sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Sociólogo diz que "Aécio venceria sem internet"

Para Sérgio Amadeu, plano da editora Abril com a reportagem da Veja contra Dilma Rousseff e Lula só não se concretizou nas urnas pela existência da internet; “Se não houvesse a internet, certamente o candidato Aécio Neves tinha ganho a eleição”; segundo ele, as redes sociais apontaram um acirramento muito grande e deixaram claro que “a linha política e o conteúdo discursivo das forças comandadas pelo PSDB” é baseada na “estratégia do cinismo


por Renato Brandão, especial para Rede Brasil Atual

São Paulo – Carro-chefe da editora Abril, a revista Veja lançada na última sexta-feira (24) divulgou como matéria de capa uma acusação de que a presidenta reeleita Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ambos do PT, tinham conhecimento de um esquema de corrupção na Petrobras. Sem apresentar qualquer prova, o conteúdo da reportagem era baseado em suposto depoimento do doleiro Alberto Youssef à Polícia Federal, que foi desmentido por seu advogado logo após a publicação.

Considerada a última “bala de prata” da oposição para tentar impedir uma nova vitória petista sobre os tucanos, a reportagem foi contestada duramente pela presidenta durante seu último programa eleitoral na TV na mesma sexta-feira. Ainda naquele dia, a Justiça considerou a publicidade da revista como “propaganda eleitoral” e também concedeu direito de resposta ao PT no site da revista.

Ainda assim, o estrago já estava feito. A campanha e simpatizantes do PSDB distribuíram panfletos com a capa impressa da revista da Abril em várias cidades do Brasil. Já na madrugada de sábado (25) para domingo (26), circulavam boatos de que Alberto Youssef havia sido envenenado, algo que teve de ser desmentido com rapidez pela Polícia Federal.

“Essa operação da Veja mostra que ela não é um órgão de comunicação, o que ela mostrou claramente é que ela é uma sala do comitê político do PSDB no Brasil. A revista operou de maneira a desinformar. Ela desinformou”, disse o sociólogo Sérgio Amadeu, doutor em Ciência Política pela USP. Comparando o caso à ação midiática que ajudou a decidir o pleito presidencial de 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello, Amadeu acredita que o plano da editora Abril só não se concretizou nas urnas pela existência da internet. “Existe hoje a internet, que não tinha naquela época. Então, se não houvesse a internet, certamente o candidato Aécio Neves tinha ganho a eleição.”

Para o cientista político, as redes sociais apontaram um acirramento muito grande e deixaram claro que “a linha política e o conteúdo discursivo das forças comandadas pelo PSDB” é baseada na “estratégia do cinismo”. Amadeu também defendeu uma reforma política para se alcançar uma legislação mais democrática dos meios de comunicação.

Qual foi a influência da capa da revista Veja às vésperas do segundo turno presidencial entre Dilma e Aécio?

A capa da Veja foi feita justamente para influenciar o resultado eleitoral. Ela normalmente está nas bancas no sábado, mas saiu na sexta-feira.

E era uma capa para, inclusive, ser impressa, tanto é que a campanha do candidato Aécio Neves (PSDB) imprimiu essa capa justamente para manter aquele clima que eles criaram no Brasil de demonização do outro. O grupo Abril, em particular a revista Veja, já há muito tempo é organização que defende interesses econômicos a partir da gestão da política. Não há como dizer agora o quanto impactou, mas eles influíram claramente na votação de domingo, porque o Aécio conseguiu, a partir desse tipo de ação, crescer e encostar na candidata Dilma Rousseff no segundo turno das eleições.

Como o sr. avalia o papel da internet nessas eleições?

Uma coisa que chama atenção nesse processo é que essa operação já tinha sido feito nas eleições de 1989, com sucesso, mas não teve desta vez. E por quê? Porque desta vez – além das pessoas já conhecerem a manobra de grupos de comunicação misturadas à elite política econômica no caso da vitória do Collor – também existe hoje a internet, que não tinha naquela época. Então, se não houvesse a internet, certamente, o candidato Aécio Neves tinha ganho a eleição, porque era o candidato preferido pelos grupos econômicos, pelos banqueiros, pelo mercado de capitais. Inclusive oscilava a Bolsa e, se você for ver, é muito curioso, quando as pesquisas davam a Dilma crescendo, a Bolsa caía, o que mostra o humor desses especuladores financeiros. A internet foi decisiva para a garantia de um debate que não existiria se fossem apenas os meios de comunicação de massa atuando nessas eleições. Isso é bastante nítido no processo eleitoral que ocorreu em 2014.

E as redes sociais?

As redes sociais, em particular, tiveram um papel grande e mostraram, na verdade, um acirramento muito grande. Deixou claro, e é importante que tudo fica registrado, qual é a linha política e o conteúdo discursivo das forças comandadas pelo PSDB, que é baseada em preconceito, em mentira e numa estratégia que podemos chamar de “estratégia do cinismo”. Eles chegam a afirmar que nenhum corrupto ligado ao PSDB está preso ou foi julgado por incompetência do PT, o que é uma coisa completamente cínica. Esse tipo de ação, as pessoas não têm clareza de como vão lidar com isso. Agora, minha opinião é bastante clara: é preciso mostrar concretamente o que é o PSDB do ponto de vista da corrupção. É inaceitável que a bandeira da corrupção seja tomada por forças da corrupção. É inaceitável.

Não tenho nenhuma dúvida do aparelhamento que (governador de São Paulo) Geraldo Alckmin faz na Sabesp. Isso ficou nítido nas gravações mostrando que eles são capazes de ganhar a eleição, inclusive se for para deixar uma cidade em situação de calamidade. Nós temos que mostrar que eles são uma junção de descompromisso com a democracia, de má gestão de recursos públicos e de corrupção em larga escala, como foi feito em São Paulo. Réus confessos entregaram as provas e o Ministério Público não faz nada. Então, temos que ir para cima disso.

