quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O Carnaval Itinerante de Pelotas


O Carnaval de Pelotas tem parecido, ao longo do tempo, uma espécie de circo mambembe.
Após um primeiro Carnaval tumultuado, a gestão Eduardo Leite prometia avançar na questão. Anunciou que dispunha de um ano para equacionar  a escolha de um novo local já que o dos fundos do Supermercado Guanabara, que vinha sendo utilizado de forma improvisada, não seria mais disponibilizado além de ter, por parte dos moradores das imediações, forte oposição em função dos problemas que acarretavam.
Durante este tempo foram examinadas várias opções.
Por razões que não caberia neste momento considerar, foram sendo, no entanto, todas descartadas.
Voltou-se, então, novamente à zona do Porto já cogitada em anos anteriores.
Esta zona, é bom não esquecer, mantém e deve manter preservada, embora neste momento sub-utilizada, a sua condição de zona portuária com uma infraestrutura disponibilizada de vital valor economico.
Este aspecto, pelo que tenho observado, é desconsiderado como se Pelotas não tivesse porto ou fosse ele uma estrutura sucateada.
Mais recentemente a zona do Porto tornou-se, também, uma zona academica com forte presença estudantil, em razão das faculdades ali instaladas, reforçando o caráter que historicamente mantém de zona residencial.
Outra característica é ser uma zona histórica de valor patrimonial, com muitos prédios inventariados e que requer cuidados com intervenções que possam descaracterizar este aspecto.
Na proposta apresentada para o Carnaval  anuncia-se, por exemplo, o asfaltamento de 300 metros para servir de passarela.
Será que se anuncia uma cicatriz do tipo da que está exposta no entorno da Praça Pedro Osório coincidentemente promovida exatamente pelo mesmo motivo, servir de passarela para o desfile de Carnaval?
Aquele asfaltamento, autorizado não me lembro bem por qual prefeito ( Bernardo de Souza?) , a qualquer momento terá que ser desfeito ( não entendo como ainda não foi)  se o entorno da praça é considerado, de fato, um local privilegiado de preservação ,  restrito não apenas aos prédios e à própria praça, mas abrangendo o seu conjunto.
Cabe, então, ter muita atenção para as implicações desta proposta de local para o Carnaval , que como se sabe não terá a participação das escolas de samba, e que já se anuncia, a exemplo da Feira do Livro, como um novo centro de polêmicas e impasses.
É bom ter presente, também,  que pelas características de grande evento que assumiram os desfiles carnavalescos, dentro de um modelo que Pelotas parece encaminhar com o projeto de uma área exclusiva para a sua realização, a zona do Porto não teria condicões de sediá-los de forma mais definitiva.
Seria apenas, portanto, uma solução emergencial para atender uma demanda momentânea até que seguisse sua itinerância para outro local.
Infelizmente a própria administração municipal em gestão passada, do prefeito Anselmo Rodrigues, cedeu a área do Parque do Trabalhador ao Sesi, por 99 anos, área que seria, hoje, ideal para este e outros eventos.
Lembro, por último, que não encontrei em nenhum momento referência a qualquer consulta aos moradores do Porto.
A maioria das manifestações que pude observar por parte deles,  têm sido desfavoráveis, inclusive anunciando mobilizar-se contra a decisão tomada pela Prefeitura.
Entendo as dificuldades que encontra a Administração atual de viabilizar um calendårio de eventos à altura do que se espera de Pelotas e não questiono a disposição de cumpri-lo à risca.
Mas a exemplo do que ocorreu com a Feira do Livro é preciso ter presente o conjunto de aspectos que estão em jogo e não se pode, a pretexto de satisfazer um deles, deixar de lado outros igualmente ou até mais importantes.
O Carnaval é parte de nossa cultura e, como tal, deve conviver com todos os demais valores que procuramos manter preservados.
Portanto não deve, de nenhuma forma, confrontá-los ao ponto de lhes representar ameaça ou ser contestado pela sociedade.

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