uma mão (e fez muito, como verificado no Nordeste e em outras regiões), praticamente desfez com a outra ao indicar uma pessoa sem a necessária experiência para substituí-lo. Por qual motivo não indicou, por exemplo, Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul para a presidência da república? Ora, desde fins do século passado que Tarso percebia o PT gaúcho como bolchevique, ao passo que asseverava que o PT paulista seria menchevique. Além disso, não faz parte do establishment que desviou o partido para outros caminhos a partir da segunda metade dos anos 1990. Por que ele mesmo, Lula, não foi candidato em 2014, haja vista que sabia que aquela eleição presidencial seria marcada pela polarização e à época estava em curso um verdadeiro estelionato eleitoral, com graves consequências para a nação? Não fez isso porque é um articulador pragmático, desde os tempos de sindicalista, a ponto de colocar o projeto hegemônico do establishment que lidera à frente dos interesses nacionais.
A turma mais sectária do ex-presidente costuma chamar seus desafetos de “direita”, “coxinhas”, “reacionários”, “neoliberais”, “fascistas” etc., mas não é capaz de olhar para o próprio umbigo. Alimenta a polarização com o movimento nazifascista, nutrido pelo antipetismo e representado pela candidatura do inominável e seu “jumento de carga"; brinca de fazer cavalinho de pau no precipício, correndo o risco de jogar o Brasil num abismo profundo.
Penso ainda que de pouco adianta dizer #EleNão para apenas um candidato, como se o establishment petista (Dilma, Gleisi, Cardozo e outros) não tenha as mãos sujas do sangue de mulheres Guarani e Kaiowá violentadas, torturadas e assassinadas em Mato Grosso do Sul, apenas para citar um exemplo pontual que conheço muito bem como pesquisador. O PT no poder é, sim, anti-indígena e implementa uma política indigenista de natureza genocida, algo que o PDT de Brizola, Darcy e Juruna jamais poderá fazer, sob pena de entrar em profunda contradição. Nesta reta final do primeiro turno das eleições, o mais coerente é bradarmos #ElesNão e escolhermos um nome para votar pelas propostas que defende e sua história de vida pública.
Neste sentido, vale registrar o que diz a cantora Alcione, a famosa Marrom, sobre Ciro Gomes. Para ela, o candidato trabalhista possui as seguintes qualidades: 1) inteligência (chega de votarmos em idiotas e estúpidos que pensam poder resolver problemas complexos a base de clichês e jargões); 2) experiência (foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro nos governos Itamar Franco e Lula, deputado estadual, deputado federal, secretário de estado de saúde etc., e nunca respondeu por um mal feito à frente desses cargos); 3) amor pelo Brasil (nacionalismo é bom e não pode ser reduzido à ideia de xenofobia ou de homogeneização cultural, mas percebido como sentimento de pertença, orgulho de ser o que somos e postura em defesa da soberania do país); 4) energia (determinação e disposição para governar, e bem, com uma equipe de notáveis, isto é, pessoas que tenham capacidade técnica, científica e administrativa e saibam articular, defender e implementar projetos voltados ao desenvolvimento econômico com sustentabilidade e inclusão social).
Por tudo isso e outras tantas razões, percebo em Ciro Ferreira Gomes o melhor candidato à presidente da República Federativa do Brasil. Quando o vejo falar em público, relembro do saudoso Brizola e penso assim: Até a vitória trabalhista, sempre!
No debate entre presidenciáveis promovido pelo SBT, no dia 26/09/2018, Ciro Gomes, candidato à presidência da república pelo PDT, disse que se puder prefere governar o país sem o PT. Isso significa administrar o Brasil sem se valer do modus operandi ou habitus do establishment petista, aqui entendido como núcleo duro ou cúpula do Partido dos Trabalhadores.
Na minha opinião, como etnógrafo que por cerca de vinte anos esteve a observar a legenda, administrar sem o referido establishment é possível, sim. Não obstante a esta ideia, não se pode negar que na legenda há nomes importantes que não estão envolvidos em escândalos de corrupção, como Eduardo Suplicy e Olívio Dutra, respectivamente de São Paulo e do Rio Grande do Sul. No próprio MDB há nomes de respeito, como Roberto Requião, senador pelo estado do Paraná, não envolvido no golpe de 2016. A questão central reside em não deixar que uma coligação, eleita para um mandado de quatro anos, possa ser confundida com o próprio Estado e venha a usar da confiança recebida nas urnas para implementar projetos hegemônicos de poder. A população não mais deseja ver o governo federal envolvido em escândalos de todo tipo: a) denúncias de licitações fraudulentas e malversação do dinheiro público; b) compra da governabilidade por meio de petrolões e outros esquemas espúrios análogos aos mensalões; c) gastos exorbitantes com obras faraônicas e desconexas de um projeto nacional de desenvolvimento, como a construção de arenas em lugares onde estádios desse tipo fazem pouco sentido e oneram os cofres públicos, o que foi feito em detrimento do completo abandono de nossos museus; d) destinação de bilhões do BNDES para beneficiar aliados de última hora, incluindo certo governo desastroso na América do Sul; e) esquemas de caixa dois para financiar campanhas eleitorais e outras coisas; f) compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, sem a conclusão da construção de refinarias de petróleo e outras obras no país; etc.