Temos que ir para cima do crime eleitoral cometido pela revista Veja, temos que exigir o julgamento do mensalão mineiro antes que ele prescreva e temos que mostrar toda a ligação que o PSDB tem com crime, com práticas absurdas. Não podemos aceitar. E não vai ser falando “pessoal, o clima de ódio é ruim”. Não. O clima de ódio só vai ser reduzido com argumentos verdadeiros e racionais. Não é pedindo paz e amor, não, mas colocando claramente para as pessoas, insistentemente, as falácias do discurso que eles reproduzem para o Brasil. A gente tem que ser muito claro com isso, porque disso depende a democracia, né?

O sr. acredita que o novo governo possa mudar artigos que dizem respeito à comunicação?

Eu acho que um dos principais pontos da reforma política para o Brasil é a reforma da comunicação. Essa operação da Veja mostra que ela não é um órgão de comunicação, o que ela mostrou claramente é que é uma sala do comitê político do PSDB no Brasil. A revista operou de maneira a desinformar. Ela desinformou. Ela já havia feito isso se ligando a um criminoso chamado Carlos Cachoeira e não aconteceu nada. O cara continua lá na sucursal de Brasília, não foi preso, não foi condenado. Nós precisamos mexer nessas estruturas de concentração econômica de poder, fazer uma reforma da comunicação, uma lei de meios, como a da Argentina. E nós precisamos também de uma reforma política que retire o poder do capital, que retire o financiamento privado de campanha, mas que permita também à gente avançar em questões cruciais da sociedade brasileira. Com uma Constituinte que não possa ser com estes deputados, que tenha que ser exclusiva. O deputado que quiser fazer essa Constituinte só poderá se candidatar para isso, para discutir as ideias e o futuro do país, e não para vir com esquemas que a gente sabe que eles articulam, de grandes corporações, de forças que bancam campanhas milionárias. Precisamos de uma reforma política com uma Constituinte exclusiva e, nesse contexto, uma reforma das comunicações.

Por que os partidos têm tido certa dificuldade em atingir os jovens na internet?

A internet não é contraposta aos partidos, mas é que a velocidade das comunicações e as relações intensas que existem na internet geram muitas dificuldades para os partidos, principalmente para legendas partidárias que são estruturas mais orgânicas. Por exemplo, o PSDB adotou e atuou como estratégia na internet, e não é de agora, de desconstruir seus opositores, no caso o governo federal e o PT.

E os tucanos fazem isso destilando preconceitos e coisas absurdas. Se for ver o que dizem dos nordestinos, dos gays e das opções políticas das pessoas, beira ao fascismo. Agora temos que ver o que os partidos que são propostas democráticas e de esquerda podem refazer utilizando a internet, mas é muito difícil fazer política só pelas estruturas partidárias. Hoje, está muito claro que não é só o partido o elemento que faz política. Há outras formas de se fazer política, inclusive com conexões, grupos e coletivos de ativistas na internet.

29 DE OUTUBRO DE 2014
FONTE BRASIL 247 
http://www.brasil247.com/

Safatle: Brasil retoma 'lugar natural' com sociedade ideologicamente dividida





Filósofo considera que últimos 20 anos representaram hiato em termos de conciliação e que divisão é positiva: 'Nós não estamos no mesmo país', diz, avaliando que voto em Dilma é veto em Aécio




 Apesar da postura crítica ao atual governo, o filósofo Vladimir Safatle avalia que o candidato à presidência pelo PSDB, Aécio Neves, seria incapaz de levar a cabo propostas de melhoria dos serviços públicos, nem as reformas políticas necessárias no país. 
“A esquerda pode ser briguenta, mas não é suicida, então acabamos nos voltando para Dilma, para barrar a possibilidade de o Aécio ganhar”, diz. “Eu não digo que vou votar na Dilma, eu vou vetar o Aécio.”


“Nós temos uma demanda muito grande de mudanças e transformações que jamais poderiam ser encarnadas por um candidato como Aécio Neves. 
Ele promete trazer de volta membros do antigo governo Fernando Henrique Cardoso. 
Eu não imagino um lugar onde um partido perde uma eleição e tempos depois volta com o mesmo grupo”, critica. “A maior característica dessas eleições é que as pessoas se mobilizam mais pelo veto do que pelo desejo de voto.”
SEGUE  >>>

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Os sete mitos das eleições 2014

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, DANIEL BRAMATTI, DANIEL TRIELLI, DIEGO RABATONE, LUCAS DE ABREU MAIA E RODRIGO BURGARELLI

Mais perenes do que qualquer partido ou movimento político, algumas idéias sobre o que move os eleitores se repetem a cada eleição. 
No entanto, dados e detalhamentos das votações desafiam esse senso comum. 
O Estadão Dados analisou 7 erros mais repetidos

Mito 1
Foi o Nordeste que elegeu Dilma
Petista não teve menos de 40% dos votos em nenhuma das 5 regiões do Brasil
É claro que o desempenho de Dilma Rousseff (PT) no Nordeste foi crucial para sua vitória: a petista teve 20 milhões de votos no 2.º turno, equivalente a 72% do total de votos válidos na região. Mas a presidente reeleita obteve um apoio razoável em todas as cinco regiões. O menor porcentual de votos válidos foi no Sul: o apoio de 41% dos eleitores que escolheram um candidato.

A impressão de que o Nordeste sozinho é o grande responsável pela reeleição de Dilma é fortalecida quando se vê o mapa eleitoral dos Estados pintados com a cor de quem teve o maior porcentual de votos ali. Nesse mapa, metade do Brasil aparece pintado de azul, como se esse território tivesse ido em direção totalmente oposta à outra metade, vermelha.

O deputado estadual eleito Coronel Telhada (PSDB-SP) chegou a defender a independência do Sul e do Sudeste por causa disso. Mas, na verdade, dos dez Estados em que Dilma obteve menor votação, apenas três estão nessas regiões: Santa Catarina, São Paulo e Paraná. Todos os outros estão no Norte ou no Centro-Oeste. Visualmente, é possível ver como o apoio a Dilma se espalha pelo Brasil pelo gráfico de relevo ao lado – nenhuma das duas maiores “montanhas” que representam o número absoluto de votos está no Nordeste.






