domingo, 7 de novembro de 2021

AS CONSEQUÊNCIAS DO CAPITAL NAS MÃOS DOS INÚTEIS - Sérgio Severo

 


       Quando um proprietário dos meios de produção (máquinas, trabalhadores, tecnologia etc...) nos vende um produto, não está nos entregando o produto do seu trabalho...ele entrega o produto do trabalho dos outros! Isso é um fato inquestionável. E ele conseguiu que outros trabalhassem para ele porque possuía capital e resolveu arriscá-lo. Outro fato inegável é que todo empreendedor é, de uma forma ou de outra, um capitalista. Mesmo que não possua um só centavo em moeda corrente, se detiver um acervo em conhecimento já é um capitalista. Claro que para transformar conhecimento em produto precisará que alguém se disponha a trabalhar para ele sem comer. E o risco de morrer de fome endividado se mantém. Todas essas situações: risco, conhecimento, fome, trabalho e dívidas são coisas difíceis e causam bastante sofrimento e frustrações.

      Vivemos (ou vivíamos?) em uma sociedade do conforto. Gastamos (ou gastávamos?) uma montanha de capital para nossos “mimos”. Uns pouco, outros um absurdo. Esse conforto ameniza o sofrimento mas não dá um objetivo para a vida. Uma criança mimada prejudica mais a si que aos outros. O problema é que, mimada, ela se vê inútil e dependente. E, no desespero de obter uma vida, começa a acreditar que pode conseguir uma tirando a vida dos outros. 

      E não se tira a vida dos outros só expondo eles a um vírus mortal. Tiramos a vida dos outros quando os submetemos a trabalhos infames e inúteis, quando maximizamos os lucros com mentira, sonegação, arreglos, “relações”, negociatas. E vai o mimado tentando preencher o seu vazio com a vida dos outros. Esse aspecto vampiresco do capitalismo moderno não mais tem servido ao acúmulo do capital. Ele serve hoje para o mais puro desperdício e ostentação. E, uma vez jogado fora, o acúmulo do capital não mais cumpre a função de minimização do risco de outrora. O capitalista clássico explorava para acumular e sobreviver a uma safra ruim. O capitalista mimado explora para minimizar seu sofrimento causando sofrimento!

     Sem reservas o que faz nossa criança na seca? Chicoteia os escravos! Mas isso é contra a lei. Então o negócio é eleger um feitor. Alguém que seja um psicopata capaz de matar velhos sem dó. E enquanto for ouvido o estalo do chicote no lombo de um mais fraco, a vida continua se alimentando da vida alheia.

      Mas ora, certamente que nem todos que elegeram o feitor são vampiros. Mas ocorre que, mesmo aquela doce senhora, aquele rapaz gentil, aquela moça carinhosa, todos eles possuem alguma sede de sangue. E, pior, alguns sofrem muito com a perspectiva antropofágica. Sabem que o preço do seu conforto é o sofrimento de um infeliz. E, na falta de coragem, também elegem o feitor. Uns não suportam o sofrimento do fracasso, da falência. Outros não suportam a própria existência parasitária e delegam. E o delegado vai lá e mata para eles.

      Obviamente tudo isso não serve ao desenvolvimento e nem mantém a vida dos que sustentam a civilização em um nível suportável. Quer você tenha eleito um psicopata para roubar a vida dos outros, na esperança de melhorar a sua, ou você não suporte o sofrimento que causa nos outros, dado que sua existência é inútil, você é responsável pela barbárie que nos domina. E você terá de sair de campo. Quieto, de cabeça baixa e envergonhado. Ou isso, ou você será retirado pela força da razão. E quem é expulso pela força da razão sai com dano mental irreversível. A civilização tem muito pouca tolerância com os loucos

Texto : Sérgio Severo, Prof. do IFSul 

Foto: "Isaías", P.R.Baptista

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