Tem dias que bate um desânimo, pois parece que estamos sucumbindo por excesso de postagens nas redes sociais (sem ações concretas) e por reproduzir uma cultura política fria, muito influenciada pela cultura “das celebridades”, formada apenas para consumir informações, tirar selfies e assistir ao espetáculo.
Não há dúvidas de que é fundamental compartilhar opiniões políticas, existenciais, musicais, futebolísticas etc e tal… Mas, por que não refletir também junto a outras pessoas? Por meio de ações presenciais podemos aprofundar e combinar ações que permitirão superar obstáculos e mudar esta dura realidade.
É nos fóruns presenciais que passamos a reconhecer e a inserir elementos objetivos, subjetivos e simbólicos na nossa análise, e a perceber a importância dos diferentes atores sociais com as suas diferentes visões de mundo. Essa atitude de reunir-se é fundamental para quem quer abandonar aquela velha mania de ser “técnico de futebol” e ter opinião fechada sobre quase tudo. Somente assim vamos perceber que de nada vale contrapor a todo custo a opinião do “outro”, apenas para provocá-lo, e que a nossa realidade é diversificada, cheia de contradições e de influências étnico-culturais para ser reduzida a uma homogeneidade política e cultural.
Na verdade, ainda precisamos reconhecer o descompasso que existe entre a mentalidade colonial europeia que nos foi imposta e a mentalidade mítica/mágica da realidade sul-americana, com as influências dos povos indígenas, africanos e orientais que sempre estiveram por aqui. E que essa conjunção entre a razão e os mitos será o fio da meada para a compreensão e aquisição de novas sensibilidades e habilidades. Para quem está disposto, é claro!
Oportunidades como esta nos lembram e advertem que ainda estamos formando gerações e gerações de pessoas passivas, que só pensam em soluções egoístas e criam seus filhos e netos em quartos fechados. Que esse incentivo ao isolamento e ao consumo só serviu para alimentar os anunciantes de programas de TV, algumas seitas e templos religiosos com as suas promessas de prosperidade.
Portanto, é preciso combater todas essas apologias aos assuntos insignificantes, pois eles se tornaram práticas comuns em diversos programas de rádio, de televisão, na internet e também em algumas rodas sociais. Trata-se de uma guerra de (desin)formação que deixou a grande maioria dos brasileiros e brasileiras confusa e desorientada.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, em função dessa desinformação midiática, ainda não conseguimos o reconhecimento democrático da diversidade cultural e política existente. As disputas pela verdade absoluta ainda persistem, em torno de siglas e cargos em gabinetes, e atrapalham a viabilização de planos e projetos unificados. Avançamos muito pouco na unidade para as mobilizações contra o golpe midiático-parlamentar. Ao menos, se comparadas às que ocorrem em outros estados brasileiros. Apesar dos pequenos avanços obtidos, o fantasma da disputa entre chimangos e maragatos ainda paira sobre os campos sulinos.
Está mais do que na hora de acordar para uma verdadeira práxis (segundo Marx, uma sensibilidade prática, histórica e consciente) política, pois os desmandos dos governos e dos gabinetes não vão desaparecer como num passe de mágica. Lembre-se que o Paraíso e a Terra Prometida foram criações de um pensamento maniqueísta e idealista que está nos atormentando e evitando encontrarmos o que temos de melhor dentro de cada um de nós. Precisamos superar a fase dos “reunismos partidários” (reuniões de cúpula, sem discussão sobre projetos junto à sociedade), abrir as associações, entidades sindicais e estudantis, e acabar de vez com os “vanguardismos”.
Enfim, agora que já sabemos que esse jogo não tem fim, também não podemos ficar na plateia torcendo para que o monstro saia do lago, que surjam novos messias ou que os juízes façam uma leitura correta das regras definidas. É preciso entender a complexidade da conjuntura (municipal, estadual, nacional e internacional), e propor a máxima convergência possível entre os diferentes projetos políticos, pessoais e/ou coletivos, que desejam construir uma nova sociedade. E isso passa necessariamente pela defesa intransigente dos nossos direitos, mas também pela realização dos nossos melhores sonhos e fantasias. Mãos à obra, aos corações e às mentes!
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(*) Ricardo Almeida é Consultor em Gestão de Projetos e uso de tecnologias da Informação e da Comunicação.