Mito 2


Palanque estadual influencia eleitores
Resultados e pesquisas mostram desconexão entre opção para governador e presidente
Pesquisas e resultados eleitorais voltaram a demonstrar que a maioria dos eleitores não faz conexão entre o voto para presidente e o para governador. Apesar da prática tradicional dos presidenciáveis de buscar “palanques fortes” nos Estados – alianças com candidatos a governador –, não há evidências de que isso renda votos.


Apoiado por praticamente toda a cúpula do PMDB fluminense, Aécio Neves (PSDB) buscou popularizar no Rio a chamada “chapa Aezão”, na esperança de que os eleitores de Luiz Fernando Pezão (PMDB) votassem também nele. Os mapas de votação de ambos, porém, mostram que não houve sintonia eleitoral.
Pesquisa Ibope divulgada pouco antes do 2.º turno mostrou que, dos eleitores de Pezão, seis em cada dez pretendiam votar em Dilma Rousseff. Marcelo Crivella, adversário do peemedebista, fez campanha explícita para Dilma – mas isso não impediu que cerca de 40% de seus eleitores manifestassem intenção de votar em Aécio.


Mito 3
Pesquisas erram resultado da urna
Ibope e Datafolha acertam votação do 2º turno dentro da margem de erro;
números exatos importam menos para institutos
Embora alguns insistam que as pesquisas de intenção de voto consistentemente erram o resultado das urnas, não é o que mostram os dados – tanto os das eleições de domingo quanto os históricos. A vitória de Dilma Rousseff (PT) na disputa pela Presidência foi prevista pelo Ibope, que lhe atribuía 53% da preferência do eleitorado. Dilma recebeu 52% dos votos válidos, portanto dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos porcentuais.

O Datafolha também atribuía favoritismo à petista, embora Dilma estivesse no limite do empate técnico com Aécio Neves (PSDB). Ambos os institutos descreveram, por meio dos números, a campanha do 2.º turno: Aécio começa à frente, carregado pelo embalo do 1.º turno, em que teve votação superior ao esperado. Dilma se recupera na última semana, com uma insuficiente reação de Aécio na véspera do pleito.
Para os institutos de pesquisa, os números exatos importam menos que o movimento descrito pelas curvas de intenção de voto de cada candidato. Sem elas, é impossível analisar qualquer campanha.

Desde 2002, a diferença média da sondagem de véspera do dia da eleição de Ibope e Datafolha para o resultado do 2.º turno é de um ponto porcentual – portanto, dentro da margem de erro. Assim, os institutos acertaram os resultados das eleições em todos os anos, mesmo em 2014, na disputa mais acirrada da história.






Mito 4
Votos nulos são sinal de protesto
Queda nas taxas entre 1º e 2º turnos indica alta incidência de erros no manejo da urna eletrônica
Após os protestos que tomaram as ruas das principais cidades do País em junho de 2013, analistas e cientistas políticos previram aumento significativo de votos nulos na eleição deste ano. Isso não ocorreu: foram 4,4% de nulos em 2010 e 4,6% em 2014 – a comparação leva em conta o 2.º turno de cada disputa presidencial.

É claro que muitos indivíduos podem anular o voto como forma de protesto. Mas as estatísticas indicam que parcela significativa dos nulos se deve a erros
no momento do voto. Uma evidência disso é a diminuição dos votos anulados entre o 1.º e o 2.º turno das eleições – entre uma e outra etapa,
o número de cargos em disputa cai de cinco para apenas um ou dois, o que reduz a complexidade do manejo da urna eletrônica.

Outro indício é o fato de que a taxa de nulos para deputado estadual – o primeiro cargo na ordem de votação – é sempre mais baixa,
já que são contadas como voto na legenda as tentativas equivocadas de digitar os números de presidenciáveis.













Mito 5
Família Campos transfere votos
Pernambuco vota em Dilma, mesmo após apoio do grupo do ex-governador a Aécio
O tucano Aécio Neves lançou sua campanha no 2.º turno em Pernambuco, onde recebeu o apoio da viúva e dos filhos de Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB até agosto, quando morreu em um acidente aéreo. Os líderes do PSDB esperavam que a família Campos e a máquina local do PSB proporcionassem uma vitória para o tucano em um Estado nordestino, assim como havia ocorrido com Marina Silva, primeira colocada no 1.º turno.

A estratégia não deu resultados. Aécio teve entre os pernambucanos 29,8% dos votos válidos, resultado próximo da média que obteve em todo o Nordeste: 28,3%. O tucano ganhou em apenas uma cidade pernambucana: a pequena Taquaritinga do Norte, onde obteve 7.340 votos, 432 a mais do que a petista Dilma Rousseff. Na capital, Recife, onde Marina havia obtido 63% dos votos no 1.º turno, Dilma venceu na 2.ª rodada da disputa por 60% a 40%.







Mito 6
Minas Gerais elege presidente
Só uma vitória improvavelmente distante no seu Estado natal levaria Aécio ao Planalto
Mesmo se ganhasse seu Estado natal, Aécio Neves (PSDB) ainda teria dificuldade em se eleger. Dilma Rousseff (PT) teve 52,4% no Estado e o adversário, 47,6%. Se o tucano tivesse invertido esse resultado e ganhado os 550.601 votos que a rival ganhou a mais em Minas, ainda faltariam 2,3 milhões de eleitores no resto do Brasil. Na votação total de Aécio, Minas representa 11%, menos que a soma de Santa Catarina e Bahia.

Só uma vitória distante em Minas, de 63% a 37%, daria a Aécio os votos necessários para ganhar de Dilma. Com esse resultado – quase igual ao do Estado de São Paulo (64% a 36%) –, ele chegaria a 52.771.137 de votos em todo o Brasil, um a mais que Dilma. Mas uma vantagem tucana como essa não acontece em eleições presidenciais em Minas desde que Fernando Henrique Cardoso ganhou em 1994, no 1.º turno. Naquele ano, derrotou Lula no Estado por 65% a 22%. Nem em sua segunda vitória de 1.º turno, em 1998, Fernando Henrique repetiu o resultado: o placar foi 56% a 28%.










