"Educamos quando levamos o outro a se auto superar, de forma que tenha de si uma imagem melhor do tinha antes e a partir daí fortaleça sua autoestima e aumente seu nível de expectativa com relação às suas conquistas". (Julio Furtado, professor, pedagogo e psicólogo)
Numa aula Magna, em Passo Fundo, RS, em fevereiro de 2016, falando para professores da rede municipal, Júlio Furtado fez afirmações muito importantes para o contexto contemporâneo da educação brasileira. Uma aula sobre esperança e sobre a afirmação do papel do professor, em tempos em que a desesperança também abate aqueles que podem ser articuladores entre a vida e o conhecimento. "Educação depende diretamente de motivação. Quanto mais espaço dermos para o pessimismo, mais o cansaço nos contaminará".
Ao contar um pouco sobre sua história de professor, Júlio relembrou de como nos fazemos professores. "Não foi a didática que me fez professor, foram os meus professores que me ensinaram, sem esta pretensão, como dar aula". Neste contexto, lembrou ainda que a maioria dos professores foi formada num paradigma onde ensinar era falar e aprender era ouvir. Neste sentido, um novo paradigma para a educação: perceber professores e alunos como sujeitos aprendentes, a partir de sua interação, de suas falas e de seus conhecimentos.
Outra afirmação que chamou atenção e que comunga com meus pensamentos: "Não somos só escola. Somos escola e família. Ambas, escola e família, ensinam e educam, mas em contextos diferentes". Um desafio imenso é convencer pais e professores a acreditar que suas ações educativas são complementares; não concorrentes. Não é nada razoável ficar alimentando errônea ideia de conflito de responsabilidades entre a família e a escola, pois ambas podem somar-se para uma educação integral e integrada das crianças, adolescentes e jovens.
O tema central de sua aula Magna foi o poder e a liderança na sala de aula: Quem manda aqui? Furtado propôs dicas interessantes sobre como o professor pode gerir seu poder na escola. Introduziu o tema afirmando que professores exercem poder, mas sem saber, sem estudar o que é poder. Na sua visão, poder produz efeitos, faz parte da relação social e visa controle. Interessante sua afirmação: "Só deveríamos usar o poder quando se exige controle. Usar o poder o tempo todo desgasta qualquer relação". A anatomia do poder sugere: poder condigno (punição), poder compensatório (troca) e poder condicionado (convencimento). Na sua avaliação, somente o poder condicionado educa, mas é o que dá mais trabalho. Argumentar, de forma consistente e coerente, é um exercício nem sempre fácil, mas o único jeito de produzir consciência nos alunos. Como o poder é sempre limitado, o professor precisa ser um grande estrategista. Conhecendo seus pontos fracos, deve fazer algo para lidar bem com eles.
Ao abordar indisciplina e transgressão, Furtado apontou pistas de como enfrentar a falta de interesse e a falta de limites a partir de regramentos claros e dialogados com toda comunidade escolar. Lembrou que a "sanção por reciprocidade" é uma das melhores estratégias de educar os alunos, responsabilizando-os por seus atos.
A escola pública, de qualidade social, precisa reconhecer e fortalecer seus professores a partir de conhecimentos que qualifiquem suas práticas pedagógicas. Para que professores façam diferença na vida e na história de crianças, adolescentes e jovens precisam estar permanente em processos de formação. O olhar, direcionado aos professores, deve ser de estímulo e promoção, para que os mesmos enfrentem os desafios cotidianos da escola com "peito sereno, lábios macios e postura firme", como sugere o pedagogo.
(*) Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.