Neste momento, o retorno do PT à Presidência da República significa atraso na medida em que não possui um projeto nacional de desenvolvimento (a legenda, aliás, não é nacionalista) e, portanto, não planeja o país para o médio e o longo prazos a partir de possíveis macrocenários políticos e econômicos. Apesar disso tudo, segue a manter alianças estapafúrdias com vários golpistas que atuaram para alijar a presidenta Dilma Rousseff do poder, em 2016. “Não vai ter golpe” e “impeachment meus ovos”, retrucavam nas redes sociais; “Foi golpe, sim”, dissemos amiúde. Mesmo assim, o PT e sua cúpula mostram-se incapazes de promover qualquer autocrítica, ainda que intelectuais como Noam Chomsky tenham vindo à público chamar a atenção para a questão.
Nesta linha de argumentação, vale lembrar que o PT e o PSDB são, de fato, cabeças de uma mesma serpente, como aponta Mangabeira Unger, e o Brasil não mais aguenta o binarismo maniqueísta nascido no Sudeste. Ambos os partidos costumam implementar gestões neoliberais e antinacionais, com uma diferença básica para o campo progressista: o PT promove a alienação das massas e até mesmo de certa intelectualidade, que se apresenta como “cavalo de santo”, tornando-se a esquerda que a direita gosta, como diria Darcy Ribeiro. Costuma cacarejar para a Senzala e a Aldeia, mas bota os ovos na Casa Grande, parafraseando aqui Leonel Brizola e me inspirando em Gilberto Freire.
Esse pessoal permaneceu por longuíssimos 14 anos no planalto central, à frente de uma coligação plural de partidos políticos (da qual o PDT fez parte e tem promovido certa autocrítica), e não promoveu as reformas estruturantes de que tanto o Brasil precisa. O que Lula, o ex-presidente encarcerado, fez de bom com uma mão (e fez muito, como verificado no Nordeste e em outras regiões), praticamente desfez com a outra ao indicar uma pessoa sem a necessária experiência para substituí-lo. Por qual motivo não indicou, por exemplo, Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul para a presidência da república? Ora, desde fins do século passado que Tarso percebia o PT gaúcho como bolchevique, ao passo que asseverava que o PT paulista seria menchevique. Além disso, não faz parte do establishment que desviou o partido para outros caminhos a partir da segunda metade dos anos 1990. Por que ele mesmo, Lula, não foi candidato em 2014, haja vista que sabia que aquela eleição presidencial seria marcada pela polarização e à época estava em curso um verdadeiro estelionato eleitoral, com graves consequências para a nação? Não fez isso porque é um articulador pragmático, desde os tempos de sindicalista, a ponto de colocar o projeto hegemônico do establishment que lidera à frente dos interesses nacionais.
A turma mais sectária do ex-presidente costuma chamar seus desafetos de “direita”, “coxinhas”, “reacionários”, “neoliberais”, “fascistas” etc., mas não é capaz de olhar para o próprio umbigo. Alimenta a polarização com o movimento nazifascista, nutrido pelo antipetismo e representado pela candidatura do inominável e seu “jumento de carga"; brinca de fazer cavalinho de pau no precipício, correndo o risco de jogar o Brasil num abismo profundo.
Penso ainda que de pouco adianta dizer #EleNão para apenas um candidato, como se o establishment petista (Dilma, Gleisi, Cardozo e outros) não tenha as mãos sujas do sangue de mulheres Guarani e Kaiowá violentadas, torturadas e assassinadas em Mato Grosso do Sul, apenas para citar um exemplo pontual que conheço muito bem como pesquisador. O PT no poder é, sim, anti-indígena e implementa uma política indigenista de natureza genocida, algo que o PDT de Brizola, Darcy e Juruna jamais poderá fazer, sob pena de entrar em profunda contradição. Nesta reta final do primeiro turno das eleições, o mais coerente é bradarmos #ElesNão e escolhermos um nome para votar pelas propostas que defende e sua história de vida pública.
Neste sentido, vale registrar o que diz a cantora Alcione, a famosa Marrom, sobre Ciro Gomes. Para ela, o candidato trabalhista possui as seguintes qualidades: 1) inteligência (chega de votarmos em idiotas e estúpidos que pensam poder resolver problemas complexos a base de clichês e jargões); 2) experiência (foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro nos governos Itamar Franco e Lula, deputado estadual, deputado federal, secretário de estado de saúde etc., e nunca respondeu por um mal feito à frente desses cargos); 3) amor pelo Brasil (nacionalismo é bom e não pode ser reduzido à ideia de xenofobia ou de homogeneização cultural, mas percebido como sentimento de pertença, orgulho de ser o que somos e postura em defesa da soberania do país); 4) energia (determinação e disposição para governar, e bem, com uma equipe de notáveis, isto é, pessoas que tenham capacidade técnica, científica e administrativa e saibam articular, defender e implementar projetos voltados ao desenvolvimento econômico com sustentabilidade e inclusão social).
Por tudo isso e outras tantas razões, percebo em Ciro Ferreira Gomes o melhor candidato à presidente da República Federativa do Brasil. Quando o vejo falar em público, relembro do saudoso Brizola e penso assim: Até a vitória trabalhista, sempre!
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