Mito 7
Abstenção é alta e demonstra apatia
Não comparecimento às urnas é um fato muito mais ligado a falhas de cadastro da Justiça do que a desilusão eleitoral
Ao fim de todas as eleições, analistas correm para declarar que cerca de um quinto da população decidiu não votar. O número se baseia na abstenção divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, os votantes que não foram às seções eleitorais. Historicamente, a abstenção gira em torno de 20% e o número não varia muito de eleição para eleição.

Essa análise é falha porque atribui às abstenções um peso político maior que o que de fato têm. Isso porque o suposto não comparecimento às urnas tem mais a ver com uma falha no cadastro eleitoral do TSE que com a falta de engajamento político.

Conforme revela o gráfico abaixo, a abstenção foi menor em 2014 nos municípios que passaram recentemente pelo recadastramento biométrico — em que os eleitores registram na Justiça Eleitoral suas impressões digitais. O recadastramento remove da lista do TSE eleitores que já morreram, e que, naturalmente, não podem aparecer para votar.

sábado, 25 de outubro de 2014

O reacionarismo avança











P.R.Baptista

Com o término do horário eleitoral gratuito e o encerramento pelos meios de comunicação das campanhas políticas a eleição entra em sua fase final a concluir-se com a votação no domingo.
O debate pela rede Globo tem sido, neste ritual, o ato final.
Se no jornal do dia seguinte o canal de televisão não iniciar anunciando quem venceu o debate conforme agiu após o debate Lula-Collor, nisto pelo menos teremos avançado.
E o que fica deste processo?
Seriam vários pontos a considerar mas um que chama a atenção, sem dúvida, é o ressurgimento da corrente de direita.
Lula inclusive em uma de suas empolgadas intervenções declara em tom de blague na eleição de Dilma em 2010 que a direita não se fazia presente como se ela estivesse extinta.. 
Vemos que estava bem enganado.
Acanhada desde o final da ditadura militar, passa pela primeira vez desde então a não só ter voz, falando bem alto, mas a ter receptividade demonstrada pela eleição com votações expressivas de Bolsonaro no Rio, Feliciano em São Paulo e Heinze no Rio Grande do Sul, entre outros, candidatos aberta e assumidamente de direita..
Com o apoio manifestado por esta corrrente a Aécio, o resultado das urnas vai determinar  o espaço que vai ter, inclusive, no governo.
A vitória de Dilma neste aspecto estancaria este avanço  
Já com Aécio certamente iria cobrar seu apoio tendo o candidato, aliás, previamente já aderido a uma das bandeiras da direita, a  redução da maioridade penal.
A campanha pelas redes sociais demonstra ter importância cada vez maior no processo.
E pode-se observar facilmente, pelas intervenções, o tipo de pensamento que dá sustentação ao pensamento de esquerda e de direita.
Qualquer estudante de segundo grau instado a realizar um trabalho escolar de pesquisa poderia distinguir , pela forma das intervenções, o que caracteriza cada um.
Sobretudo pelo tom de agressividade e de negação a aprofundar a relação teórica e histórica dos diferentes temas.
Ou seja, o pensamento de direita que parece ter assomado na política brasileira não seria o pensamento clássico dos teóricos liberais mas a sua versão de enfrentamento, que privilegia a violência e o confronto direto, ou seja, o primado da força.
A reboque desta tendência vem a propaganda de ódio claramente presente em inúmeros momentos.
Nesta discussão entendo,ainda, que dois pontos merecem destaque., a evolução da participação de Marina Silva e do PSB.
Marina Silva tinha saído da eleição anterior em 2010 com mais de 20 milhões de votos e sua isenção no segundo turno naquela ocasião, com a aura de ser uma candidata alternativa,  a credenciavam como uma promissora liderança.
Desta vez prejudicada pela impossibilidade formal de registrar seu partido, candidata-se como vice de Campos e , com a morte deste, torna-se candidata à presidência.
Galgada, num primeiro momento, à condição de virtual vencedora vai, pouco a pouco, tudo indica pela forma vacilante como se comporta, perdendo esta condição até ficar longe de concorrer ao segundo turno.
Culmina com aderir à campanha de Aécio depois de ter manifestado, publicamente, que não lhe daria apoio. 
Se Aécio vencer terá, certamente, um espaço dentro do governo, um ministério a princípio.
Caso contrário fica sozinha para tentar retomar sua carreira política.
De qualquer modo já sem a aura que mantinha.
O outro caso, do PSB, tem pontos em comum,
Apostando numa candidatura própria com Eduardo Campos, liderança com inegável potencial político, vê-se , de uma hora para outra, tendo que decidir o que fazer na sua ausência.
Opta, por influência em grande parte,queremos crer, de Beto Albuquerque, por apostar em Marina mesmo não sendo ela do partido já que sua filiação foi uma formalidade.
A outra alternativa, apoiar o PT foi rechaçada ainda que com importantes dissidências dentro do partido.
Do mesmo que com Marina o resultado das urnas pode determinar se tem um espaço que se supõe substancial no governo, no caso da vitória de Aécio ou, com sua derrota, ao contrário, volta a um estágio de protagonismo político de relevância menor do que tinha até então.
Uma derrota do PT, já afetado por resultados regionais como, por exemplo, as dificuldades que se apresentam  no Rio Grande do Sul na eleição para governador e a derrota na eleição para o senado, pode encaminhar para algum tipo de reformulação interna.
Isto seria até positivo pois esta reformulação estaria se mostrando necessária.
De qualquer modo um segundo mandato de Dilma significaria, também, dar continuidade e, supõe-se, aprofundamento a políticas que tem se demonstrado, dentro do possível, positivas.
Pelo menos, embora quase todas tenham sido atacadas durante o mandato de Dilma, nenhum candidato, especialmente Aécio, declarou que as extinguiria ,  

Em tempo: ao terminar de escrever este texto supunha que seria respeitado aos brasileiros o direito, no recolhimento de seus pensamentos, de processar o volume de informações recebidas durante a campanha eleitoral. No entanto, novamente a Rede Globo de forma aviltante para a inteligência do país, aproveita para explorar matéria da revista Veja fazendo, literalmente, terrorismo de imprensa.  
 

Dyonelio, escritor e amigo

Já comentei noutro momento escrevendo sobre o escritor pelotense Manoel Magalhães, um escritor entre nós , 
a respeito do desconhecimento da obra de Dyonelio Machado.
Considerado pela crítica  um escritor de suprema importância na literatura brasileira, tive o privilégio de conviver com ele enquanto eu era estudante de Física em Porto Alegre.
O escritor e médico morava num amplo apartamento na esquina da Siqueira Campos com a Borges de Medeiros.
Eu tinha ido inicialmente com um grupo de outros estudantes que tinham interesse por literatura.
Eles nunca mais voltaram enquanto eu, mais ou menos uma vez por semana, ia visitá-lo.
Às vezes me oferecia vinho do Porto e ficávamos conversando principalmente sobre Literatura mas Política também era um assunto muito explorado.
Militante do Partido Comunista estivera preso no Rio de Janeiro durante o Estado Novo na mesma época ( não me lembro se no mesmo presídio) em que Graciliano Ramos também esteve preso.
Relatava que tinha sido um período muito difícil mas, pelo menos, como se tornou prática durante a ditadura militar de 64 , não fora torturado.

Tinha uma biblioteca bem grande e sempre estava procurando um livro para discutir.
Entre eles Les Fleurs du Mal do qual gostava de recitar Une Charogne

Alors, ô ma beauté! dites à la vermine
Qui vous mangera de baisers,
Que j'ai gardé la forme et l'essence divine
De mes amours décomposés!

Nesta época eu já tinha comprado uma máquina fotográfica, minha primeira, uma máquina reflex, Lubitel, de fabricação russa.
Cheguei a conversar com Dyonelio a respeito de fotografá-lo mas a idéia não se concretizou.
Trocamos, também, algumas cartas que em algum momento ainda espero achar.
Numa ocasião o visitei em sua casa na praia do Imbé onde veraneava em companhia de sua mulher Adalgisa.
Depois, retornando para Pelotas, fomos perdendo o contato.

Aproveito para transcrever , a título de referência, o trecho final de O Louco do Catí um romance que decorre numa atmosfera que tem um clima cinematográfico.
Talvez por isto o romance foi objeto de um filme,  A Última Estrada da Praia, do diretor gaúcho Fabiano de Souza.

O Louco do Catí ( final)

As ruínas, sim! As ruínas do Catí !... Porque aqueles panos de paredes ( vejam todos! todos! venham ver!); aqueles cacos de paredes que mal se equilibram e em que ele nem quisera reparar, era o Catí! Dum Catí que ele deixara para ver, quando já não era mais do que escombros...
O homem-cachorro de ainda um instante quase não acreditava! Mas afugentara a assombração num relâmpago, para sempre ! ... Queria, dali donde estava, defronte do sol, queria -- era poder estender umas mãos vingativas de gigante, para sentir nos próprios dedos frisados de luz o esfarelar do pó do Catí, do Catí que se esboroava -- lentamente, através esses anos , numa serenidade melancólica de coisa morta, que apenas vive a vida ultrajada de espetro...
Mas sorria... Sorria, na antevisão até dum descanso, na estrada. Sorria diante daquela tarde de ouro, que dourava também a lâmina brilhante do arroio, crescido com as grandes chuvaradas da primavera. Nos olhos, nos lábios frouxos, nos dentes --- uma umidade ouro-pálida ficara lampejando, dourando o seu sorriso.


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Agora, é que se via quanto ainda era moço ...  

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Motim das Mulheres de Mossoró



A participação feminina na política é ainda pouco conhecida se considerarmos as diferentes e, muitas vezes, isoladas situações, em que ela ocorreu.
Uma destas situações teria sido o "Motim das Mulheres de Mossoró" ocorrido durante o Brasil imperial no Rio Grande do Norte.
Fica o registro.

Renato Della Vechia e uma análise do momento político



Entrevista do professor da Universidade Católica de Pelotas e cientista político Renato Della Vechia em que faz uma avaliação das eleições de 2014.
Entendemos de interesse para a discussão política que está estabelecida, aguçada neste momento, no país.
  

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Manoel Magalhães,um escritor entre nós

Manoel Magalhães

P.R.Baptista

Pelotas deve estar se tornando uma grande metrópole.
Conhecia Manoel Magalhães há vários anos mas apenas recentemente acabei tendo oportunidade de conhecer melhor a pessoa e o escritor.
E tanto a pessoa como o escritor deixaram-me uma impressão inteiramente favoráveis, a pessoa pela simplicidade, o escritor pela qualidade dos textos. 
Indagando-lhe sobre sua relação com a literatura repassou-me um comentário que transcrevo.

“Oi... Vamos tentar...
Quis ser escritor mesmo sem saber que desejava isso. Lembro-me de garoto, na praia, dando uma de Anchieta.
 Minha mãe, sempre curiosa acerca do que seus filhos faziam, indagava: estás fazendo o quê: Eu, distraído:
- Escrevendo, mãe.
 Pois é... Eu já escrevia mesmo sem saber que o fazia. Quando tinha 18 anos, disse a mim mesmo: vou ser jornalista.
 Enveredei redação adentro do Diário, parando na frente de Irajá Nunes, que me olhou de cima abaixo.
 Disse a ele:
- Quero o ser jornalista.
 Ele achou curioso aquilo.
Sorriu e respondeu: 
- Senta à mesa e põe um papel na máquina.
 Fiz o que ele mandou...
 E estou agora digitando este texto para ti...
Passaram-se 40 e tantos anos.
Dizem que revolucionei a literatura em Pelotas...
Não sei se tanto.
 O fato é que “Dois Textos Marginais”, lançado em 1995, mudou a face da literatura local, que até então dava voz aos incluídos.
 Minha pequena obra escancarou o gemido dos excluídos.
 Tirou o véu de Maia da Princesa...
 Não sou eu a afirmar isso.
Algumas críticas pontuais (entre as quais Luiz Borges Adão Monquelat e  José Wolfgang Montes Vanucci, escritor boliviano radicado em Pelotas, entre outros), dizem isso.
 Meu primeiro livro, entretanto,  foi Guerra Silenciosa,   contando a desventura de Pedro Osório com a grande enchente de 1992.
Não o considero muito.
 Mas filho é filho, ora bolas! Devo respeitá-lo. 
Depois veio “O abismo na gaveta” (1999), romantizando o poeta marginal Lobo da Costa; O homem que brigava com Deus (2002);  Vampiros (2008)  e por último Senhora do Amor (2013), narrando as peripécias amorosas de Aldo Locatelli, nos anos 50, em Pelotas.  
Não são muitos livros, mas, confesso, contém histórias significativas, as quais, como  “Dois Textos Marginais”,  evocam as sombras da cidade; seus vãos e desvãos; de alguma forma escancarando o lixo humano.
Enveredei algum tempo pelo teatro também, ganhando o Prêmio João Simões Lopes Neto, com a peça "Ah, esses personagens, ou comédia absurda", na linha de Ionesco e cia. “

Avaliamos que o trabalho literário de Manoel Magalhães ainda está à espera de uma divulgação e um reconhecimento mais amplo tanto em Pelotas quanto fora.
Em Pelotas talvez  haja que superar  a dificuldade de tirar o foco do que se produz noutros centros esquecendo o que se tem aqui.
Fora de Pelotas surge a dificuldade de todo escritor de levar sua obra com tiragens pequenas e sem estruturas de divulgação e distribuição bem montadas.
Cabe lembrar que os livros de Manoel são publicados pela Livraria Mundial que, tradicionalmente, tem mantido uma importante relação com os escritores locais.

  Mas, além, da produção textual, Manoel ainda tem  incursões no gênero cinematográfico (roteiros), sendo que alguns foram filmados (a maioria fora de Pelotas) e ainda pela pintura desenvolvendo um rico trabalho no gênero naïf ao qual se refere como “crônicas visuais” nas quais se propõe a narrar aspectos de “nossa Princesa sonolenta”

Por fim, last but not least, Manoel envereda pelo universo da internet criando o blog Cultive-Ler que se sobressai pela qualidade da proposta mantendo um contínuo fluxo de postagens tratando de assuntos diversos como política, filosofia e, inclusive, esporte ( é torcedor áureo-cerúleo), sempre mantendo a qualidade e um foco bem especial na literatura. 

Mais informações sobre o escritor
Jornalista (journalist), escritor (writer) e pintor (painter), editor do Portal Cultiveler.com e dublê de fotógrafo (photographer) e produtor cultural. Seis livros publicados: Guerra Silenciosa – livro-reportagem; Dois Textos Marginais – contos; O Abismo na Gaveta – romance; O Homem que Brigava com Deus – romance; Vampiros - romance; Senhora do amor - romance. Também escreve para teatro e cinema. Em 1982 ganhou o Prêmio João Simões Lopes Neto – gênero teatro, e em 2005, no mesmo Prêmio – gênero contos, foi finalista com o conto A Mosca, publicado na antologia de Contos João Simões Lopes Neto. Como jornalista trabalhou no Diário Popular, Pelotas; no Diário Catarinense, Florianópolis; e Correio Braziliense, Brasília.
Editor do portal http://www.cultive-ler.com/
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A Solidão dos Estádios Cheios

Acompanhando o retorno do time do Brasil depois de ganhar nos penaltis do Brasiliense garantindo o retorno à série C do campeonato Brasileiro,  lembrei-me de vários outros momentos nos quais o xavante proporcionou  à cidade festas como esta.
Momentos de alegria, de júbilo, de festa popular.
Fui também vasculhar, motivado pela oportunidade, cronicas que já escrevi sobre o xavante .
E chamou-me a atenção uma, "A Solidão dos Estádios Cheios", que poderia ser uma espécie de contraponto à euforia


A Solidão dos Estádios Vazios

Muitos anos depois encontro-me quase exatamente no mesmo lugar em que presenciei o meu Gol Inesquecível.
Não me lembro dos detalhes daquele dia mas o estádio devia estar cheio como hoje.
Talvez com menos público, não sei, porque o estádio foi ampliado, não havia, quero crer, esta arquibancada onde me encontro.
Mas o clima, a sensação, guardam semelhanças.
A ausência que sinto é de meu pai mas, ao meu lado, está o meu filho.
Os estádios tornam-me , assim, testemunhos de uma evolução histórica, do passar de gerações.
Observa-se, por exemplo, como dado exterior significativo, uma grande presença de mulheres, fato antes inexistente quando eram poucas, muito poucas, as mulheres que se encorajavam a enfrentar as reações selvagens ( machistas diríamos hoje) da arquibancada.
Esta presença, é interessante lembrar, tem a incentivá-la a gratuidade do ingresso mas a decorrência é um genuíno interesse em presenciar os jogos.
As mulheres são até as que mais se emocionam, o que exteriorizam com intenso alarido.
Algo , no entanto, parece não se alterar.
As reações da torcida no seu todo continuam as mesmas e as mudanças parecem se dar mais a nível de aspectos exteriores do que de algo que se estabelecesse em seu âmago.
E por mais que os torcedores comunguem, durante a breve duração de um jogo, de emoções que parecem uni-los numa grande massa solidária, homogênea e exultante, e deste grande sentimento comum que é torcer por um time, na realidade naqueles momentos, cada um não deixa de estar sozinho consigo mesmo.
E os estádios, nestes momentos, por mais cheios que se encontrem, é como se fossem estádios vazios.
É nisto que penso enquanto contemplo entre reflexivo e melancólico, as sombras avançarem sobre o gramado prenunciando o fim da tarde ( e o fim do jogo) que chega.
Lá dentro absortos em sua missão, alguns homens fardados de calções e camisetas coloridas andam de um lado para o outro buscando acordar a grande massa, acotovelada nas arquibancadas e silenciosa, com algum lance que os faça se sentirem justificados de estarem presentes.
Enquanto isto não acontece dá a impressão de que reina no estádio um grande silêncio, mas na realidade é um silêncio imaginário porque há gritos e um grande batuque.
Mas acima desta agitação paira a grande solidão do estádio.
Pelo menos até que, nos minutos de desconto, o time da casa, de camisetas vermelhas, faz o gol de empate ( pois a vitória ficou inacessível).
Neste momento, por uns instantes, uns breves instante, a solidão pareceu dissipar-se e todos ficamos juntos, unidos, lado a lado, superiores a tudo, superiores à própria solidão, à grande solidão dos estádios cheios.(P.R.Baptista)

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Momento histórico da Política e do Jornalismo Brasileiro



Leonel Brizola, único brasileiro a governar 2 dois estados do Brasil (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro) foi um  político adiante de seu tempo pregando e implementando no Rio Grande do Sul, na década de 50,  reforma agrária e educação integral. 
Teve uma carreira política cheia de lutas e de enfrentamentos com adversários formidáveis, em especial a ditadura militar e a Rede Globo.
Ficou célebre com relação à Rede Globo o direito de resposta concedido a Leonel Brizola, transmitido pelo Jornal Nacional, cujo vídeo e cujo teor reproduzimos.
Num momento em que ocorre uma disputa eleitoral para presidente e governadores é bem pertinente ter presente fatos como esse de nossa história recente envolvendo o papel, como diz Brizola "imperial e manipulador" da Rede Globo. 

DIREITO DE RESPOSTA

‘Todos sabem que eu, Leonel Brizola, só posso ocupar espaço na Globo quando amparado pela Justiça. Aqui citam o meu nome para ser intrigado, desmerecido e achincalhado perante o povo brasileiro. Quinta-feira, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar editorial de ‘O Globo’, fui acusado na minha honra e, pior, apontado como alguém de mente senil. Ora, tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador Roberto Marinho, que tem 86 anos.

 Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que o use para si. Não reconheço à Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos, que dominou o nosso país. Todos sabem que critico há muito tempo a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. 
Mas a ira da Globo, que se manifestou na quinta-feira, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípios. É apenas o temor de perder o negócio bilionário, que para ela representa a transmissão do Carnaval. Dinheiro, acima de tudo. 
 Em 83, quando construí a passarela, a Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar de todas as formas o ponto alto do Carnaval carioca. Também aí não tem autoridade moral para questionar. 
E mais, reagi contra a Globo em defesa do Estado do Rio de Janeiro que por duas vezes, contra a vontade da Globo, elegeu-me como seu representante maior.

 E isso é que não perdoarão nunca. Até mesmo a pesquisa mostrada na quinta-feira revela como tudo na Globo é tendencioso e manipulado. Ninguém questiona o direito da Globo mostrar os problemas da cidade. Seria antes um dever para qualquer órgão de imprensa, dever que a Globo jamais cumpriu quando se encontravam no Palácio Guanabara governantes de sua predileção. 
 Quando ela diz que denuncia os maus administradores deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante do seu poder. 

 Se eu tivesse as pretensões eleitoreiras, de que tentam me acusar, não estaria aqui lutando contra um gigante como a Rede Globo. 
Faço-o porque não cheguei aos 70 anos de idade para ser um acomodado. 
 Quando me insulta por nossas relações de cooperação administrativa com o governo federal, a Globo remorde-se de inveja e rancor e só vê nisso bajulação e servilismo. 
É compreensível: quem sempre viveu de concessões e favores do Poder Público não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesma. 
 Que o povo brasileiro faça o seu julgamento e na sua consciência lúcida e honrada separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis, gananciosos e interesseiros.’ 

 Leonel Brizola

Leituras no Meio da Noite : "Tristes Considerações" (Marcelo Ariel)

Marcelo Ariel

" (....) Os partidos que aí estão, contudo, não acreditam na democracia. Acham que o marketing basta. Tripudiam sobre os fatos. Não acreditam na política, só na sedução publicitária(....) " Eugênio Bucci jornalista e professor da ECA-USP

Algumas tristes considerações sobre o debate anódino com os dois candidatos ao cargo de presidente da república transmitido pelo SBT , os candidatos não disseram nada sobre a urgente implementação de um programa de renda mínima ( que iria erradicar a mendicância e outros sérios problemas sociais em um período médio de tempo ) nenhuma palavra sobre a descriminalização das drogas ( que iria praticamente 'pacificar' boa parte das zonas de conflito das cidades e ainda criar um sistema de geração de recursos que poderiam ser usados como suplementação na saúde para tratar os próprios dependentes químicos ) nenhuma palavra sobre a legalização do aborto e sobre uma política de contracepção , nenhuma palavra sobre Cultura ( uma área sempre desconsiderada nestes debates), nenhuma palavra sobre a demarcação das terras indígenas e nenhuma proposta sobre como por fim ao desenfreado desmatamento da Amazônia , não foi debatido nenhum ponto, nem apresentada nenhuma proposta concreta capaz de viabilizar reformas urgentes como a política, administrativa,do judiciário e educacional ( a instituição gradual da comunidade de ensino no lugar do falido sistema de escolas antiquadas, burocratizadas e repressoras por exemplo). nenhuma palavra sobre como implantar melhorias no sistema único de saúde num país onde mulheres dão a luz em corredores de hospitais públicos... 
Sugiro aos candidatos no lugar da leitura dos pareceres do Tribunal de Contas da União e do Tribunal de Contas do Estado de Minas, a leitura deste precioso livro de A. Schopenhauer

domingo, 19 de outubro de 2014

Fronteiras da Imagem

A METADE SUL a intervalos comentará algum aspecto relativo à arte e à cultura, especialmente Fotografia.

Já comentamos sobre Marcelo Soares, que desenvolve um bem focado trabalho fotográfico.
Pois voltamos a divulgar uma foto sua que nos chamou a atenção e a respeito da qual nos ocorre dizer que oferece um interessante e criativo jogo de planos exigindo do espectador uma leitura mais detida. 

A foto joga com o tempo e com o espaço através de instâncias do real e da representação do real, tudo perpassado pela intervenção, de certo modo como metalinguagem , proporcionada pela própria fotografia.

Pode levar um tempo para que o espectador se encontre ou talvez nunca se sua capacidade de fabulação ultrapassar ou não as fronteiras da imagem e o levar ou não para um inspeção mais detalhada.

A nominarmos rapidamente o resultado talvez se pudesse dizer que se acomoda um pouco dentro do que já se chamou de surrealismo dentro do real.

O que acaba sendo na foto muito instigante e, a meu ver, o motivo mais evidente do interesse que provoca.


P.R.Baptista

Os Americanos estão chegando ?

Em documento, Aécio prega acordo 'urgente' com EUA e fim do Mercosul.

Retomar a Alca e o fim do Mercosul entra no rol das possíveis 'medidas impopulares' do candidato tucano, que quando presidente da Câmara cobrou a assinatura imediata de acordo de livre comércio com Casa Branca.

A declaração foi feita em recente passagem por Porto Alegre, para uma palestra durante o chamado Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
Isto poderia estar sinalizando, também. para o esvaziamento da aproximação que  Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul vem mantendo e que prevê a  criação de um  Banco de Desenvolvimento e acordo de Reservas de Contingência.

A iniciativa é vista como uma estratégia para fugir do esquema financeiro global traçado em 1944, em Bretton Woods

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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Paris, uma Pelotas européia?

As cidades européias, especialmente Paris e Londres, com o incremento considerável de viagens de brasileiros, passaram a ser maciçamente motivo de deslumbramento e fascinação tornados públicos através de fotos e palavras postados nas redes sociais.
No caso de Pelotas esta relação toma uma feição muito própria em razão do conceito, frequentemente manifestado, da cidade ser uma espécie de sucursal cabocla da capital francesa.
Mantemos até mesmo, com sua torrezinha de ferro assomando por cima do Mercado Central, um simulacro da torre Eiffel a simbolizar, de forma ingênua, esta vontade de declararmos nossa consanguinidade.
Mas, a seguir uma certa lógica, também não poderíamos considerar Paris uma Pelotas européia?
O que se vê aqui , parece fazer sentido, também se veria lá, como se Pelotas e Paris fossem uma o espelho da outra, nas virtudes e nos defeitos.
E quando apontamos , por exemplo, o desleixo da nossa população em jogar lixo na rua é no sentido de ser um procedimento próprio de quem não assimilou inteiramente os padrões europeus de urbanidade que teriam de ser almejados..
Esta linha de raciocínio, no entanto, pode nos levar a contradições.
Num dado momento pretendemos ser europeus, parisienses em particular, por aspectos da arquitetura e da cultura que insistimos em chamar a atenção que lembram o Velho Mundo, mas, ao mesmo tempo, persistem em nós traços que carregamos e que nos afastam dessa excelência.
Estes traços, como fazem alguns , podemos atribuir aos portugueses, aos nossos olhos por vezes uma espécie de europeus menos evoluídos, aos negros ou aos  índios, dependendo da oportunidade.
Seja como for conspurcam a pureza de nossas origens européias franco-anglo-saxônicas.
Em razão deste entendimento confundia-me, portanto, toda a vez que encontrava uma situação na qual estes aspectos se mostravam contraditórios.
Ainda não sei como explicar, por exemplo, o costume francês de fumar de forma ostensiva e intensamente em todos os lugares.
E muito menos o de jogar as pontas dos cigarros por toda a parte.
Há cinzeiros até nas ruas, nas calçadas, para contornar este hábito mas a preferência pode recair, como na foto, em lugares pouco indicados transformados em cinzeiros públicos.
Fico, então, sem saber.
Seria este um costume de "primeiro mundo"  a ser imitado?
Ou mantemos a forma cabocla que temos progressivamente assimilado de dar destino adequado aos tocos de cigarros, fumar apenas em lugares autorizados ou nem fumar?
E me pergunto.
Seria Pelotas uma Paris brasileira?
Ou Paris uma Pelotas européia?

(P.R.Baptista)


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"Convivência incestuosa"

Antonio Ernani Pinto, em correspondência enviada para A METADE SUL, relata sua experiência ao tomar segundo informa, há uma semana, ônibus da linha Porto-Cohabpel, que é concedida à Empresa Auto Viação Santa Rosa. 
São suas palavras:
"Eram cerca de 16 horas. O veículo é sujo, parece que vai se desmanchar e com um barulho do motor interno ensurdecedor.
Sentei-me num banquinho, que fica ao lado da porta da frente. Não cabia o meu pé (42). Esse veículo deve ter, no mínimo, uns 10 anos. Que serviço deficiente! Eu penso que esta avaliação deveria ser feita pelos nossos dirigentes municipais, que estão encarregados de administrar o município em favor da população. Pelo menos deveriam estar. 
O transporte coletivo deve ser uma das preocupações da administração municipal. Se avaliar o ruído, aquele ônibus só pode ser reprovado. Ele não pode circular pelo prejuízo que causa ao passageiro. Não me venham com a conversa da nova licitação. Há quantos anos esse mesmo grupo é governo na cidade? E nada é feito. Essa tolerância com as empresas de transporte coletivo, em prejuízo de toda a população que necessita usar este serviço, é o que eu chamo de uma "convivência incestuosa", podre, maléfica. 
Quando é que um Prefeito vai colocar a mão nisso e resolver em favor do povo pelotense? 
E senhores vereadores?
E o Ministério Público?
Vou encaminhar ao MP solicitação de vistoria no ruído desses ônibus!"

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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Chuva


Cena de uma manhã de domingo chuvoso, muito chuvoso, em Pelotas.
Cenas que Marcelo Soares tem captado com aguçado senso fotográfico.
Já comentamos brevemente em A METADE SUL alguma coisa sobre seu trabalho.
Seria interessante rever em Marcelo Soares, um talento da fotografia em Pelotas.